São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Com apoio do G20, FMI torna-se crucial no combate à crise

Grupo dos países mais ricos decide triplicar o volume de empréstimos disponíveis do Fundo, para US$ 750 bilhões

Instituição, que há um ano lutava por relevância, agora comanda importante parte do esforço anticrise e vira "dinossauro modernizado"

Boris Horvat - 26.mar.09/France Presse
Dominique Strauss-Kahn, do FMI; cúpula de Londres pôs instituição no centro do cenário global

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Uma das principais decisões do G20 foi a de triplicar o valor disponível para empréstimos do Fundo Monetário Internacional, dos atuais US$ 250 bilhões para US$ 750 bilhões. Se ainda não está claro de onde virá a dinheirama, que equivale à metade do PIB do Brasil, nem de que forma ela será utilizada, é certo que a reunião de Londres recolocou o FMI no centro do cenário econômico global.
A decisão teve reações divididas entre os analistas e tomou de surpresa até o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, que após o comunicado deixou escapar um entusiasmado: "O FMI está de volta. Hoje você teve a prova". No cargo desde o fim de 2007, o francês assumiu o comando de uma instituição anacrônica, que lutava para ser relevante num mundo que prescindia de seus empréstimos.
No final de 2007 e começo de 2008, sem dinheiro nem prestígio, o Fundo cortou despesas e levou adiante um programa de demissões e aposentadorias voluntárias, o que não acontecia desde a sua criação, em 1945. Cogitou vender parte de seu acervo para não fechar no vermelho. Tudo mudou a partir de setembro, quando o mercado financeiro norte-americano começou a derreter e com ele levou o resto do mundo.
Desde então, países da chamada periferia europeia, como Hungria, Sérvia, Ucrânia e Látvia, bateram às portas do FMI, que se viu às voltas com um novo problema: risco de faltar capital para atender a todos os interessados. A julgar pela disposição de 20 das economias mais ricas do planeta, pelo menos esse problema acabou.

Nenhum demitido
Mas outro volta à tona. O Fundo bilionário pós-G20 é o mesmo que vinha sendo espezinhado nos últimos anos pela arrogância com que aplicou seu receituário em troca de empréstimos para a América Latina e a Ásia nos anos 90 e na virada do século atual e pelos resultados muitas vezes problemáticos obtidos pelos que seguiram a cartilha à risca.
"Nenhuma pessoa jamais foi demitida do FMI por erros cometidos nessa época", disse à Folha Mark Weisbrot, co-diretor do instituto progressista Center for Economic and Policy Research, de Washington. "Aliás, que eu saiba, ninguém na história do Fundo jamais foi demitido por incompetência. O FMI mudou, como o mundo mudou, mas a filosofia é basicamente a mesma."
Nem todos concordam com a tese. Para Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo que representa um grupo de nove países no FMI, entre eles o Brasil, "a crise foi tão violenta que colocou o dinossauro no centro do palco de novo". Mas no meio do caminho, diz ele, o dinossauro se modernizou.
No cargo há dois anos, o brasileiro cita como exemplo a recém-criada Linha de Crédito Flexível. Anunciada duas semanas atrás, empresta dinheiro sem monitoramento, sem a famigerada carta de intenção nem critérios de desempenho, e já tem um candidato.
É o México, que deve tomar o que será o maior empréstimo da história do FMI, algo entre US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões. "A gravidade da crise fez com que o processo de transformação acontecesse muito rápido", diz Nogueira Batista, citando que uma linha de crédito nesses moldes seria inconcebível há meros seis meses.
Outros veem uma volta por cima. É o caso de Simon Johnson, ex-economista-chefe do FMI, hoje no Peterson Institute for International Economics, de Washington. "Um ano atrás, esses mesmos países [do G20] estavam forçando o Fundo a passar por uma série muito danosa de cortes de orçamento", disse.
"Agora, o FMI está sendo chamado a vir para o resgate. Acho que o lema do dia é "Ops, desculpe. Por favor, volte e ajude os países com imensas quantidades de dinheiro"."
Ou, nas palavras do diretor-gerente da instituição, Strauss-Kahn, ao fim da reunião de Londres: "Se você olhar para a governança da globalização, se você olhar para os meios para lidar com a crise, em cada estágio do que o G20 está trabalhando, você vai encontrar o FMI". Se isso é um bom sinal, os próximos meses dirão.


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