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Nos EUA, calote em cartões de crédito é o maior em 20 anos
Em algumas bandeiras, total de inadimplentes chegou a até 9% em fevereiro
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O total de calotes nos pagamentos de cartões de crédito
nos Estados Unidos atingiu o
maior patamar em 20 anos,
com até 9% dos clientes inadimplentes em algumas bandeiras. O total de não pagamentos chegou a cerca de US$ 400
bilhões em fevereiro, o equivalente ao dobro das reservas em
dólar do Brasil.
Mantido o atual nível de calotes (a expectativa é que ele cresça), as perdas definitivas de empresas e bancos podem chegar
a US$ 75 bilhões em 2009. O
valor é 60% maior do que toda a
ajuda dada pelo Tesouro dos
EUA ao Citigroup.
As empresas da área, que antes ofereciam até US$ 100 para
o cliente adquirir um novo cartão, agora propõem descontos
de até US$ 300 nas dívidas dos
usuários. Com uma única condição: que ele cancele o plano e
devolva o cartão.
A onda de calotes nos cartões
de crédito já está sendo avaliada por alguns especialistas como ameaça tão importante,
embora em escala menor,
quanto a inadimplência no setor imobiliário (que devastou o
sistema bancário nos EUA).
Assim como ocorre com os
empréstimos imobiliários, as
dívidas dos usuários de cartões
também são "empacotadas" em
títulos que depois são vendidos
no mercado pelos bancos. Se o
cliente não paga, esses papéis
também viram "ativos tóxicos"
-que estão no centro do "entupimento" do sistema de crédito
nos EUA.
Em média, os norte-americanos têm hoje cerca de quatro
cartões de crédito, um a mais
do que há cinco anos. Afundados em dívidas recordes, cerca
de 90% dos usuários de cartões
rolam seus débitos no crédito
rotativo pelo menos uma vez ao
ano. Mas 45% o fazem todos os
meses. Agora, milhares de consumidores estão simplesmente
deixando de honrar até o pagamento mínimo.
Temendo maiores prejuízos,
os maiores bancos e operadoras de cartões de crédito nos
EUA estão aumentando tarifas
e juros para tentar forçar maus
pagadores a caírem fora do sistema. Ou cortando abruptamente tanto o crédito disponível quanto os planos de acúmulo de pontos para passagens aéreas. Na maioria dos contratos,
o rompimento unilateral pelo
banco faz parte do jogo.
Meredith Whitney, analista
de Wall Street e especialista em
cartões de crédito, acredita
que, diante das perdas, os bancos e empresas de cartões tendem a cortar pela metade, até o
final de 2010, a oferta de crédito no sistema norte-americano.
Hoje, o mercado de cartões movimenta US$ 5 trilhões por ano
(quatro PIBs brasileiros).
Se isso ocorrer, será um baque de imensas proporções para consumidores e empresas.
Mas o corte nas linhas de crédito já afeta diretamente as pequenas empresas. Segundo a
NSBA (Associação das Pequenas Empresas Americanas, na
sigla em inglês), cerca de metade das firmas com menos de
500 funcionários no país usam
os cartões de crédito como instrumento de capital de giro.
"Cerca de 30% das empresas
que consultamos em uma pesquisa recente apontaram diminuição no limite de crédito imposto pelos bancos", afirma
Todd McCracken, presidente
da NSBA, que tem 150 mil associados nos EUA.
Para Moshe Orenbuch, analista do Credit Suisse, as empresas não apenas temem um
novo "tsunami" de calotes na
área como estão cortando crédito e cartões para reduzir custos. "As ações também visam
manter a lucratividade do negócio, pois há uma combinação
de perdas maiores e dificuldade
em obter dinheiro no mercado
para financiar os cartões", diz.
No Citigroup, maior emissor
de cartões com a bandeira MasterCard nos EUA, a inadimplência saltou de 6,9% em janeiro para 9,3% em março. Na
American Express, o aumento
foi de 8,3% para 8,7%.
Apesar do volume recorde de
calotes, o Citigroup está preparando o lançamento de US$ 3
bilhões em títulos lastreados
em dívidas de cartões. Desta
vez, porém, se seus clientes falharem é o contribuinte quem
vai pagar a conta. Todos os papéis terão como garantidor final o Tesouro dos EUA.
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