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NEGÓCIOS
Poder de decisão na maior rede de varejo do país ainda ficará com Abilio Diniz
Franceses assumem 50%
do controle do Pão de Açúcar
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde o dia de ontem, o controle acionário do grupo Pão de Açúcar, a maior rede de varejo do
país, com R$ 15 bilhões de faturamento anual, passou a ser dividido entre Abilio dos Santos Diniz,
68, e o grupo francês Casino.
Nessa reengenharia societária
desenhada por Abilio e Jean-Charles Naouri, homem de frente
do Casino, quase US$ 881 milhões
devem ser embolsados pelo empresário brasileiro, que repartirá
o poder pela primeira vez.
Até então a situação era a seguinte: do total de ações ordinárias (com direito a voto) do grupo, 61% eram do Paic (Pão de
Açúcar Indústria e Comércio),
controlado, por sua vez, por Abilio; 24% pertenciam ao Casino, e
os 15% restantes ficavam com a
família Diniz (incluindo Abilio).
O acordo cria uma nova holding, que controlará o grupo. Abilio tem agora 50% das ações com
direito a voto dessa holding, e a
rede francesa, os outros 50%. Essa
nova empresa passa a deter 65,6%
do direito de voto no grupo varejista. Na transação, Valentim dos
Santos, fundador do grupo e pai
de Abilio, e Lucila Diniz, irmã de
Abilio, converteram os papéis ordinários que tinham em ações
preferenciais (sem direito a voto).
De forma geral, ao serem consideradas não só as ações ordinárias como as preferenciais que o
Casino também tem, a rede francesa passa a ser dona de 68,8% do
capital total do grupo. No entanto, o que vale, na prática, é sua
parcela de 50% no capital votante
da holding -que tem o poder de
decisão na rede. "Eu sou o responsável pela gestão. Eu tenho o
direito de tomar as decisões do
dia-a-dia. O management [administração] fica comigo. O que há é
uma ligeira mudança no controle", disse ontem Abilio Diniz, em
entrevista coletiva, ao ser questionado sobre a perda de seu poder.
Obviamente que Abilio, como
acionista majoritário, teve de
transferir ações ordinárias ao Casino -para que a cadeia chegasse
aos 50% da holding. Pela venda,
Abilio embolsa: 1) US$ 200 milhões em títulos conversíveis em
ações do Casino na França; 2) R$ 1
bilhão (US$ 404 milhões) em dinheiro; 3) US$ 277 milhões por
ações preferenciais do Pão de
Açúcar que o Casino tinha no cofre. No total ele fica com US$ 881
milhões, ou R$ 2,1 bilhões.
As metas do negócio
O que a empresa quer, com as
mudanças, é reduzir as despesas
financeiras, por meio da injeção
de novo capital no grupo. Isso deve ocorrer por conta de uma manobra prevista no acordo. Segundo o anunciado, 60 lojas -que representam cerca de 30% das vendas da rede- foram vendidas pelo Pão de Açúcar para Abilio, pelo
valor de R$ 1,029 bilhão.
A operação existiu para ajudar a
colocar novos recursos no caixa e
diminuir o peso da dívida líquida
nas contas da empresa -valor
calculado em R$ 897 milhões.
Com o capital, a empresa zera os
débitos e fica com saldo positivo.
Vai ter de pagar, no entanto,
aluguel pelos pontos que vendeu.
Algo que sempre foi criticado pelo grupo, que tem todos os pontos
próprios. Abilio vai receber da
empresa R$ 117 milhões por ano
pelo aluguel das 60 lojas.
A idéia, com a medida, era fazer
o Pão de Açúcar reduzir o capital
investido no seu imobilizado, que
ano a ano sofre depreciação.
Ontem, as ações preferenciais
do grupo Pão de Açúcar subiram
10,1% na Bolsa de Valores de São
Paulo. Na França, os papéis do
Casino fecharam em baixa de
1,2%, depois que agências de classificação de risco rebaixaram a
perspectiva para a dívida da rede.
A Standard & Poor's citou preocupação com a possibilidade de
aumento da dívida da Casino.
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