São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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NÓ CAMBIAL

Para especialistas, medidas facilitam operações de câmbio e comércio exterior, mas terão efeitos limitados nos rumos da moeda

Analistas minimizam impactos no dólar

Marcelo Ximenez - 7.dez.04/Folha Imagem
Operadores na Bolsa de Mercadorias & Futuros, em São Paulo


DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas anunciadas ontem pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) ajudam a desburocratizar as operações de câmbio, reduzem custos e simplificam a vida de exportadores e importadores, afirmam analistas consultados pela Folha.
As medidas não terão impacto no fluxo de divisas, ou seja, não devem entrar ou sair mais dólares por conta das mudanças anunciadas ontem em Brasília.
Na prática, a unificação cambial apenas reduz os trâmites burocráticos aos quais está sujeito quem opera no mercado de câmbio. Com a redução dos trâmites, caem também os chamados "custos de transação", ou seja, os gastos das empresas com a burocracia exigida para enviar ou trazer divisas estrangeiras para o Brasil.
"São medidas positivas", avalia Natan Blanche, analistas da Tendências Consultoria. Ele faz, no entanto, a ressalva de que as medidas não acabam com o que ele chama de "entulho cambial", ou excesso de regulação no mercado de câmbio brasileiro.
Blanche lembra, por exemplo, que um exportador que também importa é proibido de compensar os dólares que precisa pagar pelas compras externas com as receitas de exportação. "Ele precisa trazer os dólares, pagar CPMF e depois remeter dólares para pagar as importações, pagando CPMF novamente", explica.
Na avaliação dele, mesmo com as simplificações anunciadas ontem, há excesso de regulamentação no câmbio. A regulação, diz Blanche, podia não ser problema quando o Brasil era uma economia relativamente fechada, mas hoje, com o fluxo de comércio (soma das exportações com as importações) em quase 30% do PIB (Produto Interno Bruto), "não faz sentido todo esse entulho cambial".

Unificação cambial
Entre o setor exportador, a reação com as novas medidas foi de otimismo moderado. "Teoricamente, ao se unificar o câmbio, deve haver um equilíbrio maior na cotação. A unificação é, em princípio, bem-vinda. Mas, como sempre, é o mercado que vai definir o comportamento do câmbio", afirmou José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
Para o presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), Roberto Segatto, as medidas vieram com um certo atraso. "É uma medida desburocratizante que atende a alguns pleitos do nosso setor, mas isso [a unificação] já deveria ter sido feito há muito mais tempo", afirma Segatto.
O mesmo parecer é partilhado por Júlio Gomes de Almeida, diretor do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "Por que não foi feito antes? Essa é a questão que fica. O anúncio trouxe boas novidades, mas, na prática, a cotação deve mudar muito pouco", avaliou.
Desde o início do movimento de apreciação do real, que se intensificou a partir do final do ano passado, os setores ligados ao comércio exterior brasileiro se queixam da perda de competitividade das exportações.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e outras entidades setoriais têm feito pressão para que o governo promova medidas para conter a valorização da moeda brasileira.
"Nós apoiamos essas medidas. Elas ajudam, mas certamente não vão resolver a questão do câmbio", argumentou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Sobre os prazos maiores para a internalização de dólares -os exportadores terão um período maior após o embarque das mercadorias para fazê-lo-, o presidente da Fiesp também se declarou favorável.
Já para Emilio Garofalo Filho, ex-diretor da área externa do BC e consultor, as medidas anunciadas pelo BC para o prolongamento desses prazos são praticamente inócuas com a atual condução da política monetária. "Com essa taxa de juros tão elevada, o exportador vai vender os dólares de qualquer jeito. Com juro tão alto, poucos exportadores vão aproveitar essa prerrogativa de vender dólares 210 dias depois", afirma.
Ele argumenta ainda que a volatilidade cambial também é outro fator que pode suavizar o impacto da medida. "O exportador pode não se beneficiar agora dessa medida. O exportador vai querer vai vender o mais rápido possível o câmbio. Ninguém garante que a variação cambial será superior ao ganho que terá com as taxas de juros", afirma.


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