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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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Para economistas, nem fim da guerra empurra os EUA

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Os economistas-chefe de três importantes bancos americanos mostraram-se pessimistas sobre o futuro da economia do país em seminário do Council on Foreign Relations, ontem, em Nova York.
Para eles, a debilidade americana é anterior à guerra e não há motivo para esperar que a economia decole mesmo em caso de vitória sem maiores traumas no Iraque, como esperava o mercado.
"O mercado é como uma criança de quatro anos. Agora ele está pensando apenas na guerra", disse Ethan Harris, economista-chefe da Lehman Brothers.
"O mercado não está precificando nada além da guerra", completou Stephen Roach, economista-chefe do banco Morgan Stanley.
Harris acha que a debilidade dos EUA decorre dos choques consecutivos sofridos pela economia americana -o 11 de setembro, os escândalos contábeis e a guerra. "Foram seguidos, não nos deixam respirar", disse.
William Dudley, do da Goldman Sachs, discorda. "Sempre há choques, olhe o que aconteceu no final dos anos 90."
Raciocínio semelhante ao de Dudley foi colocado por Roach, do Morgan Stanley, da seguinte forma: "Você não tem o colchão que havia nos anos 90. Numa economia que não cresce, os choques importam muito mais".
Um parâmetro importante para os EUA neste momento, segundo eles, é a derrocada japonesa, na virada dos anos 80 para os 90. "A última coisa que o Fed quer agora é uma referência bem grande ao Japão na primeira página do "Wall Street Journal'", disse Harris.
Mas ela está no radar, tanto que todos deram seu palpite sobre as chances de os EUA enfrentarem deflação nos próximos anos.
Harris colocou a probabilidade entre 10% e 15%. Roach, do Morgan Stanley, acha que a chance é o dobro. Para Dudley, do Goldman Sachs, "o Fed tem uma visão muito otimista da economia, às vezes fica tarde para agir; a deflação ainda demoraria para acontecer, mas, se vier, muda tudo".
O pior, alerta Roach, é que um tranco nos EUA vai sugar a economia global. "O mundo está perigosamente dependendo dos EUA. A Europa e o Japão também estão enfrentando desaceleração. A esperança que havia era a Ásia, mas setores importantes da economia de lá sofreram impacto da Sars", afirmou Roach. "O crescimento do mundo vai ser negativo neste trimestre."
Para ele, um dos problemas atuais é fazer europeus e japoneses adotarem políticas de fortalecimento de suas moedas. "Todo mundo quer ter moeda fraca. Isso não é possível, é um jogo de soma zero", disse.


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