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Clube do G8 mantém emergentes à margem
Brasil e seus parceiros do G5 continuarão apenas como convidados das nações ricas na reunião deste ano, no Japão
Na segunda e terça-feiras,
a reunião contará apenas com os países ricos; na quarta, emergentes entram
para conversar com o G8
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
A expectativa do governo
brasileiro e de outros países
emergentes de que o G5, formado por Brasil, China, Índia,
África do Sul e México, incorpore-se formalmente ao G8, o
clubão dos países mais ricos do
mundo e a Rússia, não será
atendida ao menos neste ano,
durante a cúpula entre os dois
grupos, marcada para quarta-feira em Hokkaido, a ilha mais
ao norte do Japão.
Na mais recente reunião dos
ministros do Exterior do G8
(Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido,
Itália, Canadá e Rússia), preparatória para a cúpula de Hokkaido, não houve a mais leve
menção à hipótese, embora haja um reconhecimento geral de
que a governança global não
pode continuar concentrada
nas mãos do G8.
Com isso, o Brasil e seus parceiros do G5 continuarão como
convidados de pedra do mundo
rico, conforme a queixa feita
em entrevista ao jornal britânico "Financial Times" pela vice-ministra do Exterior do México, Lourdes Aranda, que é a
coordenadora de turno do G5
para o encontro com o G8.
"Os países desenvolvidos definiram basicamente a agenda",
reclamou Aranda, para quem
os líderes do G5 -e o presidente Lula será um deles- "não terão tempo suficiente" para expressar seus pontos de vista sobre a disparada dos preços de
alimentação e energia.
A diplomacia brasileira não
endossa a queixa da delegada
mexicana. Mas o presidente
Lula ameaçou, até recentemente, nem ir ao Japão exatamente porque o formato da
reunião dá pouco espaço ao G5.
"Viajar ao Japão apenas para
almoçar custa muito caro", disse o presidente aos diplomatas
que participam das negociações G8/G5.
A ameaça funcionou. "A posição do presidente Lula em favor de um maior engajamento
do G5 com o G8 é muito bem
sabida", disse à Folha o subsecretário de Imprensa do Ministério japonês de Relações Exteriores, Tomohiko Taniguchi.
Completou: "O governo japonês avalia que seria inútil
alienar os líderes do G5. Para
que a cúpula seja útil, é importante que eles tenham um sentimento de participação".
Para que haja esse sentimento de participação, montou-se
o seguinte esquema: nos dias 7
e 8, reúne-se o G8 propriamente dito, com uma abertura para
a África, continente que o G8
sempre promete ajudar, promessa sempre descumprida.
Estarão presentes, neste ano,
líderes de Argélia, Etiópia, Gana, Nigéria, Senegal e Tanzânia, além da África do Sul, que é
também do G5, e do presidente
de turno da União Africana. No
dia 9 é que o G5 entra para conversar com o G8.
Comunicado à parte
No ano passado, na cúpula de
Heiligendamm (Alemanha), já
houve muito mal-estar do lado
brasileiro porque o comunicado do G8 estava pronto quando
o G5 passou a participar das
conversas e foi emitido como se
os cinco emergentes endossassem as posições dos ricos.
Neste ano haverá um comunicado do G5 à parte, o que permitirá estabelecer as diferenças com o G8. Os cinco fazem
sua própria cúpula no dia 8, na
cidade de Sapporo, a capital de
Hokkaido.
Mais: criou-se uma nova sigla
(MME, que designa "Meeting
of Major Economies", ou reunião das grandes economias). É
um foro proposto por George
W. Bush em 2007 para discutir
o aquecimento global.
Mas, neste ano, no conjunto
de iniciativas da cúpula do
G8+G5, ganha especial significado dado que todas as economias -grandes, pequenas e
médias- vivem uma situação
que tanto o Fundo Monetário
Internacional como o BIS (o
banco central dos bancos centrais) definiram como "crítica".
As "grandes economias" acabam representando uma espécie de nova diretoria do mundo
porque participam os sete países mais ricos, os Brics (Brasil,
Rússia, Índia e China) mais
México, Austrália, Indonésia,
Coréia e África do Sul.
Nessas reuniões, tendem a
aflorar as divergências entre ricos e emergentes ou, ao menos,
entre Lula e seus pares do G8. O
presidente brasileiro já disse
que o mundo deveria ser capaz
de cortar, entre 60% e 80% até
2050, as emissões de gases que
levam ao aquecimento global.
Já o G8, embora deva manifestar a disposição de promover cortes, não fixará números,
pelo menos conforme o esboço
do texto final divulgado parcialmente ontem pelo jornal
"The Daily Yomiuri".
Não haverá metas numéricas
nem mesmo para um período
mais próximo (2020 a 2030) do
que o mencionado por Lula.
No quesito preço do petróleo,
o G8 deverá produzir uma perfeita platitude: enfatizar que os
países produtores deveriam
elevar a oferta, enquanto os
países consumidores deveriam
promover economia de energia
e desenvolver tecnologias para
energias alternativas.
É uma menção cifrada aos
chamados "biocombustíveis de
segunda geração", aqueles produzidos a partir de materiais
não-alimentícios. Mas Lula insiste sempre em que o mundo
deve chancelar um combustível de primeira geração, o álcool da cana-de-açúcar, de que
o Brasil é o grande produtor e o
dono da melhor tecnologia.
No G8, o Japão compra a tese. "O álcool derivado da cana é
melhor do que qualquer outro
disponível no mundo", diz Taniguchi, o porta-voz do Ministério do Exterior.
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