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CRISE NO AR
Vice sugerirá a Lula "encontro de contas" com empresas, que trocariam dívidas com a União por valor a receber em ações judiciais
Alencar defende acordo com aéreas na Justiça
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente da República
e ministro da Defesa, José Alencar, defende que o governo faça
um acordo na Justiça com as aéreas e desista de recorrer das
ações nas quais essas empresas
pedem ressarcimento por perdas
provocadas por planos econômicos entre os anos de 1985 e 1992
-causadas por congelamento ou
reajuste inferiores aos necessários
nas passagens.
"É melhor um mau acordo do
que uma boa demanda", disse, citando um ditado. Ele defendeu o
acordo após se reunir com o presidente do STJ (Superior Tribunal
de Justiça), ministro Edson Vidigal, e com presidentes das empresas, na sede do tribunal. "Achamos que já que há vontade das
partes. Deve acontecer o acordo",
disse o vice-presidente.
Alencar ressaltou que ainda iria
conversar com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e com o advogado-geral da União, ministro Álvaro Ribeiro Costa. Ontem, a assessoria de imprensa da AGU
(Advocacia Geral da União) informou que não poderia nem sequer confirmar se o vice-presidente havia conversado com o advogado-geral.
O acordo extrajudicial era uma
posição que já vinha sendo defendida pelo presidente do STJ. Vidigal argumenta que o governo vem
perdendo sucessivamente em várias ações movidas pelas empresas. Ele defende um acordo e cita
como exemplo o que foi feito no
caso da correção do saldo do
FGTS, quando o governo decidiu
abrir mão de continuar recorrendo à Justiça.
Ontem, o presidente do STJ voltou a defender o acordo. Ele disse
que o governo não deveria "ficar
empurrando com a barriga", porque depois iria "montar uma dívida que não vai ter mais tamanho
para os nossos filhos e os nossos
netos pagarem". Segundo Vidigal, para fechar o acordo, as empresas poderiam dar um desconto no momento de fazer a correção da dívida.
O acordo extrajudicial faria parte do que vem sendo chamado de
"encontro de contas" no processo
de negociação da Varig com o governo federal. Por essa estratégia,
o governo aceitaria abater parte
das dívidas das empresas aéreas
com estatais no mesmo valor que
elas teriam direito a receber na
Justiça pelas perdas provocadas
pelos planos econômicos.
No caso da Varig, objeto de tentativas de reestruturação, isso seria insuficiente. A dívida total da
empresa supera R$ 9 bilhões
-valor bem acima dos R$ 2,5 bilhões que a empresa estima receber do governo e com decisão favorável do STJ. O governo é o
principal credor da Varig. Com o
INSS a dívida é de aproximadamente R$ 1,7 bilhão e, com a Receita Federal, de R$ 2,6 bilhões.
Novela
O plano de salvação da Varig já
teve várias versões. Na gestão do
ex-ministro da Defesa José Viegas
o governo chegou a preparar um
plano de intervenção na empresa,
que seria dividida em duas, e depois a parte boa seria vendida. Esse plano foi arquivado.
Já na gestão de Alencar, com o
Unibanco e a Trevisan assessorando a Varig, o ministro chegou
a dizer que o plano de reestruturação passaria pela conversão das
dívidas dos credores da Varig em
ações. Isso significaria uma estatização, ainda que temporária, da
empresa, já que o principal credor
é o governo federal.
Essa hipótese também foi descartada, quando o governo e a Varig começaram a trabalhar com a
hipótese de usar a nova Lei de Falências para elaborar um novo
projeto. O Unibanco elaborou
uma proposta na qual, para salvar
a Varig, seria preciso dar um desconto de 70%, a valor presente, do
total da dívida da aérea. O Ministério da Fazenda já recusou essa
proposta.
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