São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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Comércio adota cotas para negros

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os comerciários de São Paulo, a camisaria Colombo e a Têxtil Abril fecharam acordos que estabelecem que 20% das contratações feitas pelos dois estabelecimentos sejam de funcionários negros. São os primeiros acordos trabalhistas que prevêem cotas para trabalhadores negros, segundo as centrais sindicais.
A iniciativa foi do Sindicato dos Empregados do Comércio de São Paulo (Força Sindical), que negocia a extensão dos acordos com a Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) para os funcionários paulistas.
"Estamos discutindo com duas grandes redes a ampliação desse acordo trabalhista de inclusão social. Com o supermercado Sonae, temos um acordo para qualificar um grupo de 200 trabalhadores negros", afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato.
"A política de cotas nas universidades e no emprego pode ser contestada judicialmente, pois dá tratamento diferenciado para cidadãos com direitos iguais. Só é possível colocar critérios para admissão se eles forem necessários para o desempenho do cargo, caso contrário haverá discriminação", afirma Alcides Domingues Leite Júnior, especialista em mercado de trabalho.
O sindicato informou que os acordos foram analisados pelo Ministério Público do Trabalho e avaliados juridicamente antes de serem assinados.
O diretor-geral da Colombo, Nelson Kheirallah, informou que cerca de 25% dos mil funcionários das 48 lojas da rede -44 delas em São Paulo- são negros. "O acordo vai garantir a manutenção das vagas para os trabalhadores negros. Nosso critério sempre foi o da competência", afirma.
De acordo com a rede, as lojas paulistas empregam 29 gerentes brancos e 15 negros. "Fizemos uma pesquisa de rendimentos, e a faixa salarial entre eles é exatamente a mesma. Não há discriminação nos salários."
"Já trabalhei em shoppings e senti que havia discriminação por ser negro. Nunca me foi dada a chance de crescer profissionalmente. Aqui [na Colombo] foi diferente", diz Fábio Santos, gerente de uma unidade da Colombo há seis meses. "As pessoas têm de ser contratada por sua competência. Mas me entristece saber que, neste país, tem de haver cotas para negros nas universidades e escolas ou em acordos trabalhistas."
A Têxtil Abril firmou acordo com o sindicato nesta semana com o objetivo de combater a discriminação no setor. "Mais de 40% dos funcionários da loja já são negros ou afrodescendentes. O acordo foi um gesto para reforçar a nossa atitude contra a discriminação", diz Maria Tereza Castro da Silva, gerente da loja.


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