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Mercado reagiu bem à renegociação, diz analista
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Investidores e analistas nos
EUA reagiram bem ao resultado
da reestruturação da dívida argentina, diz o economista-chefe
do HSBC para a América Latina,
Paulo Vieira da Cunha, para
quem a solução de Buenos Aires
foi "realista" e acabou favorecida
pelas condições do mercado.
Folha - Como o mercado aqui está
recebendo o resultado?
Paulo Vieira da Cunha - Muito
bem. O número é bastante expressivo, e acho que a negociação
[dos papéis] da dívida já começou
e está bastante positiva, uns cem
pontos-base acima dos papéis do
Brasil. Embora a Argentina vá ficar ainda como uma relação dívida-PIB alta, de cerca de 80%, a
composição vai ser bastante favorável. E o papel pode melhorar
mais ainda com a expectativa de
apreciação do peso argentino no
curto prazo e uma opção do pessoal de trocar essa dívida por uma
dívida em pesos.
Folha - Buenos Aires terá de reconsiderar quem ficou fora?
Cunha - Proibir terminantemente qualquer aceitação desses títulos [não trocados] fica complicado, pode criar problemas legais
para a própria Argentina. Acho
que o que eles vão fazer é reabrir
em condições como essas ou piores e com isso manter para o FMI
e as associações internacionais de
traders essa postura de que não
estão ignorando a dívida.
Folha - O total surpreendeu?
Cunha - Achávamos que a possibilidade de conseguir algo em torno de 65%, 70% era muito forte.
Há um mês já achávamos que poderia ficar acima de 75%. A nossa
posição é que a atitude argentina,
embora severa, foi realista, pois a
situação fiscal de longo prazo não
é positiva. Eles não tinham condição de prometer um superávit
primário como o do Brasil ou o do
Chile, e é extremamente difícil você prometer algo que dependa de
reformas difíceis de serem feitas.
Folha - Esse resultado influenciará outros países emergentes?
Cunha - Acho que abre um precedente importante, que era o que
o Departamento do Tesouro dos
EUA queria: eliminar a idéia de
que há sempre um Fundo Monetário, um Tesouro americano, alguém que vá ajudar os credores.
Foi muito importante criar uma
situação na qual esse mercado seja [tratado] como os demais, porque o grande erro em relação à
Argentina foi um erro de avaliação dos credores. No final, já era
uma situação em que claramente
não se ia pagar, mas porque todo
mundo achava que eles iam continuar estendendo, foi se fazendo
um empréstimo quase irresponsável para a Argentina.
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