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BID aponta "infra-estrutura pobre" na AL
Para organismo, região precisa mais que dobrar investimento no setor a fim de atender crescimento da demanda
Presidente do BID diz que o Brasil deveria obter maior parcela dos investimentos, mas órgão tem de dar
atenção ao restante da região
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Decorado com dezenas de esculturas coloridas do artista
plástico pernambucano Romero Britto e com cenários luminosos que receberam artistas
como Ricky Martin e Shakira
para falar sobre o papel das celebridades em questões humanitárias -isso tudo na ensolarada ilha de Miami Beach-,
ainda assim o salão da Reunião
Anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) deste ano mantém um clima
árido entre seus corredores.
Primeira edição do encontro
após a detonação da crise do
mercado imobiliário dos EUA,
o encontro do BID está sendo
guiado pela cautela sobre o
bom desempenho econômico
da América Latina e pela exposição dos problemas locais.
Ontem, primeiro dia do
evento, a chaga exposta foi a
"infra-estrutura pobre" da região, nas aspas do texto de divulgação do próprio banco para
o debate sobre como os países
latino-americanos podem contornar essa deficiência.
"Para fazer a manutenção da
infra-estrutura já existente e
ainda crescer atendendo ao
crescimento da demanda [aumento de população, por exemplo], a América Latina deveria
investir 7% de seu PIB no setor.
A média de investimento é de
2% a 3%. Ou seja, no mínimo,
esse valor teria de dobrar", disse à Folha o brasileiro Roberto
Vellutini, diretor de Infra-Estrutura do banco.
Para Vellutini, os desafios do
Brasil para que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dê certo são agilizar os
estudos de viabilidade dos projetos para fazer as obras saírem
do papel mais rápido e, como
no resto da região, elevar a capacidade de obter investimento. "O Brasil ainda tem o
BNDES e outras parcerias.
Conseguir [financiamento] é
desafio ainda maior para os outros países, que têm como uma
das saídas apostar em parcerias
com a iniciativa privada."
À mesa Robert Mosbacher
Jr., presidente da Corporação
para Investimentos Privados
Internacionais, órgão do governo americano que empresta dinheiro a empresas interessadas
em investir no exterior, disse
que os governantes têm de ser
realistas. "É perda de tempo
tentar parcerias em áreas em
que o setor privado não quer
investir", disse Mosbacher, que
depois detalhou à Folha: "No
campo de energia, por exemplo, os governos não devem ficar esperando que o setor privado construa o sistema de transmissão, quando ele está
ávido é por geração", exemplifica. "Os governos poupariam
tempo e dinheiro se se esforçassem em entender melhor o
que as empresas querem."
Não sobra dinheiro
Restrições para investimentos no Brasil foram tema de encontro entre o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento) e o
presidente do BID, o colombiano Luís Alberto Moreno.
Segundo relatou Bernardo
após a reunião, Moreno disse
que, apesar de ter ampliado os
investimentos no Brasil em
2008 (de 19%, em 2007, para
27% do total), precisa dar atenção à grande demanda do restante da América Latina.
"Ele [Moreno] nos disse que,
se a grande demanda de crédito
for atendida, o Brasil passaria a
ter uma participação muito
maior do que hoje, o que não é
recomendável, porque o banco
tem de atender a todos", disse o
ministro, que conta que participará de reuniões para ajudar a
traçar uma estratégia para o
banco ampliar sua captação e
ajudar que "o BID vire um Bidão", nas palavras do próprio
Bernardo.
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