São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Gráficas celebram vendas e bicentenário

Faturamento e investimentos recordes marcam o melhor ano do setor, que chegou ao país trazido pela família real, em 1808

Aumento da renda e do emprego indica tendência de expansão em 2008; consumo de papel cresceu 33,3% entre 1995 e 2007

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as muitas novidades trazidas pela família real portuguesa ao Brasil, em 1808, algumas das mais relevantes foram dois prelos e oito caixas de tipos. Não pelas máquinas em si, vindas de Lisboa na bagagem da corte, mas pelo que representavam. Até então, qualquer forma de divulgação de informações impressas era proibida no país.
A comemoração do bicentenário da comunicação impressa no Brasil, no entanto, vai além da mera efeméride. O ano de 2007 foi o melhor da história do setor. As empresas movimentaram R$ 17 bilhões, valor 4,5% superior ao faturamento de 2006.
O ano também foi de recorde de investimentos, com total de US$ 1,43 bilhão aplicado. O valor é 341% superior aos US$ 419 milhões investidos em 2006. Na última década, as 19,5 mil empresas que trabalham com impressão no país investiram, em média, US$ 700 milhões ao ano. Só no ano passado foram criadas quase 20 mil novas vagas. No total, o setor emprega 197 mil trabalhadores.
"Faz 200 anos que ajudamos o Brasil a ser mais democrático", afirma Mário César de Martins Camargo, presidente da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica). "Qualquer produto impresso, desde a menor das embalagens até um clássico da literatura, reduz a ignorância do leitor."

IDH
Segundo ele, o salto dos últimos anos aconteceu em função do aumento da renda e do emprego, da maior escolarização, do ingresso de mais pessoas na economia e da sofisticação dos produtos.
"O setor anda a reboque do desenvolvimento da sociedade", diz. "Quanto maior o consumo per capita de papel de um país, maior seu IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]."
O consumo de papel por habitante no Brasil passou de 30 quilos por ano, em 1995, para 40 quilos, no ano passado. Apesar do salto, o número ainda é pequeno. Os Estados Unidos consumem 300 quilos por habitante por ano, enquanto a líder Finlândia beira os 340 quilos. Na América Latina, cada argentino consome 44 quilos ao ano e os chilenos, 64.
"Ninguém compra livro antes do arroz e do feijão", afirma Camargo. "À medida que aumenta o poder aquisitivo da população, o consumo de produtos impressos vai junto."
Exatamente por isso, as perspectivas são de crescimento. "Com exceção da nota fiscal, que está em processo de decadência e deverá ser extinta num futuro não muito distante, as outras áreas estão todas em expansão", diz Camargo. "Seja em rótulos, embalagens ou no segmento editorial, as vendas aumentaram em todas as áreas."
Os investimentos em modernização do parque gráfico, feitos na última década, tiveram efeito agora, com o aumento da competitividade da indústria nacional. Se no fim dos anos 1990 os brasileiros importavam impressos do Chile e da Colômbia, agora o país exporta cadernos para os Estados Unidos e livros e embalagens para a América Latina.
A balança comercial do setor no ano passado, no entanto, foi deficitária em US$ 40 milhões, com variação negativa de 162% sobre 2006. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o país importou US$ 319 milhões em produtos impressos e exportou US$ 230 milhões.
O quadro tende a se agravar: só no primeiro bimestre de 2008, o déficit já soma US$ 20 milhões, o equivalente à metade do déficit de todo o ano passado. O aumento no volume importado em janeiro e fevereiro foi de 40% em relação ao mesmo período de 2007.
Entre 2004 e 2006 o cenário era inverso, com a balança do setor superavitária. Por volta de 2% da receita do setor vinha das exportações.
"A inversão aconteceu por conta da valorização do real", diz Camargo. "Quando começamos a intensificar as exportações, numa parceria com a Apex [Agência Brasileira de Promoção a Exportação], o dólar estava cotado a R$ 2,40. A R$ 1,70 é muito difícil competir no exterior."

Bitributação
Outra dificuldade do setor diz respeito a impostos. Por ter características industriais, mas funcionar como prestadora de serviços, a indústria gráfica é alvo, na tributação, de disputa entre Estados, que querem cobrar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e municípios, que buscam sua fatia por meio do ISS (Imposto sobre Serviços).
Constantemente bitributadas, as empresas conseguiram, em 2001, que um projeto de lei definindo a carga do setor fosse aprovado na Câmara dos Deputados. Porém, depois de algumas mudanças do Senado, o projeto voltou à Câmara e está parado.
"Não queremos redução de carga", afirma Camargo. "Mas, sim, definição tributária."
Mesmo sem a aprovação do projeto, o setor trabalha com perspectivas de crescimento entre 4% e 5,5% para 2008. "A economia continua em expansão, bem como o aumento do emprego e da renda", diz Camargo. "Será outro ano bom."


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