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Crise radicaliza ação de sindicatos na França
Desesperados, funcionários de empresas em dificuldades sequestram altos executivos para tentar evitar onda de demissões
Especialista prevê agravamento de tensões; desemprego no país atinge
2,38 milhões de pessoas,
ou 8,5% da população ativa
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Na última terça-feira, cinco
executivos de uma filial francesa do grupo norte-americano
Caterpillar foram tomados como reféns e passaram a noite
retidos nos escritórios da empresa, instalada na região de
Grenoble, no sul da França.
Eles não foram vítimas de
nenhum comando terrorista e
muito menos atacados por sequestradores. Os executivos,
entre eles o diretor-geral da fábrica na França, Nicolas Polutnik, foram retidos pelos próprios empregados, que protestavam contra o plano de demissões anunciado pela empresa.
Segundo os sindicatos, a decisão foi tomada porque a direção se negava a negociar as condições de saída e o valor das indenizações que seriam repassadas aos assalariados.
Em janeiro deste ano, o grupo Caterpillar anunciou a supressão de 25 mil postos de trabalho em todo o mundo, sendo
733 na fábrica de Grenoble. Os
sindicatos tentavam negociar
melhores indenizações e pediam a redução do número de
demissões.
O exemplo da Caterpillar,
que está longe de ser um caso
isolado, ilustra o clima de crescente tensão social que vive o
país. Também na última terça-feira, cerca de cem empregados
das redes Fnac e Conforama, filiais do grupo PPR, bloquearam
por quase uma hora o táxi que
transportava o presidente do
grupo, François-Henri Pinault.
O empresário, à frente do segundo maior grupo de luxo do
mundo, somente pôde seguir
viagem após a intervenção da
polícia. Os empregados também protestavam contra o plano de restruturação, anunciado
no dia 18 de fevereiro, que prevê a redução de 1.200 postos de
trabalho nas duas empresas.
Na semana anterior, no dia
25 de março, executivo de uma
fábrica de remédios na França,
filial do grupo norte-americano
3M, também foi feito refém por
mais de 24 horas. Poucas semanas antes, no dia 13 de março, o
presidente da Sony no país,
Serge Foucher, já havia sido retido por mais de um dia por empregados da fábrica de Pontonx-sur-l'Adour, na região dos
Landes, sudoeste da França.
Os assalariados tentavam
uma última cartada para evitar
o fechamento do local, previsto
para o próximo dia 17 de abril.
Tensão
"A multiplicação dos anúncios de supressão de empregos
em um contexto de grave crise
econômica levou a uma evidente radicalização dos movimentos e das relações sociais", avalia Guy Groux, sociólogo, especialista em movimento sociais
e professor do Instituto de
Ciências Políticas de Paris.
Segundo ele, ações radicais
como sequestros de empresários, barricadas em estradas ou
ocupação de fábricas devem se
tornar mais frequentes nos
próximos meses.
Desde que a crise financeira
mundial se transformou em
crise econômica, não se passa
uma semana sem que uma empresa na França anuncie planos
de reestruturação, muitos deles prevendo demissões.
Segundo o Instituto Nacional
de Estatística e Estudos Econômicos (Insee), somente nos seis
primeiros meses deste ano, 387
mil empregos devem desaparecer no setor privado francês.
Com isso, a taxa nacional de
desemprego tem crescido. Somente no mês de fevereiro, cerca de 80 mil pessoas ficaram
desempregadas, registrando o
segundo mês consecutivo de
aumento da desocupação, que
atinge 2,384 milhões de pessoas, ou o equivalente a 8,5 %
da população ativa.
Para o especialista em relações sociais Hubert Landier, a
crise econômica é a principal
causa da radicalização das
ações dos sindicatos e dos trabalhadores, mas não a única.
"Na França, as relações sociais
são fundadas muito mais na
confrontação do que na busca
do compromisso, como é o caso
na Alemanha e nos países do
norte da Europa", afirma.
Landier também aposta no
agravamento da tensão social
no país. "Muitas empresas que
puderam até o momento resistir com medidas como férias
coletivas ou suspensão temporária da produção serão obrigadas a demitir nos próximos meses, o que deve contribuir para
novas ações violentas", afirma.
Segundo ele, é necessário
evitar comparações simplistas.
"São trabalhadores, e não criminosos, que optaram por um
tipo de ação radical, por desespero e para chamar a atenção
da opinião pública e do governo", conclui.
Desde o inicio deste ano,
duas greves paralisaram parcialmente a França. A mais recente, no dia 19 de março, reuniu entre 1,2 milhão e 3 milhões
de pessoas, em várias cidades.
Ante o aumento do desemprego e da pressão social, o presidente francês, Nicolas Sarkozy,
anunciou na semana passada a
nomeação de um secretário para a reindustrialização, a fim de
coordenar ações do governo
nas regiões industriais mais
afetadas pela crise.
O governo também decidiu
proibir a atribuição de bônus e
de opções conversíveis em
ações a executivos de empresas
ajudadas pelo governo.
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