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Gráficas celebram vendas e bicentenário
Faturamento e investimentos recordes marcam o melhor ano do setor, que chegou ao país trazido pela família real, em 1808
Aumento da renda e do emprego indica tendência de expansão em 2008; consumo de papel cresceu 33,3% entre 1995 e 2007
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre as muitas novidades
trazidas pela família real portuguesa ao Brasil, em 1808, algumas das mais relevantes foram
dois prelos e oito caixas de tipos. Não pelas máquinas em si,
vindas de Lisboa na bagagem
da corte, mas pelo que representavam. Até então, qualquer
forma de divulgação de informações impressas era proibida
no país.
A comemoração do bicentenário da comunicação impressa no Brasil, no entanto, vai
além da mera efeméride. O ano
de 2007 foi o melhor da história
do setor. As empresas movimentaram R$ 17 bilhões, valor
4,5% superior ao faturamento
de 2006.
O ano também foi de recorde
de investimentos, com total de
US$ 1,43 bilhão aplicado. O valor é 341% superior aos US$ 419
milhões investidos em 2006.
Na última década, as 19,5 mil
empresas que trabalham com
impressão no país investiram,
em média, US$ 700 milhões ao
ano. Só no ano passado foram
criadas quase 20 mil novas vagas. No total, o setor emprega
197 mil trabalhadores.
"Faz 200 anos que ajudamos
o Brasil a ser mais democrático", afirma Mário César de
Martins Camargo, presidente
da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica).
"Qualquer produto impresso,
desde a menor das embalagens
até um clássico da literatura,
reduz a ignorância do leitor."
IDH
Segundo ele, o salto dos últimos anos aconteceu em função
do aumento da renda e do emprego, da maior escolarização,
do ingresso de mais pessoas na
economia e da sofisticação dos
produtos.
"O setor anda a reboque do
desenvolvimento da sociedade", diz. "Quanto maior o consumo per capita de papel de um
país, maior seu IDH [Índice de
Desenvolvimento Humano]."
O consumo de papel por habitante no Brasil passou de 30
quilos por ano, em 1995, para
40 quilos, no ano passado. Apesar do salto, o número ainda é
pequeno. Os Estados Unidos
consumem 300 quilos por habitante por ano, enquanto a líder Finlândia beira os 340 quilos. Na América Latina, cada argentino consome 44 quilos ao
ano e os chilenos, 64.
"Ninguém compra livro antes do arroz e do feijão", afirma
Camargo. "À medida que aumenta o poder aquisitivo da população, o consumo de produtos impressos vai junto."
Exatamente por isso, as perspectivas são de crescimento.
"Com exceção da nota fiscal,
que está em processo de decadência e deverá ser extinta num
futuro não muito distante, as
outras áreas estão todas em expansão", diz Camargo. "Seja em
rótulos, embalagens ou no segmento editorial, as vendas aumentaram em todas as áreas."
Os investimentos em modernização do parque gráfico, feitos na última década, tiveram
efeito agora, com o aumento da
competitividade da indústria
nacional. Se no fim dos anos
1990 os brasileiros importavam
impressos do Chile e da Colômbia, agora o país exporta cadernos para os Estados Unidos e livros e embalagens para a América Latina.
A balança comercial do setor
no ano passado, no entanto, foi
deficitária em US$ 40 milhões,
com variação negativa de 162%
sobre 2006. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o
país importou US$ 319 milhões
em produtos impressos e exportou US$ 230 milhões.
O quadro tende a se agravar:
só no primeiro bimestre de
2008, o déficit já soma US$ 20
milhões, o equivalente à metade do déficit de todo o ano passado. O aumento no volume
importado em janeiro e fevereiro foi de 40% em relação ao
mesmo período de 2007.
Entre 2004 e 2006 o cenário
era inverso, com a balança do
setor superavitária. Por volta
de 2% da receita do setor vinha
das exportações.
"A inversão aconteceu por
conta da valorização do real",
diz Camargo. "Quando começamos a intensificar as exportações, numa parceria com a
Apex [Agência Brasileira de
Promoção a Exportação], o dólar estava cotado a R$ 2,40. A
R$ 1,70 é muito difícil competir
no exterior."
Bitributação
Outra dificuldade do setor
diz respeito a impostos. Por ter
características industriais, mas
funcionar como prestadora de
serviços, a indústria gráfica é
alvo, na tributação, de disputa
entre Estados, que querem cobrar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e municípios, que buscam sua fatia por meio do ISS
(Imposto sobre Serviços).
Constantemente bitributadas, as empresas conseguiram,
em 2001, que um projeto de lei
definindo a carga do setor fosse
aprovado na Câmara dos Deputados. Porém, depois de algumas mudanças do Senado, o
projeto voltou à Câmara e está
parado.
"Não queremos redução de
carga", afirma Camargo. "Mas,
sim, definição tributária."
Mesmo sem a aprovação do
projeto, o setor trabalha com
perspectivas de crescimento
entre 4% e 5,5% para 2008. "A
economia continua em expansão, bem como o aumento do
emprego e da renda", diz Camargo. "Será outro ano bom."
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