São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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CONJUNTURA
Só exportações podem recompor reservas, diz ministro
Celso Lafer prevê superávit de US$ 4,5 bi na balança comercial

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Na expectativa de superávit na balança comercial em 1999 de até US$ 4,5 bilhões, o ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer, acha que só as receitas de exportação podem recompor as reservas do país e aumentar as margens de liberdade da economia brasileira.
Em entrevista exclusiva à Folha, Lafer deixou claro que o Brasil não pode contar com o dinheiro de investidores para refazer suas reservas. As receitas de exportação "não são voláteis, são sólidas". "Precisamos recuperar essas receitas."
Para chegar a esse objetivo, ele diz contar com dois instrumentos, o BNDES (subordinado a seu ministério) e a Camex (da estrutura da Presidência da República).
A médio prazo, Lafer afirma querer transformar o BNDES num Eximbank (nos EUA e outros países, agência governamental independente que ajuda a financiar as exportações de bens e serviços).
A curto prazo, confia na formulação pela Camex e por seus técnicos de "soluções engenhosas" para otimizar os recursos existentes nas difíceis condições atuais.
Qualquer estratégia imediata, no entanto, depende da superação das incertezas sobre o que está vindo pela frente na economia.
Na área externa, nada é mais importante do que o acordo com o FMI, que deve sair este mês.
"O Fundo é o referencial externo e é nesse referencial que precisamos nos basear para poder lidar com as incertezas e o "overshooting" do câmbio", argumenta.
Embora sejam evidentes as diferenças entre as economias do Brasil, da Rússia e dos tigres asiáticos, as características do mercado financeiro fazem com que seja difícil um país se diferenciar.
"Até o fim dos anos 80, bastava explicar os dados macroeconômicos a um consórcio de grandes bancos. Hoje, há uma pulverização de agentes financeiros, e essa pulverização significa que eles operam com indicadores muito simplificados", afirmou Lafer.
Para esses agentes, só um sinal claro de aprovação do FMI às políticas de um país lhe dá crédito.
Na avaliação de Lafer, o Brasil vem caminhando na direção do equilíbrio fiscal de maneira consistente e se mantém na rota.
Cita como exemplos: o superávit primário de 1998 maior do que o de 1997, o sistema financeiro com provisões 25% superiores ao mínimo legal, a relação capital/ativo da ordem de 11%, dentro dos limites aconselhados internacionalmente.
Mesmo nos Estados, ele vê essa linha: em 1995, só quatro Estados gastavam menos de 60% de sua receita líquida com pessoal (como determina a Lei Camata); agora, há 11 deles nessa condição.
Se prosseguir nesse caminho, o Brasil poderá chegar a condições como as da Espanha às vésperas do bem-sucedido Pacto de Moncloa. "Não foi por acaso que Moncloa deu certo, porque a população espanhola tendia para o equilíbrio."
Em janeiro, o ministro esboçou a articulação de um pacto para conter a expectativa inflacionária, mas a iniciativa não parece ter encontrado muita receptividade.
Numa espécie de balanço de seus primeiros meses à frente do ministério concebido para ter outro nome (Produção) e ocupante (Luiz Carlos Mendonça de Barros), Lafer diz que "as coisas estão indo".
Na coluna de vitórias, cita a redução da TJLP do BNDES, a prorrogação por seis meses da isenção do IPI sobre bens de capital, a preservação dos dois conceitos básicos da Lei Kandir, de modo a impedir o Brasil de exportar impostos.


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