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agrofolha
Indústria da carne avalia criação do "conselho do boi"
Proposta prevê que frigorífico e produtor se unam para calcular referência de preço
Exemplo do uso de critérios técnicos em negociações vem sendo praticado nas cadeias produtivas do leite
e da cana no centro-sul
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Um dos principais problemas entre pecuaristas e frigoríficos é a desconfiança na hora
das negociações. O valor pago
pela arroba e a pesagem são
pontos de atrito em boa parte
das operações. Com a crise, um
novo item de desconfiança tomou forma: o pagamento.
Para melhorar esse relacionamento, Douglas Oliveira, do
frigorífico Mercosul, propõe a
criação de um Conseboi, que
seria um conselho formado por
pecuaristas e frigoríficos para
acompanhamento de todo o
processo da carne, do pasto à
exportação ou ao consumo interno. Esse acompanhamento
seria um ponto de referência
para o pagamento do boi.
A ideia foi colocada em prática pelos setores sucroalcooleiro e de leite no Paraná e está
dando certo. "Acabaram os
conflitos", diz Antonio de Padua Rodrigues, da Unica (entidade que reúne as usinas).
As discussões ainda existem,
mas são todas levadas para o
Consecana e avaliadas por um
órgão técnico, diz ele.
O Consecana é formado por
cinco membros das indústrias e
outros cinco de fornecedores.
As decisões são sempre tomadas por consenso, e por trás do
Consecana há um órgão técnico, composto por mais oito representantes de cada lado, que
é responsável pelo acompanhamento e por análises do setor.
O preço da tonelada de cana,
paga ao produtor, é formado
com base no preço médio de
venda dos dois produtos do setor -açúcar e álcool-, mas
conforme o mix de nove segmentos do mercado: açúcar para mercado interno e externo;
álcool anidro, hidratado, de uso
químico para mercados internos e externos etc.
O Conseleite, no Paraná,
também tem o objetivo de formação do preço do leite, com
base nos preços dos 14 subprodutos negociados pelas indústrias no atacado. "É um ponto
de referência, com livre negociação entre produtor e indústria", diz Maria Sílvia Digiovani, engenheira agrônoma da
Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). "É
uma divisão de lucros na época
de bons preços e uma divisão de
prejuízos na época de valores
menores para os produtos", diz.
Colocada durante um seminário do banco Rabobank sobre
o setor de carnes, a criação do
Conseboi, segundo Oliveira,
ainda é apenas uma ideia.
Outras instituições, no entanto, já procuraram a Unica
para saber detalhes do Consecana -entre elas, um dos principais frigoríficos do país.
O objetivo do Conseboi seria
a formação do preço do boi a
partir dos valores de vendas
dos diversos tipos de carnes pelos frigoríficos. Isso evitaria o
"descasamento" entre a matéria-prima e o produto final.
Assim como o produtor poderia receber mais pelo boi em
períodos de alta da carne nos
mercados interno e/ou externo, o frigorífico poderia reduzir
custos nos momentos de baixa
desses produtos, pagando pelo
boi o correspondente ao do
mercado de venda da carne.
"A iniciativa é muito boa,
porque vai expor os problemas", diz Luciano Vacari, da
Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Estado
que detém o maior rebanho
brasileiro e que enfrenta problemas na comercialização em
várias regiões.
"É uma ideia muito interessante e um começo de uma gestão compartilhada", acrescenta. Para Vacari, cada lado pode
apresentar seus problemas e
este "é um momento muito
bom para isso".
Na avaliação dos pecuaristas,
os problemas existentes no setor não são segredo para ninguém e é preciso que as partes
se reúnam para discussões.
A formação de um conselho
desse tipo exige, no entanto, a
abertura de contas. Digiovani
diz que, semanalmente, as indústrias de leite que participam
do conselho fornecem a um órgão independente -no caso do
Conseleite, a Universidade Federal do Paraná- o faturamento de todos os produtos.
Exemplo uruguaio
O Uruguai, importante produtor de carne, também vive
uma desconfiança entre produtores e pecuaristas, mas a situação foi atenuada com a participação ativa do Inac (Instituto
Nacional de Carnes), segundo
Daniel Soggetti, do instituto.
O Inac é composto por dois
membros do Ministério de
Agricultura do país, dois da pecuária e dois dos frigoríficos. As
discussões do setor ocorrem
dentro desse órgão.
Em comum acordo entre pecuaristas e frigoríficos, o Inac
instalou sete balanças em cada
frigorífico. A pesagem, que começa com o gado em pé, termina com a carne após a desossa.
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