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CONJUNTURA
Só exportações podem recompor reservas, diz ministro
Celso Lafer prevê superávit de US$ 4,5 bi na balança comercial
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Na expectativa de superávit na
balança comercial em 1999 de até
US$ 4,5 bilhões, o ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer, acha
que só as receitas de exportação
podem recompor as reservas do
país e aumentar as margens de liberdade da economia brasileira.
Em entrevista exclusiva à Folha,
Lafer deixou claro que o Brasil não
pode contar com o dinheiro de investidores para refazer suas reservas. As receitas de exportação "não
são voláteis, são sólidas". "Precisamos recuperar essas receitas."
Para chegar a esse objetivo, ele
diz contar com dois instrumentos,
o BNDES (subordinado a seu ministério) e a Camex (da estrutura
da Presidência da República).
A médio prazo, Lafer afirma querer transformar o BNDES num
Eximbank (nos EUA e outros países, agência governamental independente que ajuda a financiar as
exportações de bens e serviços).
A curto prazo, confia na formulação pela Camex e por seus técnicos de "soluções engenhosas" para
otimizar os recursos existentes nas
difíceis condições atuais.
Qualquer estratégia imediata, no
entanto, depende da superação
das incertezas sobre o que está vindo pela frente na economia.
Na área externa, nada é mais importante do que o acordo com o
FMI, que deve sair este mês.
"O Fundo é o referencial externo
e é nesse referencial que precisamos nos basear para poder lidar
com as incertezas e o "overshooting" do câmbio", argumenta.
Embora sejam evidentes as diferenças entre as economias do Brasil, da Rússia e dos tigres asiáticos,
as características do mercado financeiro fazem com que seja difícil
um país se diferenciar.
"Até o fim dos anos 80, bastava
explicar os dados macroeconômicos a um consórcio de grandes
bancos. Hoje, há uma pulverização
de agentes financeiros, e essa pulverização significa que eles operam com indicadores muito simplificados", afirmou Lafer.
Para esses agentes, só um sinal
claro de aprovação do FMI às políticas de um país lhe dá crédito.
Na avaliação de Lafer, o Brasil
vem caminhando na direção do
equilíbrio fiscal de maneira consistente e se mantém na rota.
Cita como exemplos: o superávit
primário de 1998 maior do que o
de 1997, o sistema financeiro com
provisões 25% superiores ao mínimo legal, a relação capital/ativo da
ordem de 11%, dentro dos limites
aconselhados internacionalmente.
Mesmo nos Estados, ele vê essa
linha: em 1995, só quatro Estados
gastavam menos de 60% de sua receita líquida com pessoal (como
determina a Lei Camata); agora, há
11 deles nessa condição.
Se prosseguir nesse caminho, o
Brasil poderá chegar a condições
como as da Espanha às vésperas do
bem-sucedido Pacto de Moncloa.
"Não foi por acaso que Moncloa
deu certo, porque a população espanhola tendia para o equilíbrio."
Em janeiro, o ministro esboçou a
articulação de um pacto para conter a expectativa inflacionária, mas
a iniciativa não parece ter encontrado muita receptividade.
Numa espécie de balanço de seus
primeiros meses à frente do ministério concebido para ter outro nome (Produção) e ocupante (Luiz
Carlos Mendonça de Barros), Lafer diz que "as coisas estão indo".
Na coluna de vitórias, cita a redução da TJLP do BNDES, a prorrogação por seis meses da isenção do
IPI sobre bens de capital, a preservação dos dois conceitos básicos
da Lei Kandir, de modo a impedir
o Brasil de exportar impostos.
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