São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Mercado livre de energia está sob risco, diz indústria

Setor enfrenta dificuldade em renovar contratos

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), Eduardo Carlos Spalding, acusou o governo de querer acabar com o mercado livre de energia.
Ele disse que a meta do governo é fazer com que as grandes empresas voltem a ser consumidores cativos, o que já começou a ocorrer ante a situação de escassez de nova energia.
Spalding disse que os grandes consumidores passaram a enfrentar um novo cenário de preços, incompatível com a manutenção das operações. Ele citou as empresas Novelis (produtora de alumínio) e Coteminas, de propriedade do vice-presidente da República, José Alencar, como exemplos de empresas que tiveram até de suspender a produção por um período devido à dificuldade de recontratação da energia.
"O governo não pode virar as costas para o setor agora. É preciso haver garantias para que os consumidores livres tenham acesso a energia", disse Spalding.
Ele refuta a acusação de que o setor se beneficiou de preços baixos no passado e que esteja buscando energia nas mesmas condições em período de escassez, como o atual. "Hoje, 85% dos associados da Abrace têm contratos superiores a cinco anos, e metade desse contingente tem contratos de dez anos. É um setor que trabalha, sim, com contratos de longo prazo, ao contrário do que muitos têm afirmado", afirmou.

Usineiros
A Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar) ainda desconhece detalhes do modelo que será aplicado para a venda dos 7.811 MW de energia de biomassa colocada à disposição do governo pelo setor e que podem entrar no chamado leilão de reserva. O presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, explicou nesta semana que os usineiros receberão uma renda predefinida pelo potencial de geração de energia da usina. O setor não será um comercializador de energia. Esse papel será executado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
O governo avalia que a venda da energia gerada com biomassa no mercado spot seja suficiente para pagar a remuneração do usineiro. O consumidor convencional, que receberá a energia pelo sistema em sua casa, pagará um encargo para ter essa energia.
Onório Kitayama, consultor da área de energia da Unica, disse que as usinas ainda desconhecem o modelo proposto pelo governo. Sem falar em preços, disse que o setor buscará remuneração por megawatt-hora proveniente da cana condizente com o cenário de escassez, ou seja, um valor elevado.
Em alguns encontros, o setor sucroalcooleiro já apontou que preços de R$ 140 a R$ 145 por megawatt-hora dariam retorno para unidades mais modernas, com rendimentos maiores, mas não bancariam o custo de atualização de boa parte das usinas do Estado de São Paulo, onde está a maior oferta de biomassa de cana.
Nem o governo acredita que os 7.800 MW credenciados estejam em condições de participar dos leilões de reserva, que acontecem em maio (para entrega em 2009) e junho (para entrega em 2010).


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