São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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Mercado reagiu bem à renegociação, diz analista

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Investidores e analistas nos EUA reagiram bem ao resultado da reestruturação da dívida argentina, diz o economista-chefe do HSBC para a América Latina, Paulo Vieira da Cunha, para quem a solução de Buenos Aires foi "realista" e acabou favorecida pelas condições do mercado.

 

Folha - Como o mercado aqui está recebendo o resultado?
Paulo Vieira da Cunha -
Muito bem. O número é bastante expressivo, e acho que a negociação [dos papéis] da dívida já começou e está bastante positiva, uns cem pontos-base acima dos papéis do Brasil. Embora a Argentina vá ficar ainda como uma relação dívida-PIB alta, de cerca de 80%, a composição vai ser bastante favorável. E o papel pode melhorar mais ainda com a expectativa de apreciação do peso argentino no curto prazo e uma opção do pessoal de trocar essa dívida por uma dívida em pesos.

Folha - Buenos Aires terá de reconsiderar quem ficou fora?
Cunha -
Proibir terminantemente qualquer aceitação desses títulos [não trocados] fica complicado, pode criar problemas legais para a própria Argentina. Acho que o que eles vão fazer é reabrir em condições como essas ou piores e com isso manter para o FMI e as associações internacionais de traders essa postura de que não estão ignorando a dívida.

Folha - O total surpreendeu?
Cunha -
Achávamos que a possibilidade de conseguir algo em torno de 65%, 70% era muito forte. Há um mês já achávamos que poderia ficar acima de 75%. A nossa posição é que a atitude argentina, embora severa, foi realista, pois a situação fiscal de longo prazo não é positiva. Eles não tinham condição de prometer um superávit primário como o do Brasil ou o do Chile, e é extremamente difícil você prometer algo que dependa de reformas difíceis de serem feitas.

Folha - Esse resultado influenciará outros países emergentes?
Cunha -
Acho que abre um precedente importante, que era o que o Departamento do Tesouro dos EUA queria: eliminar a idéia de que há sempre um Fundo Monetário, um Tesouro americano, alguém que vá ajudar os credores. Foi muito importante criar uma situação na qual esse mercado seja [tratado] como os demais, porque o grande erro em relação à Argentina foi um erro de avaliação dos credores. No final, já era uma situação em que claramente não se ia pagar, mas porque todo mundo achava que eles iam continuar estendendo, foi se fazendo um empréstimo quase irresponsável para a Argentina.


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