São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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BID aponta "infra-estrutura pobre" na AL

Para organismo, região precisa mais que dobrar investimento no setor a fim de atender crescimento da demanda

Presidente do BID diz que o Brasil deveria obter maior parcela dos investimentos, mas órgão tem de dar atenção ao restante da região

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Decorado com dezenas de esculturas coloridas do artista plástico pernambucano Romero Britto e com cenários luminosos que receberam artistas como Ricky Martin e Shakira para falar sobre o papel das celebridades em questões humanitárias -isso tudo na ensolarada ilha de Miami Beach-, ainda assim o salão da Reunião Anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) deste ano mantém um clima árido entre seus corredores.
Primeira edição do encontro após a detonação da crise do mercado imobiliário dos EUA, o encontro do BID está sendo guiado pela cautela sobre o bom desempenho econômico da América Latina e pela exposição dos problemas locais.
Ontem, primeiro dia do evento, a chaga exposta foi a "infra-estrutura pobre" da região, nas aspas do texto de divulgação do próprio banco para o debate sobre como os países latino-americanos podem contornar essa deficiência.
"Para fazer a manutenção da infra-estrutura já existente e ainda crescer atendendo ao crescimento da demanda [aumento de população, por exemplo], a América Latina deveria investir 7% de seu PIB no setor. A média de investimento é de 2% a 3%. Ou seja, no mínimo, esse valor teria de dobrar", disse à Folha o brasileiro Roberto Vellutini, diretor de Infra-Estrutura do banco.
Para Vellutini, os desafios do Brasil para que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dê certo são agilizar os estudos de viabilidade dos projetos para fazer as obras saírem do papel mais rápido e, como no resto da região, elevar a capacidade de obter investimento. "O Brasil ainda tem o BNDES e outras parcerias. Conseguir [financiamento] é desafio ainda maior para os outros países, que têm como uma das saídas apostar em parcerias com a iniciativa privada."
À mesa Robert Mosbacher Jr., presidente da Corporação para Investimentos Privados Internacionais, órgão do governo americano que empresta dinheiro a empresas interessadas em investir no exterior, disse que os governantes têm de ser realistas. "É perda de tempo tentar parcerias em áreas em que o setor privado não quer investir", disse Mosbacher, que depois detalhou à Folha: "No campo de energia, por exemplo, os governos não devem ficar esperando que o setor privado construa o sistema de transmissão, quando ele está ávido é por geração", exemplifica. "Os governos poupariam tempo e dinheiro se se esforçassem em entender melhor o que as empresas querem."

Não sobra dinheiro
Restrições para investimentos no Brasil foram tema de encontro entre o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e o presidente do BID, o colombiano Luís Alberto Moreno.
Segundo relatou Bernardo após a reunião, Moreno disse que, apesar de ter ampliado os investimentos no Brasil em 2008 (de 19%, em 2007, para 27% do total), precisa dar atenção à grande demanda do restante da América Latina.
"Ele [Moreno] nos disse que, se a grande demanda de crédito for atendida, o Brasil passaria a ter uma participação muito maior do que hoje, o que não é recomendável, porque o banco tem de atender a todos", disse o ministro, que conta que participará de reuniões para ajudar a traçar uma estratégia para o banco ampliar sua captação e ajudar que "o BID vire um Bidão", nas palavras do próprio Bernardo.


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