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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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Ação do BB cai 6,2% e minoritário reclama

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A informação de que o governo pode obrigar os bancos estatais a reduzir o "spread" para reduzirem as taxas de juros fez com que as ações ordinárias do BB registrassem a maior queda de ontem na Bovespa, 6,2%.
Essa decisão, se for tomada, pode resultar, além de perda de rentabilidade dos bancos, em um golpe contra contra metas estabelecidas pelo próprio governo.
Na avaliação da Animec (Associação Nacional dos Investidores do Mercado de Capitais), entidade que representa interesse dos acionistas minoritários, o governo ""dará um tiro no próprio pé".
""É absurdo ("spread" mais baixo que a média do mercado). Os investidores do BB estarão sendo prejudicados, com a perda de rentabilidade", diz Gregório Mancebo, vice-presidente da Animec.
Segundo o representante dos minoritários, a eventual atitude do governo pode comprometer a oferta pública de ações do Banco do Brasil prevista para o segundo semestre. Em dezembro passado, o governo cancelou a oferta porque não houve interessados em número suficiente para realizá-la.
""Que investidor vai querer comprar ações de um banco no qual o controlador o faz perder dinheiro por conta de interesse político?", indaga Mancebo.
Depois de acumular por anos resultados ruins, sendo usado para fins políticos, o BB recebeu uma injeção de capital do Tesouro em 1999 e passou a atuar como um banco comercial. No primeiro trimestre deste ano, lucrou R$ 349 milhões, 37,2% a mais que no mesmo período de 2002 -resultado impulsionado pelo aumento das receitas de intermediação financeira (subiram 49,2%).

Só protestar
De acordo com Mancebo, no âmbito legal não há nada que os acionistas minoritários possam fazer para impedir o governo de obrigar o banco a praticar juros mais baixos. ""O Tesouro é o controlador, é ele quem decide a forma como o BB atuará no mercado", diz o economista. "Poderemos, no máximo, se confirmado, levantar a mão nas reuniões de acionistas e protestar", completa.
""Se tomarem essa medida, os acionistas vão vender ações às toneladas. Não se pode mexer no resultado do banco para resolver problema político", diz Catarina Pedroso, do BBV.
Para ela, o banco inevitavelmente seria afetado com eventual queda do "spread" porque parte considerável de seus ganhos sai da carteira de empréstimos.
Pedroso lembra que, no caso de operações de crédito agrícola, o BB costuma oferecer taxas subsidiadas -ou seja, mais baixas que as praticadas pelo mercado, mas acaba recebendo a diferença dos juros menores por parte do Tesouro Nacional. ""Banco procura lucro, não pode ser diferente com o Banco do Brasil", argumenta.
Ao contrário do BB, a Caixa Econômica Federal não tem ações negociadas na Bolsa - eventual perda de rentabilidade afetaria somente os cofres públicos.
Em março deste ano, a Caixa anunciou o maior lucro de sua história, R$ 1,081 bilhão (referente ao exercício de 2002), dos quais R$ 222 milhões foram repassados ao Tesouro. Com o resultado de 2002, o banco pôde recuperar parte do prejuízo histórico que tivera um ano antes: em junho de 2001, o governo teve que despejar R$ 9,5 bilhões na CEF e refinanciar outros R$ 53,5 bilhões em créditos podres que a Caixa mantinha em sua carteira.


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