São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA MONETÁRIA Banco Central acaba com a Tban e a TBC e sinaliza que taxas podem cair; termômetro será a inflação Juro básico sobe de 39% para 45% ao ano
da Sucursal de Brasília O Banco Central subiu ontem preventivamente os juros básicos da economia, de 39% para 45% anuais, na tentativa de conter pressões inflacionárias. Ao mesmo tempo, o BC emitiu sinais de que poderá promover um recuo da taxa nas próximas semanas, caso seja revertida a tendência de alta dos preços. O aumento dos juros foi decidido ontem na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) dirigida pelo novo presidente do BC, Armínio Fraga. O Copom, que se reuniu excepcionalmente de manhã, mudou a forma de definir os juros, começando a implantar o sistema que foi desenhado em fevereiro por meio de declaração conjunta entre o governo e o FMI (Fundo Monetário Internacional). Acaba o sistema de bandas de juros, criado em 1996. Agora, apenas uma taxa vai sinalizar os juros de toda a economia -a chamada taxa referencial Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia). Essa nova taxa foi fixada em 45% anuais e passa a valer a partir de hoje. Até ontem, os juros básicos da economia, pelo sistema antigo, estavam fixados em 39%. Viés de baixa O Copom também informou que, até sua próxima reunião, em 14 de abril, os juros terão "viés de baixa". Isso significa que a qualquer momento o presidente do BC poderá reduzir os juros, sem consultar o Copom. Como o viés é de baixa, Fraga não poderá aumentar a taxa nesse intervalo de tempo, a menos que convoque uma reunião extraordinária do Copom. No antigo sistema de bandas, o BC fixava duas taxas. A Tban (Taxa de Assistência do BC) era o teto, então fixado em 41% anuais, e a TBC (Taxa Básica do BC), o piso. Os juros que valem no dia-a-dia ficavam neste intervalo. Na sua estréia, a taxa referencial Selic proporcionou prejuízos a bancos. Ontem o BC tomou empréstimos de bancos, validos até a próxima terça-feira, pagando 39%. Os juros de aplicações financeiras, como fundos, tendem a subir a partir de hoje. Crediários e cheques especiais, idem. Fraga afirmou que o BC aumentou os juros de forma preventiva porque há sinais de que a inflação pode subir. Ele citou a forte desvalorização do real e os índices de preços que apontam alta. "Nosso objetivo é saber se o aumento de preços é só um aumento de preços ou a volta da inflação", disse o presidente do BC. Ou seja: enquanto essa duvida persistir, os juros ficam altos. "Nós acreditamos, no entanto, que essa situação pode se reverter a partir de fatores internos e externos e, se isso ocorrer, haverá um espaço para a queda de juros." Fraga, que foi empossado ontem junto com os demais diretores, disse que a preocupação é com índices de inflação a médio e longo prazos, e não com altas que ocorram em um mês ou outro. Se a inflação ficar acima dos juros em um mês ou outro, o BC não elevará a taxa básica. Isso só ocorrerá se a perspectiva for de rendimento negativo em um prazo mais longo, que ele não especificou. Fraga disse ainda que os índices de preços aos consumidores serão a meta inflacionária que será perseguida pelo governo. Índices de preços mais afetados pelo atacado, como o IGP-M, serão entendidos como indicadores do que possa vir a ocorrer no varejo. O BC vai definir metas de inflação, que serão perseguidas com as políticas monetária e fiscal (arrecadação e gastos do governo). Fraga não deu maiores detalhes sobre a meta de inflação, afirmando apenas que persegue um "índice mensal de 0,6% no fim do ano". Ele também disse não acreditar que o novo aumento de juros vá criar incertezas sobre a capacidade do governo de honrar sua dívida. O presidente do BC disse que o prazo de 90 dias concedido pelo líder do PFL, Inocêncio Oliveira, para o dólar recuar a R$ 1,70 é um desejo de todos para que a situação melhore rápido. "Eu adoraria menos, que fossem 30 dias." Texto Anterior: Celso Lafer prevê superávit de US$ 4,5 bi na balança comercial Próximo Texto: Parte dos recursos do FMI pode ser usada no controle do dólar Índice |
|