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TANGO DA DÍVIDA
Fundo vê resultado como "muito bom", mas deverá pedir reabertura da renegociação para os demais credores
FMI sinaliza aprovação à troca argentina
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O FMI (Fundo Monetário Internacional) classificou ontem como
"muito bom" o resultado da troca
da dívida pública argentina
-76% de adesão dos credores,
anunciado anteontem.
O organismo havia estabelecido
percentual mínimo de 75% de
aceitação da proposta, para considerar o país vizinho livre da moratória. A avaliação positiva divulgada pelo subgerente do Fundo, Austín Carstens, no entanto,
não significa reconhecimento oficial pelo organismo da saída da
moratória argentina.
Carstens afirma que o FMI ainda tem de "analisar todos os detalhes e o montante que ficou fora
da negociação". Amanhã, quando
se encontrará em Washington
com o diretor do FMI, Rodrigo
Rato, o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, provavelmente ouvirá um pedido para
reabrir a troca, possibilitando a
adesão dos 24% de credores que a
recusaram.
O representante da Argentina
diante do FMI, Héctor Torres,
disse ao jornal "Clarín" que o país
tem uma resposta pronta para este pedido: "Por acaso você conhece algum credor argentino que
não aderiu à troca e esteja arrependido, querendo entrar?".
O governo vizinho estima que
os credores que rechaçaram a
oferta estão dispostos a ir à Justiça
tentar recuperar seus investimentos. "Eles vão para o litígio", disse
Torres. O italiano Nicola Stock,
presidente do Comitê Global de
Detentores de Títulos Argentinos,
afirmou ontem que o Comitê está
"oferecendo assistência legal aos
investidores".
Durante a renegociação da dívida argentina, Stock tentou, sem
sucesso, barrar a troca num tribunal de Nova York e no tribunal de
arbitragem do Banco Mundial para a proteção de investimentos. O
investidor considera "mesquinha" a oferta argentina , que obteve desconto de 65% da dívida.
Com o comentário de ontem,
Carstens sinalizou ao governo argentino que a relação do país com
os credores contrários à oferta será um ponto central na retomada
do diálogo do país vizinho com o
FMI. A Argentina pretende retomar seu acordo com o Fundo, que
está suspenso.
Os novos títulos da dívida argentina começaram a ser informalmente negociados ontem, no
chamado "mercado cinza". A cotação -de US$ 34,8 (R$ 92,9) por
lote de cem bônus- é informal,
porque os títulos somente serão
lançados oficialmente no próximo dia 1 de abril.
Ontem, dia seguinte ao anúncio
feito pelo presidente Néstor
Kirchner do índice de adesão à
oferta, predominaram na Argentina as reações de entusiasmo
com o resultado, que reduziu a dívida pública em moratória de US$
102,5 bi para US$ 35 bi.
"A troca da dívida em moratória é um passo transcendental para o nosso país", avaliou a Associação Empresarial Argentina.
Kirchner, que adotou atitude vitoriosa no anúncio, continuou recebendo louros pela operação. A
União Operária Metalúrgica publicou anúncio no jornal "Clarín"
com a mensagem: "Força, presidente. Vamos juntos por trabalho
e produção".
Entre os desafios do futuro imediato do país, o controle da inflação começa a se configurar como
um problema. Com a alta de 1%
em fevereiro, divulgada anteontem, a inflação acumulada no ano
é de 2,5%. O resultado já ameaça
ultrapassar a meta anual fixada
pelo governo -entre 7% e 10%.
A alta da inflação de fevereiro
foi puxada sobretudo pelo aumento de preços de alimentos. A
preocupação para os próximos
meses é que haja pressão inflacionária decorrente do provável aumento de emissões de moeda pelo
Banco Central, para sustentar a
competitividade do câmbio, com
o dólar no patamar de 2,90 pesos.
Eventuais aumentos de inflação
terão reflexo também na nova dívida argentina, já que o Bônus
Quase-Par -um dos três papéis
lançados- tem emissões exclusivamente em pesos e é corrigido
pelo índice de inflação.
Para manter regularizados os
pagamentos da nova dívida -cujos juros serão de US$ 3,2 bilhões
(R$ 8,5 bilhões) por ano-, a Argentina tem pela frente o desafio
de sustentar uma série histórica
de superávit em torno de 3% e um
crescimento anual de cerca de 6%,
segundo a estimativa de analistas.
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