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ARTIGO
As notícias econômicas podem ficar horríveis
PAUL KRUGMAN
Nas duas últimas semanas
ninguém tem dado muita
atenção ao noticiário econômico.
Até as altas e baixas do índice
Dow Jones têm refletido os relatos
da guerra -e não os relatórios
das empresas. Mas as notícias
econômicas são muito preocupantes. Na verdade, as últimas leituras sugerem que a recuperação
dos EUA pode estar estagnada.
Na verdade, a recuperação não
pode oficialmente estagnar, já que
oficialmente não começou. A comissão que decide essas questões
ainda não declarou o fim da recessão que começou em março de
2001. Há bons motivos para a hesitação dessa comissão: enquanto
o PIB começou a crescer no final
de 2001, a situação do emprego
-que é o que importa para a
maioria das pessoas- piorou em
ritmo mais ou menos constante.
Em particular, há menos pessoas
trabalhando hoje do que há um
ano. Como a população em idade
ativa continua aumentando, os
empregos tornaram-se constantemente mais difíceis de encontrar.
Além disso, os últimos dados
sugerem que o ritmo em que as
coisas pioram está se acelerando.
Em fevereiro, o número de empregados em folhas de pagamento diminuiu 308 mil -o pior resultado desde novembro de 2001.
Alguns analistas sugerem que o
número foi enganoso, distorcido
pelo mau tempo, mas ontem tivemos mais dois indicadores preocupantes: os novos pedidos de seguro-desemprego saltaram, e
uma análise das companhias do
setor de serviços sugere que a economia como um todo está se contraindo.
E agora? Desde que as esperanças de uma rápida recuperação
desapareceram, no último verão,
a economia parecia equilibrada
no fio da navalha. Pessimistas como Stephen Roach, do Morgan
Stanley, advertem que os EUA estão perto de sua "velocidade de
estagnação": um crescimento tão
lento que os consumidores, nervosos com o mercado de trabalho
fraco, reduzem os gastos e fazem a
economia entrar em parafuso.
Mas os otimistas continuam esperando que as empresas, ansiosas
para atualizar sua tecnologia, retomem o investimento em grande
escala e gerem uma recuperação
robusta. Ambas as perspectivas
ainda são possíveis, mas parece
cada vez mais provável que os
consumidores perderão o ânimo
antes que as empresas recuperem
o delas.
Os otimistas hoje depositam sua
fé nos supostos efeitos salutares
de uma vitória no Iraque. A teoria
é que as empresas estão adiando
os investimentos até que a incerteza sobre a guerra se dissipe, e
que quando isso acontecer haverá
um grande surto de demanda reprimida. Sou cético: acho que as
principais barreiras para a recuperação dos investimentos são a
capacidade excedente, a dívida
corporativa e o temor dos escândalos contábeis (as revelações sobre a HealthSouth sugerem que
há muitos outros desmandos corporativos não descobertos.) Também me pergunto se a vitória no
Iraque marcará o fim da incerteza
ou o início de ainda mais incerteza. Estamos na estrada para Damasco (ou Teerã ou Yongbyon)?
Enquanto isso, existe uma nova
preocupação: a recuperação macroeconômica poderá ser vítima
da economia dos micróbios. As
pessoas sérias sabem que os germes representam uma ameaça
muito maior para a humanidade
do que o terrorismo, e leitores de
livros como "Plagues and Peoples" ("Pragas e Povos"), de William McNeill, e "Guns, Germs
and Steel" ("Armas, Germes e
Aço"), de Jared Diamond, sabem
que os micróbios provocaram o
fim de muitas civilizações.
A síndrome respiratória aguda
severa (Sars), um novo vírus que
veio da Província de Guangdong,
na China, não parece um assassino de civilizações, e provavelmente não é tão nocivo quanto o vírus
influenza de 1918-19. Mas especialistas temem que seja tarde demais para impedir uma epidemia
global de Sars -isto é, pode ser
tarde demais para impedir que o
vírus se espalhe pelo mundo todo.
E o germe já está tendo grandes
consequências econômicas: o medo da doença paralisou muitas
empresas em Hong Kong e causou a queda das viagens aéreas internacionais.
Mesmo que a Sars não se dissemine nos EUA -e essa não é uma
aposta garantida-, poderá causar muitos danos à economia norte-americana, porque o mundo
tornou-se muito interdependente. Pensem nisso: o motor mais
provável de uma vigorosa recuperação americana seria um surto
renovado nos gastos em tecnologia, e Guangdong hoje é a oficina
do mundo da informática, o lugar
onde se monta grande parte do
equipamento que as empresas
comprariam se houvesse um
boom de investimento -por
exemplo, componentes para redes de computador sem fio. O vírus já está prejudicando a produção, não tanto porque os trabalhadores ficaram doentes, mas
porque os gerentes e os engenheiros baseados em Taiwan têm medo de visitar suas fábricas. O resultado poderá ser a estagnação
da recuperação dos investimentos antes que ela comece.
A guerra monopolizou a atenção de todos, inclusive a minha.
Mas outras coisas estão acontecendo, e você não deve se chocar
se as notícias econômicas ficarem
horríveis.
Paul Krugman, economista, é professor
na Universidade Princeton (EUA) e colunista do "The New York Times".
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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