São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Clube do G8 mantém emergentes à margem

Brasil e seus parceiros do G5 continuarão apenas como convidados das nações ricas na reunião deste ano, no Japão

Na segunda e terça-feiras, a reunião contará apenas com os países ricos; na quarta, emergentes entram para conversar com o G8

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

A expectativa do governo brasileiro e de outros países emergentes de que o G5, formado por Brasil, China, Índia, África do Sul e México, incorpore-se formalmente ao G8, o clubão dos países mais ricos do mundo e a Rússia, não será atendida ao menos neste ano, durante a cúpula entre os dois grupos, marcada para quarta-feira em Hokkaido, a ilha mais ao norte do Japão.
Na mais recente reunião dos ministros do Exterior do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Rússia), preparatória para a cúpula de Hokkaido, não houve a mais leve menção à hipótese, embora haja um reconhecimento geral de que a governança global não pode continuar concentrada nas mãos do G8.
Com isso, o Brasil e seus parceiros do G5 continuarão como convidados de pedra do mundo rico, conforme a queixa feita em entrevista ao jornal britânico "Financial Times" pela vice-ministra do Exterior do México, Lourdes Aranda, que é a coordenadora de turno do G5 para o encontro com o G8.
"Os países desenvolvidos definiram basicamente a agenda", reclamou Aranda, para quem os líderes do G5 -e o presidente Lula será um deles- "não terão tempo suficiente" para expressar seus pontos de vista sobre a disparada dos preços de alimentação e energia.
A diplomacia brasileira não endossa a queixa da delegada mexicana. Mas o presidente Lula ameaçou, até recentemente, nem ir ao Japão exatamente porque o formato da reunião dá pouco espaço ao G5. "Viajar ao Japão apenas para almoçar custa muito caro", disse o presidente aos diplomatas que participam das negociações G8/G5.
A ameaça funcionou. "A posição do presidente Lula em favor de um maior engajamento do G5 com o G8 é muito bem sabida", disse à Folha o subsecretário de Imprensa do Ministério japonês de Relações Exteriores, Tomohiko Taniguchi.
Completou: "O governo japonês avalia que seria inútil alienar os líderes do G5. Para que a cúpula seja útil, é importante que eles tenham um sentimento de participação".
Para que haja esse sentimento de participação, montou-se o seguinte esquema: nos dias 7 e 8, reúne-se o G8 propriamente dito, com uma abertura para a África, continente que o G8 sempre promete ajudar, promessa sempre descumprida. Estarão presentes, neste ano, líderes de Argélia, Etiópia, Gana, Nigéria, Senegal e Tanzânia, além da África do Sul, que é também do G5, e do presidente de turno da União Africana. No dia 9 é que o G5 entra para conversar com o G8.

Comunicado à parte
No ano passado, na cúpula de Heiligendamm (Alemanha), já houve muito mal-estar do lado brasileiro porque o comunicado do G8 estava pronto quando o G5 passou a participar das conversas e foi emitido como se os cinco emergentes endossassem as posições dos ricos.
Neste ano haverá um comunicado do G5 à parte, o que permitirá estabelecer as diferenças com o G8. Os cinco fazem sua própria cúpula no dia 8, na cidade de Sapporo, a capital de Hokkaido.
Mais: criou-se uma nova sigla (MME, que designa "Meeting of Major Economies", ou reunião das grandes economias). É um foro proposto por George W. Bush em 2007 para discutir o aquecimento global.
Mas, neste ano, no conjunto de iniciativas da cúpula do G8+G5, ganha especial significado dado que todas as economias -grandes, pequenas e médias- vivem uma situação que tanto o Fundo Monetário Internacional como o BIS (o banco central dos bancos centrais) definiram como "crítica".
As "grandes economias" acabam representando uma espécie de nova diretoria do mundo porque participam os sete países mais ricos, os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) mais México, Austrália, Indonésia, Coréia e África do Sul.
Nessas reuniões, tendem a aflorar as divergências entre ricos e emergentes ou, ao menos, entre Lula e seus pares do G8. O presidente brasileiro já disse que o mundo deveria ser capaz de cortar, entre 60% e 80% até 2050, as emissões de gases que levam ao aquecimento global.
Já o G8, embora deva manifestar a disposição de promover cortes, não fixará números, pelo menos conforme o esboço do texto final divulgado parcialmente ontem pelo jornal "The Daily Yomiuri".
Não haverá metas numéricas nem mesmo para um período mais próximo (2020 a 2030) do que o mencionado por Lula.
No quesito preço do petróleo, o G8 deverá produzir uma perfeita platitude: enfatizar que os países produtores deveriam elevar a oferta, enquanto os países consumidores deveriam promover economia de energia e desenvolver tecnologias para energias alternativas.
É uma menção cifrada aos chamados "biocombustíveis de segunda geração", aqueles produzidos a partir de materiais não-alimentícios. Mas Lula insiste sempre em que o mundo deve chancelar um combustível de primeira geração, o álcool da cana-de-açúcar, de que o Brasil é o grande produtor e o dono da melhor tecnologia.
No G8, o Japão compra a tese. "O álcool derivado da cana é melhor do que qualquer outro disponível no mundo", diz Taniguchi, o porta-voz do Ministério do Exterior.


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