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Comércio adota cotas para negros
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os comerciários de São Paulo, a
camisaria Colombo e a Têxtil
Abril fecharam acordos que estabelecem que 20% das contratações feitas pelos dois estabelecimentos sejam de funcionários negros. São os primeiros acordos
trabalhistas que prevêem cotas
para trabalhadores negros, segundo as centrais sindicais.
A iniciativa foi do Sindicato dos
Empregados do Comércio de São
Paulo (Força Sindical), que negocia a extensão dos acordos com a
Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo)
para os funcionários paulistas.
"Estamos discutindo com duas
grandes redes a ampliação desse
acordo trabalhista de inclusão social. Com o supermercado Sonae,
temos um acordo para qualificar
um grupo de 200 trabalhadores
negros", afirma Ricardo Patah,
presidente do sindicato.
"A política de cotas nas universidades e no emprego pode ser
contestada judicialmente, pois dá
tratamento diferenciado para cidadãos com direitos iguais. Só é
possível colocar critérios para admissão se eles forem necessários
para o desempenho do cargo, caso contrário haverá discriminação", afirma Alcides Domingues
Leite Júnior, especialista em mercado de trabalho.
O sindicato informou que os
acordos foram analisados pelo
Ministério Público do Trabalho e
avaliados juridicamente antes de
serem assinados.
O diretor-geral da Colombo,
Nelson Kheirallah, informou que
cerca de 25% dos mil funcionários
das 48 lojas da rede -44 delas em
São Paulo- são negros. "O acordo vai garantir a manutenção das
vagas para os trabalhadores negros. Nosso critério sempre foi o
da competência", afirma.
De acordo com a rede, as lojas
paulistas empregam 29 gerentes
brancos e 15 negros. "Fizemos
uma pesquisa de rendimentos, e a
faixa salarial entre eles é exatamente a mesma. Não há discriminação nos salários."
"Já trabalhei em shoppings e
senti que havia discriminação por
ser negro. Nunca me foi dada a
chance de crescer profissionalmente. Aqui [na Colombo] foi diferente", diz Fábio Santos, gerente
de uma unidade da Colombo há
seis meses. "As pessoas têm de ser
contratada por sua competência.
Mas me entristece saber que, neste país, tem de haver cotas para
negros nas universidades e escolas ou em acordos trabalhistas."
A Têxtil Abril firmou acordo
com o sindicato nesta semana
com o objetivo de combater a discriminação no setor. "Mais de
40% dos funcionários da loja já
são negros ou afrodescendentes.
O acordo foi um gesto para reforçar a nossa atitude contra a discriminação", diz Maria Tereza Castro da Silva, gerente da loja.
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