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Bird critica impacto do biocombustível nos preços
DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
O Banco Mundial (Bird) deixou vazar para o jornal britânico "The Guardian" um documento devastador para os biocombustíveis, precisamente a
menina-dos-olhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e tema permanente de sua pregação internacional.
O documento, de autoria de
Dan Mitchell, economista-sênior da entidade, responsabiliza os biocombustíveis por 75%
do aumento nos preços de alimentos no mundo, no pressuposto de que os agricultores estão preferindo desviar grãos da
alimentação humana para o
abastecimento de automóveis,
assim como destinam terras de
plantio para a produção de
combustível.
O cálculo de 75% supera, com
muita folga, todas as estimativas feitas até agora a respeito
do impacto dos biocombustíveis na alta de preços da alimentação. O governo americano diz que é de apenas 3%. Por
isso, informa "The Guardian", o
estudo do Banco Mundial não
havia sido divulgado até agora,
para não embaraçar o presidente George Walker Bush.
Já a FAO e o FMI usavam
10% e 30%, respectivamente,
como a fatia dos biocombustíveis na chamada "agflação".
O presidente Lula tem negado sistematicamente, com a
maior veemência, que os biocombustíveis influam na alta
de preços agrícolas. Na cúpula
da FAO, chegou a dizer: "É com
espanto que vejo tentativas de
criar relação de causa e efeito
entre os biocombustíveis e o
aumento do preço dos alimentos. (...) Vejo com indignação
que muitos dos dedos apontados contra a energia limpa dos
biocombustíveis estão sujos de
óleo e carvão", numa clara insinuação de que são as petrolíferas as que conspiram contra a
reputação do álcool.
O embaixador Everton Vargas, principal negociador brasileiro para a reunião que o G5
(Brasil, China, Índia, México e
África do Sul) manterá com o
G8 em Hokkaido, lembra que,
"graças aos biocombustíveis, o
país evitou o consumo de 1 milhão de barris/dia de petróleo.
Se os tivesse demandado, obviamente colocaria mais pressão sobre o preço do petróleo".
Quanto ao preço dos alimentos, diz o embaixador: "O Brasil
tem uma experiência singular
nessa área, experiência de 30
anos. Fez uso do biocombustível ao mesmo tempo em que se
tornou uma superpotência
agrícola. Não ameaça portanto
a segurança alimentar".
O problema para o álcool
brasileiro, feito de cana-de-açúcar, é que ele tem aparecido
sempre ao lado do norte-americano, derivado do milho, e, este sim, responsável pelo desvio
de terras e/ou do próprio grão
para biocombustível.
Tanto é assim que o relatório
do Banco Mundial diz que,
"sem o aumento da produção
de biocombustíveis, os estoques globais de trigo e milho
não teriam declinado de maneira apreciável e os incrementos de preços devidos a outros
fatores teriam sido moderados". Ou seja, o documento fala
em grãos que o Brasil não usa
para produzir o seu álcool.
Essa distinção foi captada,
por exemplo, pela Oxfam, respeitado órgão internacional de
promoção do desenvolvimento
e de luta contra a fome, embora
ele denuncie que os biocombustíveis "levarão 30 milhões
de pessoas à fome". Ressalva,
no entanto: "Os países ricos
gastaram até US$ 15 bilhões em
2007 para apoiar os biocombustíveis, bloqueando o mais
barato álcool brasileiro, que é
muito menos daninho para a
segurança alimentar global".
No G8, pelo menos o anfitrião, o Japão, concorda com a
ressalva. "O álcool derivado da
cana-de-açúcar é melhor do
que qualquer outro disponível
no mundo", disse à Folha Tomohiko Taniguchi, subsecretário de Imprensa do Ministério
das Relações Exteriores japonês.
(CLÓVIS ROSSI)
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