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FINANCIAMENTO POPULAR
Cooperativas vão poder competir com bancos; taxas de juro podem ser até três vezes menores
Governo vai estimular crédito para pobres
LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na principal ofensiva contra o
freio na economia que marcou os
primeiros cem dias de mandato
de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo prevê que cooperativas de
crédito possam competir diretamente com os bancos, com agências nas ruas, entre outras medidas para estimular a oferta de financiamentos a pessoas pobres,
atualmente sem acesso ao sistema
financeiro.
As medidas foram encomendadas por Lula em 20 de fevereiro
para compensar o impacto de
duas altas seguidas nas taxas de
juros e de um corte de R$ 14 bilhões nos gastos da União, que
podem reduzir em até um ponto
percentual a projeção de crescimento da economia neste ano. A
previsão inicial era de um crescimento de 2,8% do PIB (Produto
Interno Bruto), mas hoje já está
em 2,2%.
Em tempos de ritmo lento da
economia, que tende a aumentar
o desemprego, a idéia do governo
é permitir que pessoas à margem
da economia formal possam tomar empréstimos para tocar seus
negócios e gerar renda.
O montante de dinheiro a ser
oferecido pelos bancos oficiais
ainda não está fechado. A principal experiência de empréstimos a
pobres é do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Desde 98, foram
emprestados R$ 78 milhões, principalmente via organizações não-governamentais, que assumiram
o risco da operação.
O valor médio do empréstimo
foi de R$ 1.100, a juros baixos,
principalmente para a chamada
economia informal. A inadimplência nesses financiamentos é
próxima a zero.
A inspiração vem de uma experiência em Bangladesh nos anos
70, que deu início ao microcrédito, hoje reconhecido como mecanismo eficiente de combate à pobreza.
Já as cooperativas de crédito
oferecem empréstimos a taxas de
juros até três vezes menores do
que as cobradas pelas instituições
financeiras tradicionais. Mas elas
estão limitadas a emprestar ao
grupo de associados reunidos por
categorias profissionais ou região.
Segundo o diretor de Normas
do Banco Central, Sérgio Darcy, a
autorização para que essas cooperativas sejam abertas ao público
em geral não vai demorar. "Vão
operar [as cooperativas abertas"
quase como se fossem bancos.
Por isso vamos adotar todos os
mecanismos de controle e fiscalização disponíveis para garantir a
segurança do sistema financeiro e
a qualidade dos serviços prestados pelas cooperativas", disse.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Gabriel Jorge
Ferreira, diz que a entidade não é
contra a formação de cooperativas de crédito abertas, alega que a
competição é benéfica para o sistema financeiro, mas defende que
o microcrédito não deve se voltar
ao consumo.
"Eles [os bancos" ainda estão
quietos, mas com certeza não gostam [da idéia de cooperativas
abertas", porque serão concorrentes deles", acredita o presidente do Sindicato dos Bancários de
São Paulo, João Vaccari, pronto
para expandir a oferta de crédito
da cooperativa de seus associados: "Se a lei permitir, vamos
abrir uma agência da cooperativa
de crédito na rua. Aqui está cheio
de financeiras, cheio de bancos,
cheio de agiotas. Nós vamos botar
nossa banquinha e falar: "Aqui é
mais barato, pagamos mais e oferecemos por menos'".
A volta das cooperativas horizontais (sem restrições ao quadro
de associados) é tema de debate
nos bastidores do governo há
anos. Antes do regime militar, seu
funcionamento era autorizado. O
governo alegou riscos para o sistema sistema financeiro para impedir a formação de novas cooperativas desse tipo, devido ao potencial de prejuízo que supostamente
poderiam gerar.
Darcy diz que não é de hoje que
o BC reconhece a importância das
cooperativas de crédito. Afirma
que é um instrumento fundamental para expandir a oferta de
crédito em regiões carentes, normalmente de pouco (ou nenhum)
interesse para os bancos.
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