São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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NEGÓCIOS

Poder de decisão na maior rede de varejo do país ainda ficará com Abilio Diniz

Franceses assumem 50% do controle do Pão de Açúcar

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o dia de ontem, o controle acionário do grupo Pão de Açúcar, a maior rede de varejo do país, com R$ 15 bilhões de faturamento anual, passou a ser dividido entre Abilio dos Santos Diniz, 68, e o grupo francês Casino.
Nessa reengenharia societária desenhada por Abilio e Jean-Charles Naouri, homem de frente do Casino, quase US$ 881 milhões devem ser embolsados pelo empresário brasileiro, que repartirá o poder pela primeira vez.
Até então a situação era a seguinte: do total de ações ordinárias (com direito a voto) do grupo, 61% eram do Paic (Pão de Açúcar Indústria e Comércio), controlado, por sua vez, por Abilio; 24% pertenciam ao Casino, e os 15% restantes ficavam com a família Diniz (incluindo Abilio).
O acordo cria uma nova holding, que controlará o grupo. Abilio tem agora 50% das ações com direito a voto dessa holding, e a rede francesa, os outros 50%. Essa nova empresa passa a deter 65,6% do direito de voto no grupo varejista. Na transação, Valentim dos Santos, fundador do grupo e pai de Abilio, e Lucila Diniz, irmã de Abilio, converteram os papéis ordinários que tinham em ações preferenciais (sem direito a voto).
De forma geral, ao serem consideradas não só as ações ordinárias como as preferenciais que o Casino também tem, a rede francesa passa a ser dona de 68,8% do capital total do grupo. No entanto, o que vale, na prática, é sua parcela de 50% no capital votante da holding -que tem o poder de decisão na rede. "Eu sou o responsável pela gestão. Eu tenho o direito de tomar as decisões do dia-a-dia. O management [administração] fica comigo. O que há é uma ligeira mudança no controle", disse ontem Abilio Diniz, em entrevista coletiva, ao ser questionado sobre a perda de seu poder.
Obviamente que Abilio, como acionista majoritário, teve de transferir ações ordinárias ao Casino -para que a cadeia chegasse aos 50% da holding. Pela venda, Abilio embolsa: 1) US$ 200 milhões em títulos conversíveis em ações do Casino na França; 2) R$ 1 bilhão (US$ 404 milhões) em dinheiro; 3) US$ 277 milhões por ações preferenciais do Pão de Açúcar que o Casino tinha no cofre. No total ele fica com US$ 881 milhões, ou R$ 2,1 bilhões.

As metas do negócio
O que a empresa quer, com as mudanças, é reduzir as despesas financeiras, por meio da injeção de novo capital no grupo. Isso deve ocorrer por conta de uma manobra prevista no acordo. Segundo o anunciado, 60 lojas -que representam cerca de 30% das vendas da rede- foram vendidas pelo Pão de Açúcar para Abilio, pelo valor de R$ 1,029 bilhão.
A operação existiu para ajudar a colocar novos recursos no caixa e diminuir o peso da dívida líquida nas contas da empresa -valor calculado em R$ 897 milhões. Com o capital, a empresa zera os débitos e fica com saldo positivo.
Vai ter de pagar, no entanto, aluguel pelos pontos que vendeu. Algo que sempre foi criticado pelo grupo, que tem todos os pontos próprios. Abilio vai receber da empresa R$ 117 milhões por ano pelo aluguel das 60 lojas.
A idéia, com a medida, era fazer o Pão de Açúcar reduzir o capital investido no seu imobilizado, que ano a ano sofre depreciação.
Ontem, as ações preferenciais do grupo Pão de Açúcar subiram 10,1% na Bolsa de Valores de São Paulo. Na França, os papéis do Casino fecharam em baixa de 1,2%, depois que agências de classificação de risco rebaixaram a perspectiva para a dívida da rede. A Standard & Poor's citou preocupação com a possibilidade de aumento da dívida da Casino.


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