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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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LUÍS NASSIF

O câmbio em todo lugar

Dentro da série "em todo lugar é assim", brandida constantemente pelo Banco Central para justificar suas políticas, vamos ao tema "monitoramento do câmbio". Cada vez que se pede ao BC para evitar volatilidade do dólar ou valorização do real, a resposta é que o mercado é quem determina o nível do câmbio, porque "em todo lugar é assim".
Vamos às análises do professor Yoshiaki Nakano, tomando como base estudos do FMI, feitos com números até março de 2001. Segundo esses estudos do FMI, há dois anos o mundo poderia ser dividido em quatro grandes blocos, classificados segundo a intensidade de atuação no câmbio.
1) No primeiro bloco, 47 países, praticamente todos desenvolvidos, nos quais a intervenção no mercado de câmbio visava "moderar a taxa de variação e evitar flutuações indevidas das moedas locais". As intervenções são mais amenas apenas porque esses países não sofrem de vulnerabilidade externa, têm sistema financeiro estruturado e grande parte da dívida em moeda nacional. Em alguns casos, houve intervenção coordenada de países do G7 (caso clássico do Acordo Plaza), em outras o banco central local interveio de maneira isolada. Na reunião do G8 desta semana, por exemplo, discutiram-se intervenções coordenadas entre o BCE (Europa), o BOJ (Japão) e o Fed (EUA) para conter a disparada do euro.
2) Em 33 países, sobretudo os em desenvolvimento, a intervenção detectada era ativa, e a flutuação, administrada, mas sem regras fixas ou trajetórias predefinidas para a taxa de câmbio. São países sem liquidez, com o câmbio exposto a meia dúzia de operações articuladas. O Brasil entra aqui. Segundo Nakano, nos últimos cinco anos, o Brasil foi, provavelmente, o país que mais interveio no câmbio no mundo. O problema é que sempre foi para impedir que a moeda subisse mais. No total, o país gastou quase dois empréstimos com o FMI (US$ 70 bilhões) e mais outros US$ 40 bilhões em reservas desde 1998.
Nestes países, ao contrário do primeiro grupo, o controle de capitais também é arma eficaz contra a volatilidade cambial. O Chile é um caso clássico. No começo da década de 90, 80% dos ingressos de recursos no país eram de curto prazo. No final da década, quando a quarentena já era prática estabelecida, 80% eram investimentos produtivos.
3) No meio do caminho entre a taxa fixa de câmbio e alguma flutuação, o FMI categorizou os países com "regime intermediário de câmbio", como o regime de bandas e reajustes prefixados.
4) No extremo do controle cambial, estava um pequeno número de países com "currency board" e dolarização, como Bulgária, Estônia, Lituânia, Equador e Argentina (na época).
O problema central no Brasil, diz Nakano, não é a falta de controle cambial. Aqui o câmbio é centralizado, e as intervenções, constantes. Falta ao país perceber o controle do câmbio como uma arma estratégica de crescimento. Os países asiáticos perceberam isso e usam o câmbio como estratégia de definição de preço internacional das suas exportações.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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