São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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ECONOMIA INTERNACIONAL
Inflação no país está sob controle, com taxa anual de 1,7%; aluguel e transporte pressionam
Preços de serviços aumentam nos EUA

ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

Apesar de os índices de inflação dos EUA continuarem com baixas recordes -os preços subiram 1,7% no último ano- alguns aumentos vêm atingindo diretamente o bolso dos americanos e, mais ainda, o dos turistas.
O setor de serviços teve, entre maio de 1997 e maio de 1998, um aumento de preços de 2,8%. Comparado ao setor de produtos manufaturados e alimentos, cujos preços subiram 0,1% no período, ou mesmo visto mais detalhadamente, passa a ser preocupante.
O preço de aluguéis, por exemplo, subiu 3,1%, de serviços de hotéis, 5,5%, transporte público, 3,4%, serviços dentários, 4,1%, e tíquetes para eventos, 4,8%, entre outras das 30 categorias em que o Bureau of Labor Statistics, do Departamento do Trabalho dos EUA, detectou aumentos significativos.
Além disso, segundo números do órgão, a variação de preços nos últimos dois anos mostra aumentos muito maiores nos serviços que em produtos manufaturados.
Os preços dos manufaturados variam de -0,4% a 3,2% entre janeiro de 1996 e maio de 1998. Os preços de serviços aumentaram de 2,6% a 3,3%, sendo que alguns, como tarifas aéreas, variaram de -4,8% a 14,7%.
Para calcular o Índice de Preços ao Consumidor, que determina os índices de inflação, o Bureau of Labor Statistics checa todos os meses preços de 80 mil produtos.
Mesmo incluindo moradia e transporte público, por exemplo, os itens do setor de serviços são considerados como "extras", sendo "essenciais" alimentos, gasolina, carros, móveis e vestuário.
Isso explica porque os índices de inflação vêm se mantendo tão baixos, mesmo com os serviços aumentando todos os meses.
Segundo o economista-supervisor do Bureau of Labor Statistics, Daniel Ginsburg, cada um dos itens desse setor tem muito pouca influência na composição do Índice de Preços ao Consumidor. Os preços de hotéis, por exemplo, representam 2,096% do total.
"Os serviços têm aumentado mais que os demais itens, mas isso não é visto como preocupante, porque a área é muito estável", disse Ginsburg à Folha.
"Todas as crises econômicas têm como reflexo a baixa de preços de produtos manufaturados ou alimentos, que são mais voláteis, mas não de serviços, que continuam com uma enorme demanda e, por isso, com preços subindo. Enquanto permanecer assim, não haverá preocupações."
Se houvesse uma pressão maior sobre os preços, o Fed, banco central norte-americano, poderia ser levado a elevar os juros.
Alguns dos aumentos parecem insignificantes, como o da ligação em telefone público, que em alguns Estados custa US$ 0,35, e não mais US$ 0,25, ou o do tíquete de entrada para a Disneyworld, que subiu 5% em abril, para US$ 42.
Mas todos eles afetam principalmente o turista e, nesse departamento, os preços de hotéis e aluguéis são os mais "preocupantes".
O preço de uma suíte simples no Plaza Hotel, em Nova York, por exemplo, aumentou apenas US$ 20 no período de maio de 97 a maio de 98, passando de US$ 275 a US$ 295.
Segundo o gerente do escritório da presidência do Plaza, Fernando de Lima, o que de fato aumentou foi o preço de outros serviços.
"Uma lata de refrigerante no quarto, agora por US$ 4,50, custava antes US$ 3,50, um café expresso custa US$ 6,50, passar uma folha de fax, US$ 10. E todo hotel cobra esse valor. É caro para eliminar pessoas que não queremos, que vão gastar só US$ 10 em uma cerveja no bar do hotel e ficar lá o dia inteiro", diz Lima.
Mais caros ainda estão os aluguéis, tomando como exemplo Nova York. De acordo com uma pesquisa da imobiliária Corcoran, uma das maiores da cidade, um estúdio (um cômodo) aumentou 30% entre o primeiro trimestre de 97 e o primeiro trimestre de 98, passando a US$ 1.622.
Um apartamento de um quarto subiu 6%, para US$ 2.340, no mesmo período; dois quartos, 14%, para US$ 3.531; três quartos, 31%, para US$ 5.449. Um novo aumento de 20% está previsto para julho.
"Hoje você não consegue encontrar nada na cidade por menos de US$ 2.200. Há dois anos, eram US$ 800", diz a corretora de imóveis Lica Williams.
"A capacidade de construção na cidade está limitada, há um déficit de pelo menos 6.000 apartamentos por ano, e as empresas pagam qualquer aluguel para os funcionários que vêm passar um ou dois meses na cidade, porque ainda é mais barato que um hotel. Então a tendência é de subir", afirma.



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