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Ação do BB cai 6,2% e
minoritário reclama
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A informação de que o governo
pode obrigar os bancos estatais a
reduzir o "spread" para reduzirem as taxas de juros fez com que
as ações ordinárias do BB registrassem a maior queda de ontem
na Bovespa, 6,2%.
Essa decisão, se for tomada, pode resultar, além de perda de rentabilidade dos bancos, em um
golpe contra contra metas estabelecidas pelo próprio governo.
Na avaliação da Animec (Associação Nacional dos Investidores
do Mercado de Capitais), entidade que representa interesse dos
acionistas minoritários, o governo ""dará um tiro no próprio pé".
""É absurdo ("spread" mais baixo
que a média do mercado). Os investidores do BB estarão sendo
prejudicados, com a perda de rentabilidade", diz Gregório Mancebo, vice-presidente da Animec.
Segundo o representante dos
minoritários, a eventual atitude
do governo pode comprometer a
oferta pública de ações do Banco
do Brasil prevista para o segundo
semestre. Em dezembro passado,
o governo cancelou a oferta porque não houve interessados em
número suficiente para realizá-la.
""Que investidor vai querer
comprar ações de um banco no
qual o controlador o faz perder
dinheiro por conta de interesse
político?", indaga Mancebo.
Depois de acumular por anos
resultados ruins, sendo usado para fins políticos, o BB recebeu
uma injeção de capital do Tesouro em 1999 e passou a atuar como
um banco comercial. No primeiro
trimestre deste ano, lucrou R$ 349
milhões, 37,2% a mais que no
mesmo período de 2002 -resultado impulsionado pelo aumento
das receitas de intermediação financeira (subiram 49,2%).
Só protestar
De acordo com Mancebo, no
âmbito legal não há nada que os
acionistas minoritários possam
fazer para impedir o governo de
obrigar o banco a praticar juros
mais baixos. ""O Tesouro é o controlador, é ele quem decide a forma como o BB atuará no mercado", diz o economista. "Poderemos, no máximo, se confirmado,
levantar a mão nas reuniões de
acionistas e protestar", completa.
""Se tomarem essa medida, os
acionistas vão vender ações às toneladas. Não se pode mexer no resultado do banco para resolver
problema político", diz Catarina
Pedroso, do BBV.
Para ela, o banco inevitavelmente seria afetado com eventual
queda do "spread" porque parte
considerável de seus ganhos sai
da carteira de empréstimos.
Pedroso lembra que, no caso de
operações de crédito agrícola, o
BB costuma oferecer taxas subsidiadas -ou seja, mais baixas que
as praticadas pelo mercado, mas
acaba recebendo a diferença dos
juros menores por parte do Tesouro Nacional. ""Banco procura
lucro, não pode ser diferente com
o Banco do Brasil", argumenta.
Ao contrário do BB, a Caixa
Econômica Federal não tem ações
negociadas na Bolsa - eventual
perda de rentabilidade afetaria
somente os cofres públicos.
Em março deste ano, a Caixa
anunciou o maior lucro de sua
história, R$ 1,081 bilhão (referente
ao exercício de 2002), dos quais
R$ 222 milhões foram repassados
ao Tesouro. Com o resultado de
2002, o banco pôde recuperar
parte do prejuízo histórico que tivera um ano antes: em junho de
2001, o governo teve que despejar
R$ 9,5 bilhões na CEF e refinanciar outros R$ 53,5 bilhões em
créditos podres que a Caixa mantinha em sua carteira.
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