São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PORTO SEGURO

Marcação a mercado derruba fundos e caderneta registra saldo de R$ 5,29 bi em junho, o maior da história

Mudança nos fundos vitamina poupança

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a mudança nas regras dos fundos de investimento, muitos investidores preferiram transferir seu dinheiro para a poupança, que registrou captação recorde no mês passado.
Segundo o Banco Central, os depósitos na caderneta superaram os saques em R$ 5,29 bilhões, maior saldo desde a criação da poupança, em 1966.
Foi a primeira vez neste ano que a poupança apresentou captação positiva. Entre janeiro e maio, os saques haviam superado os depósitos em R$ 2,98 bilhões.
Os rendimentos pagos aos poupadores em junho chegou a R$ 799 milhões, com isso o saldo total das aplicações na caderneta estava em R$ 125,7 bilhões.
A migração é consequência das perdas sofridas, no final de maio, por fundos DI e de renda fixa. Considerados os fundos mais seguros do mercado, eles tiveram perdas depois que o Banco Central e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) anteciparam a validade da regra que ficou conhecida como marcação a mercado.
Por essa regra, os fundos passaram a contabilizar seus ativos -em sua maioria títulos públicos- pelo seu valor de mercado. Antes, a contabilidade era feita pelo valor de aquisição dos papéis, corrigido por uma determinada taxa de juros.

Nova regra
Quando a regra entrou em vigor, em 31 de maio, percebeu-se que muitos títulos da carteira dos fundos estavam avaliados a um valor excessivamente alto. Feita a contabilidade de acordo com valores de mercado, alguns fundos registraram, em um dia, perdas de até 4% de seu patrimônio.
Estima-se que, só na primeira semana de junho, os saques nos fundos DI e de renda fixa tenham chegado a R$ 5 bilhões. Dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) mostram que no mês de junho a captação líquida -saques menos depósitos- desses dois tipos de fundo foi negativa em R$ 17,917 bilhões.
Todas as transações em fundos de investimento são registradas pela Anbid.
Os fundos DI e de renda fixa aplicam os recursos dos investidores, preferencialmente, em títulos emitidos pelo governo. Esses papéis pagam juros próximos aos juros básicos da economia, hoje em cerca de 1,5% ao mês.

Humor do mercado
Essa rentabilidade, porém, está sujeita às variações de humor do mercado financeiro. Nas últimas semanas, a procura por papéis do governo caiu, o que resultou em desvalorização dos títulos e consequentes prejuízos aos fundos.
No caso da poupança, a rentabilidade é conhecida no momento da aplicação. A caderneta paga ao poupador a variação da TR (Taxa Referencial) mais juros de 0,5% ao mês. As contas com aniversário ontem, por exemplo, renderam 0,7188%.
A rentabilidade menor da poupança é compensada pela isenção do Imposto de Renda oferecido a seus investidores. Quem coloca seu dinheiro em fundos de investimento paga 20% de IR sobre os ganhos obtidos.

Segurança
Além disso, as aplicações na caderneta são mais seguras, pois contam com a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que funciona como uma espécie de seguro. Se o banco onde o poupador mantém sua conta quebrar, o FGC garante o saque de todo o seu dinheiro, num limite de até R$ 20 mil por pessoa.
Nos fundos de investimento não há garantias. Os fundos aplicam seus recursos em títulos emitidos por governo e empresas, mas, no caso de um calote, todo o prejuízo fica com os investidores. Ou seja, não existe nenhum tipo de garantia para este tipo de investimento.



Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Opinião Econômica - Luiz Carlos Mendonça de Barros: A difícil convivência com a ignorância - 2
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.