São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Pequenas indústrias ganham menos com queda na Selic

Estudo aponta que custo do crédito continua alto

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A redução da taxa Selic nos três primeiros trimestres do ano passado contribuiu pouco para a diminuição do custo do crédito, especialmente das pequenas e das médias indústrias, aponta estudo realizado em parceria entre a Fiesp e o Serasa.
O relaxamento nos juros durante o período -de 13,25% para 11,25%- foi menos sentido porque o "spread" (diferença entre taxas captadas e repassadas) não acompanhou o mesmo ritmo de queda da Selic. De acordo com a pesquisa "Painel de Competitividade", obtida pela Folha, o "spread" médio de janeiro a setembro foi de 12,9% ao ano. Se tivesse seguido em linha com a Selic, seria de 8%.
Da mesma forma, o juro médio cobrado de pessoas jurídicas seria de 19,5%, enquanto a taxa real média verificada no período chegou a 24,4%.
Os coordenadores da pesquisa, feita com 10 mil empresas, afirmam que a desoneração do crédito proporcionada pela redução da Selic ficou comprometida porque os bancos não ofereceram sua contrapartida, reduzindo a taxa de "spread".
"No mundo inteiro, o "spread" é proporcional à taxa de juros. Ocorre que o "spread" bancário continua praticamente o mesmo desde 2005", afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Decomtec (Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp).
O peso maior dessa discrepância entre a Selic e o "spread" bancário recai especialmente sobre pequenas e médias indústrias, justamente porque são essas que têm acesso mais restrito ao mercado de crédito internacional ou ao mercado de capitais, diz Roriz.
"Então, elas têm de usar o único banco de fomento do país, o BNDES, ou recorrer a instituições bancárias tradicionais, com "spread" muito alto."
Um indicador que aponta o afastamento das pequenas e médias empresas dos empréstimos oferecidos por bancos é o perfil de seu endividamento. Enquanto as grandes empresas financiaram 47,57% de suas dívidas junto a bancos nos três primeiros trimestres de 2007, as pequenas e médias financiaram apenas 34,75%. O restante trata-se de endividamento não-oneroso, ou seja, tomado junto a outros credores.
"Fica muito claro que as pequenas empresas são menos endividadas com os bancos porque as condições que elas encontram são bem menos favoráveis", afirma o diretor de Produtos do Serasa, Laércio de Oliveira Pinto.

Febraban
De acordo com o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Nicola Tingas, as instituições financeiras enfrentaram custos crescentes de captação no ano passado. Daí a dificuldade em diminuir o "spread" médio. "Houve uma liquidez muito grande. Com isso, as grandes empresas buscaram crédito no exterior, e nós tivemos que operar até com "spread" negativo em alguns casos."
Ele conta que o perfil de risco na carteira de clientes dos bancos mudou muito, com a entrada de empresas de menor porte -e com o histórico de pagamento ainda desconhecido.
Segundo o economista-chefe da Febraban, porém, a tendência de queda do "spread" deverá vir a longo prazo, à medida que os novos clientes mostrarem mais solidez.


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