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LUÍS NASSIF
Os donos do poder
O maior desafio político
do Brasil nos próximos
anos será conter o extraordinário apetite dos novos grupos
que surgiram no país, a partir
da privatização dos anos 90.
Quando deu início ao processo de abertura da economia, Fernando Collor de Mello
se deu conta de que no rastro
da desregulamentação da economia surgiriam novos grupos
que desbalanceariam o jogo
do poder no setor privado. Sem
relações maiores com setores
mais sofisticados, apostou suas
fichas em grupos como os de
Wagner Canhedo, que levou a
Vasp, e os irmãos Martinez, da
CNT.
No governo FHC, o jogo foi
mais sofisticado, e a privatização foi feita com a nova classe
dos empresários financeiros,
mais alguns não-financeiros
que conseguiram pegar carona
no processo, grande parte com
recursos de terceiros. Grupos
industriais tradicionais foram
jogados para o segundo plano,
e o setor financeiro tradicional
foi conquistado com as benesses da política monetária.
Tomando o controle de
grandes corporações privatizadas, esses novos grupos passaram a acumular um poder sem
paralelo na história moderna
do país. Em geral, estão entre
os maiores anunciantes da mídia. São também os maiores
contratantes de pareceres.
Conseguiram o poder da pena
de consultores econômicos
com espaço na mídia e dos
maiores escritórios de advocacia do país, estendendo sua influência sobre a Justiça e as
agências reguladoras. Tudo
com recursos das empresas das
quais assumiram o controle.
Constituídas para substituir
o anacrônico modelo de fiscalização do Estado por um modelo de regulação flexível, algumas dessas agências se tornaram alvo fácil da influência
desses grupos -que, a exemplo dos grandes grupos norte-americanos aventureiros dos
anos 90, passaram a ganhar
dinheiro aprendendo a entender e controlar processos regulatórios nos diversos países que
privatizaram suas empresas.
Em alguns casos, se prevaleceram da falta de transparência,
como é o caso da Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações), cujos processos
não são públicos, e da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários).
No governo FHC, o poder
desses grupos era patente e ficou claro no famoso jantar no
Palácio da Alvorada, no qual o
presidente recebeu o dono do
Opportunity em pleno processo de tiroteio com os fundos de
pensão.
No poder, a estratégia do PT
não foi a de enquadrar, mas a
de cooptar esses grupos, trocando velhas alianças pelos
novos grupos, e com menos sutileza que FHC no controle das
agências. Documentos recentes que circularam demonstram que minutas para reajustes de tarifas foram preparadas nos próprios escritórios de
companhias telefônicas. A sucessão da CVM irá cair no colo
de um aliado do presidente
atual.
Constituídos para arejar o
ambiente econômico do país,
esses grupos são hoje o ponto
central de influência política e
candidato certo a crises políticas futuras. Se não tratarem de
moderar o apetite e adotar
ações legitimadoras, serão o
tema preferencial de qualquer
campanha de oposição.
Seu poder está se tornando
uma questão de segurança nacional.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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