São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Lula proporá ao G8 ação contra especulação

Entre as medidas, está a fixação de limite para a atuação de "hedge funds" no mercado futuro de índices de commodities

Objetivo é evitar a disparada de preços como o do petróleo e o de produtos agrícolas; países divergem sobre forma de enfrentar o problema

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai propor na próxima reunião do G8 (os setes países mais ricos e a Rússia) medidas concretas visando uma "ação mundial coordenada" para reduzir a especulação no mercado de commodities (como petróleo e produtos agrícolas, com preços cotados internacionalmente).
Entre as medidas, em elaboração no Ministério da Fazenda, está a fixação de limites para a atuação de "hedge funds" (fundos altamente especulativos) no mercado futuro de índices de commodities a fim de evitar a disparada de preços como os do petróleo, que atingiu os US$ 145 no mercado internacional nos últimos dias.
Lula participa do encontro como convidado, nos dias 8 e 9, no Japão. Ele embarca amanhã e quer não só debater o tema da especulação financeira no mercado de commodities como defender a adoção de medidas para frear esse movimento.
O assunto já foi discutido na reunião preparatória do G8, realizada em Osaka no mês passado pelos ministros das Finanças dos sete países mais ricos e a Rússia.
Na ocasião, o ministro italiano chegou a defender medidas de regulação nos investimentos especulativos em commodities, mas não foi apoiado por outros colegas, como dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Apesar de haver um certo consenso de que parte da alta dos preços de produtos como petróleo, soja e milho está relacionada à atuação de especuladores, há divergências entre os países mais desenvolvidos sobre a melhor forma de enfrentar o problema.

Proteção
Analistas costumam destacar que os investidores passaram a atuar fortemente em commodities depois que outros ativos se desvalorizaram, como dólar, imóveis e mercado acionário, em busca de proteção para seu capital.
E decidiram fazer investimentos em mercados de commodities porque há, hoje, um ambiente propício para especulação no setor diante de uma demanda mundial crescente e oferta limitada de petróleo e produtos agrícolas -fator principal para a disparada dos preços internacionais.
Daí que a solução para o problema passaria mais pelo aumento da oferta mundial desses produtos e pela adoção de medidas que pudessem, por exemplo, conter a desvalorização do dólar provocada pela crise americana e pela redução dos juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos).
O presidente Lula avalia que, independentemente de medidas desse tipo, os países desenvolvidos precisam adotar "ações coordenadas" para reduzir a especulação no mercado de commodities que estão elevando a inflação mundial e provocando desabastecimento em países pobres.
O Congresso dos Estados Unidos também está debatendo medidas no mesmo caminho, que contam com o apoio até de megainvestidores como George Soros.
Entre as propostas em discussão no Congresso americano, está a proibição de que fundos de pensão apliquem em commodities, o que é criticado pelo mercado e não conta com o apoio do governo.
Há o temor de que medidas severas na área possam afugentar os investidores e provocar uma queda acentuada dos preços nesse setor, provocando enormes prejuízos a empresários do ramo petroleiro e de produtos agrícolas.
Cálculos apontam, por exemplo, que restrições na especulação financeira no mercado futuro de petróleo poderiam derrubar os preços do produto para a faixa entre US$ 65 e US$ 75 o barril. O interesse de fundos especuladores pelas commodities tem crescido nos últimos anos. De acordo com especialistas, o investimento total no segmento aumentou em cerca de US$ 40 bilhões em 2007, atingindo a marca de US$ 175 bilhões.


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