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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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MICROCOMÉRCIO

Apex, agência governamental, conta com R$ 8,4 milhões para divulgar artesanato brasileiro no exterior

Incentivo faz pequenos exportarem mais

Ana Ottoni/Folha Imagem
Com apoio da Apex, o artesão Lauri Mindas vendeu 4.000 panelas de barro para a França em abril


ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A renda obtida com exportações de produtos artesanais e alimentícios -mil redes aqui, 20 toneladas de mel ali, panelas de barro, cachaça, óleos da amazônia- está transformando comunidades carentes no Brasil.
O valor dessas exportações é irrisório perto dos US$ 60 bilhões que o Brasil vendeu para o exterior no ano passado. As mil redes renderam US$ 18 mil e as 20 toneladas de mel, US$ 40 mil.
O valor dos negócios, no entanto, não serve para medir o impacto social dessas vendas para o exterior. "Às vezes se imagina que só se deve investir em grandes negócios de exportação. É preciso apoiar também projetos de pequenas exportações de grande impacto social", diz o presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações), Juan Quirós.
A Apex, agência governamental, é responsável, entre outras coisas, pela divulgação das mercadorias produzidas artesanalmente. Conta com verbas de R$ 8,4 milhões para promover o artesanato brasileiro no exterior.
Uma das principais beneficiadas pelo trabalho da Apex é a ONG Mão de Minas, que congrega 5.000 artesãos e pretende exportar neste ano US$ 1,5 milhão -no ano passado, exportou US$ 200 mil (leia texto nesta página).
Entre as exportações feitas em 2002 pela Mão de Minas, estão as mil redes vendidas para a Itália e Holanda. As redes renderam quase quatro vezes mais ao produtor do que as vendidas no mercado interno, segundo Tânia Machado, uma das idealizadoras do projeto.
"Quando o artesão vende aqui, ganha de lucro cerca de R$ 5 por rede. A venda para fora rendeu um lucro de R$ 22 por rede", comemora Machado. Para conquistar o mercado externo, porém, é preciso organizar o produtor, que muitas vezes vive na informalidade, e organizar toda uma logística.
"Se dependesse do artesão, as redes chegariam cada dia de uma cor e não respeitariam a padronagem exigida pelo importador", conta Machado. Os 20 artesãos envolvidos no projeto não teriam dinheiro, por exemplo, para comprar de uma só vez a quantidade de linha necessária.
Os artesãos também não poderiam ficar sem receber dinheiro durante os três meses que gastaram para produzir as redes. Segundo Machado, a renda de um artesão varia entre 1,5 e cinco salários mínimos. Por isso, a Mão de Minas forneceu os insumos e pagou adiantado aos produtores.

Panelas e cachaças
Entre outros projetos que chamam a atenção, está o trabalho do ex-caminhoneiro Lauri Mindas, 42, que foi o primeiro artesão do Espírito Santo a firmar um contrato de exportação com uma empresa estrangeira.
Com apoio da Apex, ele vendeu para a França no mês passado 4.000 panelas de barro, produzidas em um galpão ao lado de sua casa. Mais dez países, como a Rússia, se interessaram pelo produto de Mindas, que participou em 2002 da Feira de Artesanato de Frankfurt, na Alemanha.
Depois de largar a estrada, há oito anos, Mindas começou a trabalhar com artesanato no quintal de sua casa, com a ajuda dos parentes. O negócio foi crescendo e ele teve de construir um galpão. Hoje, produz por mês de 4.000 a 5.000 panelas, todas feitas à mão.
Outro caso está na Chapada Diamantina, na Bahia. Lá, agricultores familiares estão engarrafando cachaças artesanais para exportar. O projeto conta com o apoio da Fundação Lyndolpho Silva, uma ONG que apóia a agricultura familiar. "Os beneficiados pelo programa de apoio à exportação são produtores que têm no máximo dois trabalhadores contratados e que moram na própria terra", afirma Felipe de Almeida, da Fundação Lyndolpho Silva.
Este será o segundo ano de negócios com o exterior da ONG. "É quando começam os primeiros negócios", afirma Almeida, que também apóia projetos para exportação de mel, artesanato de palha e café.

Colaboraram THIAGO GUIMARÃES e ALESSANDRA KORMANN, da Agência Folha

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