|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O câmbio em todo lugar
Dentro da série "em todo
lugar é assim", brandida
constantemente pelo Banco
Central para justificar suas políticas, vamos ao tema "monitoramento do câmbio". Cada vez
que se pede ao BC para evitar
volatilidade do dólar ou valorização do real, a resposta é que o
mercado é quem determina o
nível do câmbio, porque "em todo lugar é assim".
Vamos às análises do professor Yoshiaki Nakano, tomando
como base estudos do FMI, feitos com números até março de
2001. Segundo esses estudos do
FMI, há dois anos o mundo poderia ser dividido em quatro
grandes blocos, classificados segundo a intensidade de atuação
no câmbio.
1) No primeiro bloco, 47 países, praticamente todos desenvolvidos, nos quais a intervenção no mercado de câmbio visava "moderar a taxa de variação
e evitar flutuações indevidas das
moedas locais". As intervenções
são mais amenas apenas porque
esses países não sofrem de vulnerabilidade externa, têm sistema financeiro estruturado e
grande parte da dívida em moeda nacional. Em alguns casos,
houve intervenção coordenada
de países do G7 (caso clássico do
Acordo Plaza), em outras o banco central local interveio de maneira isolada. Na reunião do G8
desta semana, por exemplo, discutiram-se intervenções coordenadas entre o BCE (Europa), o
BOJ (Japão) e o Fed (EUA) para
conter a disparada do euro.
2) Em 33 países, sobretudo os
em desenvolvimento, a intervenção detectada era ativa, e a
flutuação, administrada, mas
sem regras fixas ou trajetórias
predefinidas para a taxa de
câmbio. São países sem liquidez,
com o câmbio exposto a meia
dúzia de operações articuladas.
O Brasil entra aqui. Segundo
Nakano, nos últimos cinco anos,
o Brasil foi, provavelmente, o
país que mais interveio no câmbio no mundo. O problema é
que sempre foi para impedir que
a moeda subisse mais. No total,
o país gastou quase dois empréstimos com o FMI (US$ 70 bilhões) e mais outros US$ 40 bilhões em reservas desde 1998.
Nestes países, ao contrário do
primeiro grupo, o controle de
capitais também é arma eficaz
contra a volatilidade cambial. O
Chile é um caso clássico. No começo da década de 90, 80% dos
ingressos de recursos no país
eram de curto prazo. No final da
década, quando a quarentena
já era prática estabelecida, 80%
eram investimentos produtivos.
3) No meio do caminho entre
a taxa fixa de câmbio e alguma
flutuação, o FMI categorizou os
países com "regime intermediário de câmbio", como o regime
de bandas e reajustes prefixados.
4) No extremo do controle
cambial, estava um pequeno
número de países com "currency board" e dolarização, como Bulgária, Estônia, Lituânia,
Equador e Argentina (na época).
O problema central no Brasil,
diz Nakano, não é a falta de
controle cambial. Aqui o câmbio é centralizado, e as intervenções, constantes. Falta ao país
perceber o controle do câmbio
como uma arma estratégica de
crescimento. Os países asiáticos
perceberam isso e usam o câmbio como estratégia de definição
de preço internacional das suas
exportações.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Opinião econômica: A importância de não ser economista Índice
|