São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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CONSTRUÇÃO
Expectativa do setor imobiliário e de bancos é que custos em geral recuem e haja maior segurança jurídica
Juros tendem a cair com redução do risco

da Redação

A construção civil está animada com a desregulamentação do SFH. A expectativa é que as mudanças impulsionem o setor com novas obras e, a médio prazo, reduzam custos e atraiam mais clientes.
Para João Cesar Botelho de Miranda, diretor do Secovi-SP, a redução de custos não se limitará ao seguro habitacional, que deixou de ser tabelado no SFH e agora pode ser contratado livremente.
Segundo ele, também as taxas de juros devem baixar porque a concessão de financiamento imobiliário ficará menos insegura. Os bancos, com maior liberdade de regras e menos burocracia, terão retorno mais seguro.
"Os bancos ganham na remuneração do capital e do risco. Se o risco cai, a tendência é que emprestem mais e com maior segurança", diz Miranda.
Com o interesse dos agentes financeiros em emprestar, a tendência daqui a seis meses ou um ano é de alongamento de prazos e redução dos juros, acredita ele.
"Tudo converge para a redução dos juros", completa o diretor do Secovi, lembrando que a Caixa Econômica Federal (CEF) já fez o primeiro corte nas taxas no chamado Poupanção.
A maior segurança do crédito imobiliário virá da alienação fiduciária, figura jurídica que vai substituir o velho sistema da hipoteca nos contratos entre mutuário e agente financeiro.
A alienação fiduciária já existe há anos, no Brasil, nos financiamentos de veículos, por exemplo. Enquanto a dívida não é toda quitada pelo consumidor o carro fica "alienado", como se diz no mercado. Ou seja, não pertence a quem comprou o bem. É mais ou menos isso que vai acontecer a partir de agora no financiamento de imóveis.
No sistema de hipoteca o mutuário também não tem a propriedade definitiva do imóvel enquanto estiver devendo, mas a retomada pelo credor, em caso de inadimplência, é um processo que leva anos. Com a alienação fiduciária a retomada é mais rápida.

Volta dos bancos
Miranda, como Fábio Nogueira, diretor do BankBoston, acredita que crescerá a partir de agora a presença do sistema bancário na concessão de financiamentos imobiliários.
Nos últimos anos, com o esclerosamento do SFH, os bancos deixaram de emprestar. Muitos deles, como a própria CEF, ficaram superaplicados em crédito imobiliário, já que não tiveram retorno dos antigos financiamentos. Só agora o equacionamento dos débitos do FCVS (fundo federal que cobre resíduos de dívida) começa a andar.
O espaço dos bancos foi ocupado pelas próprias empresas do setor de construção, que passaram a lançar, com sucesso, os financiamentos diretos, tipo "plano 100".
O diretor do Secovi estima que, na fase em que os bancos ficaram arredios, construtoras/incorporadoras, cooperativas etc. passaram a responder por 70% ou 80% dos financiamentos. Os bancos, por 20% ou 30%. Agora, ele espera a inversão dessas participações.
Os novos financiamentos bancários no setor de imóveis, lembra ele, será a matéria-prima da securitização de recebíveis do SFI (Sistema Financeiro Imobiliário).
Empresas do setor de construção e bancos vendem com deságio o que têm a receber dos mutuários, fazendo dinheiro para tocar novos empreendimentos e conceder novos empréstimos.
O governo deu outro empurrão no processo de criar demanda no setor ao classificar os recebíveis imobiliários como valores mobiliários. Isso permite que os títulos sejam comprados por fundos de pensão, os que mais investem a longo prazo no país. (GJC)



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