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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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FINANCIAMENTO POPULAR

Cooperativas vão poder competir com bancos; taxas de juro podem ser até três vezes menores

Governo vai estimular crédito para pobres

LEONARDO SOUZA
MARTA SALOMON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na principal ofensiva contra o freio na economia que marcou os primeiros cem dias de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo prevê que cooperativas de crédito possam competir diretamente com os bancos, com agências nas ruas, entre outras medidas para estimular a oferta de financiamentos a pessoas pobres, atualmente sem acesso ao sistema financeiro.
As medidas foram encomendadas por Lula em 20 de fevereiro para compensar o impacto de duas altas seguidas nas taxas de juros e de um corte de R$ 14 bilhões nos gastos da União, que podem reduzir em até um ponto percentual a projeção de crescimento da economia neste ano. A previsão inicial era de um crescimento de 2,8% do PIB (Produto Interno Bruto), mas hoje já está em 2,2%.
Em tempos de ritmo lento da economia, que tende a aumentar o desemprego, a idéia do governo é permitir que pessoas à margem da economia formal possam tomar empréstimos para tocar seus negócios e gerar renda.
O montante de dinheiro a ser oferecido pelos bancos oficiais ainda não está fechado. A principal experiência de empréstimos a pobres é do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Desde 98, foram emprestados R$ 78 milhões, principalmente via organizações não-governamentais, que assumiram o risco da operação.
O valor médio do empréstimo foi de R$ 1.100, a juros baixos, principalmente para a chamada economia informal. A inadimplência nesses financiamentos é próxima a zero.
A inspiração vem de uma experiência em Bangladesh nos anos 70, que deu início ao microcrédito, hoje reconhecido como mecanismo eficiente de combate à pobreza.
Já as cooperativas de crédito oferecem empréstimos a taxas de juros até três vezes menores do que as cobradas pelas instituições financeiras tradicionais. Mas elas estão limitadas a emprestar ao grupo de associados reunidos por categorias profissionais ou região.
Segundo o diretor de Normas do Banco Central, Sérgio Darcy, a autorização para que essas cooperativas sejam abertas ao público em geral não vai demorar. "Vão operar [as cooperativas abertas" quase como se fossem bancos. Por isso vamos adotar todos os mecanismos de controle e fiscalização disponíveis para garantir a segurança do sistema financeiro e a qualidade dos serviços prestados pelas cooperativas", disse.
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Gabriel Jorge Ferreira, diz que a entidade não é contra a formação de cooperativas de crédito abertas, alega que a competição é benéfica para o sistema financeiro, mas defende que o microcrédito não deve se voltar ao consumo.
"Eles [os bancos" ainda estão quietos, mas com certeza não gostam [da idéia de cooperativas abertas", porque serão concorrentes deles", acredita o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, João Vaccari, pronto para expandir a oferta de crédito da cooperativa de seus associados: "Se a lei permitir, vamos abrir uma agência da cooperativa de crédito na rua. Aqui está cheio de financeiras, cheio de bancos, cheio de agiotas. Nós vamos botar nossa banquinha e falar: "Aqui é mais barato, pagamos mais e oferecemos por menos'".
A volta das cooperativas horizontais (sem restrições ao quadro de associados) é tema de debate nos bastidores do governo há anos. Antes do regime militar, seu funcionamento era autorizado. O governo alegou riscos para o sistema sistema financeiro para impedir a formação de novas cooperativas desse tipo, devido ao potencial de prejuízo que supostamente poderiam gerar.
Darcy diz que não é de hoje que o BC reconhece a importância das cooperativas de crédito. Afirma que é um instrumento fundamental para expandir a oferta de crédito em regiões carentes, normalmente de pouco (ou nenhum) interesse para os bancos.


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