UOL


São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Temor de bancos é inadimplência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal poderiam aumentar em R$ 40,7 bilhões o total de empréstimos concedidos a seus clientes, mas não o fazem com receio de sofrer com um aumento da inadimplência.
O valor foi levantado pela empresa de consultoria ABM Consulting com base nas demonstrações financeiras publicadas pelos dois bancos. O número considera o total de dinheiro que esses bancos estatais poderiam aplicar em operações de crédito sem que fossem desrespeitadas as normas fixadas pelo Banco Central.
De maneira simplificada, as regras impostas pelo BC funcionam da seguinte maneira: todo banco é obrigado a possuir R$ 1 de patrimônio para cada R$ 9,1 que for emprestado para seu cliente. A medida é uma tentativa de garantir que, caso haja um calote, o banco possa cobrir parte do prejuízo com seu próprio capital, afastando o risco de quebra da instituição financeira.
A Caixa Econômica Federal, por exemplo, possui hoje uma carteira de crédito de aproximadamente R$ 20 bilhões. Pelo tamanho de seu patrimônio, esse valor poderia ser ampliado em R$ 17 bilhões. O mesmo ocorre com o Banco do Brasil, que tem capacidade de expandir suas operações de financiamento em R$ 23,7 bilhões.
Em vez de direcionar essa "sobra" para novos empréstimos, porém, os bancos preferem utilizar os recursos para aplicar em títulos públicos, que apresenta menores riscos ao investidor.
Juntos, Banco do Brasil e Caixa aplicam R$ 136,7 bilhões em títulos e valores mobiliários, de acordo com a ABM Consulting. Parte desses papéis foram recebida pelas estatais em 2001, quando o Tesouro Nacional socorreu bancos públicos federais que enfrentavam dificuldades financeiras.
A preferência dada aos títulos públicos em detrimento dos empréstimos ao setor privado é uma prática é comum entre os bancos. Mas chama a atenção no caso das instituições controladas pela União, já que uma das diretrizes do governo federal é, justamente, incentivar a expansão do crédito disponível no país, numa tentativa de estimular o crescimento da economia.
"Atualmente, não há atividade econômica para que o banco possa soltar mais crédito", diz o vice-presidente de Controladoria da Caixa, João Dornelles. Segundo Dornelles, diante do atual cenário, uma expansão repentina do crédito levaria a um aumento muito forte da inadimplência, o que traria prejuízos ao banco.
A Caixa planeja promover um aumento de R$ 8,8 bilhões na oferta de empréstimos a seus clientes neste ano. Esse número inclui tanto a carteira comercial da Caixa (financiamentos a empresas e pessoas físicas) quanto aos financiamentos habitacionais oferecidos pela instituição.
Parte dos títulos que a Caixa e o Banco do Brasil têm hoje em suas carteiras foram entregues aos bancos pelo governo em meados de 2001. O Tesouro assumiu créditos podres dos dois bancos para adequá-los às normas do Banco Central e, em troca, entregou títulos do governo federal.
"O saneamento dos bancos federais custou, em 2001, R$ 25 bilhões", explica Erivelto Rodrigues, da Austin Asis. Ele avalia que os bancos públicos não deveriam ser muito agressivos na concessão de créditos. Caso contrário, diz, o governo corre o risco de ter que socorrê-los novamente em um ou dois anos. "Neste caso, você subsidia o crédito agora para socializar o prejuízo depois."


Colaborou a Reportagem Local

Texto Anterior: Ação do BB cai 6,2% e minoritário reclama
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.