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Pequenas indústrias ganham menos com queda na Selic
Estudo aponta que custo do crédito continua alto
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A redução da taxa Selic nos
três primeiros trimestres do ano
passado contribuiu pouco para a
diminuição do custo do crédito,
especialmente das pequenas e
das médias indústrias, aponta
estudo realizado em parceria
entre a Fiesp e o Serasa.
O relaxamento nos juros durante o período -de 13,25% para 11,25%- foi menos sentido
porque o "spread" (diferença
entre taxas captadas e repassadas) não acompanhou o mesmo
ritmo de queda da Selic. De
acordo com a pesquisa "Painel
de Competitividade", obtida pela Folha, o "spread" médio de
janeiro a setembro foi de 12,9%
ao ano. Se tivesse seguido em
linha com a Selic, seria de 8%.
Da mesma forma, o juro médio cobrado de pessoas jurídicas seria de 19,5%, enquanto a
taxa real média verificada no
período chegou a 24,4%.
Os coordenadores da pesquisa, feita com 10 mil empresas,
afirmam que a desoneração do
crédito proporcionada pela redução da Selic ficou comprometida porque os bancos não
ofereceram sua contrapartida,
reduzindo a taxa de "spread".
"No mundo inteiro, o
"spread" é proporcional à taxa
de juros. Ocorre que o "spread"
bancário continua praticamente o mesmo desde 2005", afirma José Ricardo Roriz Coelho,
diretor do Decomtec (Departamento de Competitividade e
Tecnologia da Fiesp).
O peso maior dessa discrepância entre a Selic e o
"spread" bancário recai especialmente sobre pequenas e
médias indústrias, justamente
porque são essas que têm acesso mais restrito ao mercado de
crédito internacional ou ao
mercado de capitais, diz Roriz.
"Então, elas têm de usar o
único banco de fomento do
país, o BNDES, ou recorrer a
instituições bancárias tradicionais, com "spread" muito alto."
Um indicador que aponta o
afastamento das pequenas e
médias empresas dos empréstimos oferecidos por bancos é o
perfil de seu endividamento.
Enquanto as grandes empresas
financiaram 47,57% de suas dívidas junto a bancos nos três
primeiros trimestres de 2007,
as pequenas e médias financiaram apenas 34,75%. O restante
trata-se de endividamento
não-oneroso, ou seja, tomado
junto a outros credores.
"Fica muito claro que as pequenas empresas são menos
endividadas com os bancos
porque as condições que elas
encontram são bem menos favoráveis", afirma o diretor de
Produtos do Serasa, Laércio de
Oliveira Pinto.
Febraban
De acordo com o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Nicola Tingas, as instituições financeiras enfrentaram custos
crescentes de captação no ano
passado. Daí a dificuldade em
diminuir o "spread" médio.
"Houve uma liquidez muito
grande. Com isso, as grandes
empresas buscaram crédito no
exterior, e nós tivemos que
operar até com "spread" negativo em alguns casos."
Ele conta que o perfil de risco
na carteira de clientes dos bancos mudou muito, com a entrada de empresas de menor porte
-e com o histórico de pagamento ainda desconhecido.
Segundo o economista-chefe
da Febraban, porém, a tendência de queda do "spread" deverá
vir a longo prazo, à medida que
os novos clientes mostrarem
mais solidez.
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