|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO TENSO
Decisão da Merrill Lynch e especulação de queda de Palocci, rechaçada pelo governo, levam dólar a R$ 3,071
Boato e rebaixamento elevam risco e dólar
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Num dia recheado de boatos e
marcado pelo rebaixamento dos
títulos do país pela corretora americana Merrill Lynch, o dólar enfrentou forte volatilidade e fechou
com valorização de 1,19%, a R$
3,071, o maior preço desde 16 de
abril. A Bovespa caiu 1,45%.
O rebaixamento feito pela Merrill Lynch acentuou a percepção
negativa com relação ao Brasil
que já havia se instalado nos mercados internacionais na sexta-feira. Ontem, o risco-país teve alta
de 4,92%, para fechar em 895
pontos, maior nível desde abril.
Os títulos da dívida de maior negociação, os C-Bonds, recuaram
2,13%, a US$ 0,8325.
Pela manhã, enquanto o dólar
alcançava os R$ 3,113 (alta de
2,6%), circulava, pelas mesas de
operações de bancos no Brasil e
nos EUA, o boato de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci
Filho, sairia do governo.
Além desse boato, rechaçado
pelo Palácio do Planalto, outros
fatores agravavam o nervosismo
do mercado. Entre eles, a lentidão
no andamento das reformas da
Previdência e tributária e o acirramento das reivindicações dos
sem-terra e dos sem-teto.
Além desses temores, o cenário
para este semestre é menos favorável, com a expectativa de menor
volume de captações no exterior e
superávits comerciais menos robustos, o que sinaliza menos dólares disponíveis no mercado. Esse
cenário tem começado a levar
mais empresas e bancos a comprarem dólares no mercado à vista e futuro em busca de hedge
(proteção contra o sobe-e-desce
da moeda).
"Nós nos aproximamos de um
momento decisivo no que diz respeito às reformas. É natural que
surjam apreensão e nervosismo
num período desses", diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do
HSBC Investment Bank.
Bassoli diz não acreditar que o
câmbio saia fora de controle, como no segundo semestre do ano
passado, quando o dólar encostou nos R$ 4,00. Para o fim do
ano, o economista projeta que o
dólar estará em torno dos R$ 3,20.
No entanto, para a consultoria
Global Invest, o rebaixamento feito pela Merrill Lynch ontem lembra a situação vivida pelo país em
maio do ano passado. Naquele
período, o Morgan Stanley rebaixou a recomendação dos papéis
brasileiros, o que deu início "à saída de capitais do país".
"A decisão da Merrill Lynch deve ser seguida por outros grandes
bancos, tendo como principal
consequência a saída de capitais
do país, no mesmo momento em
que a queda no superávit comercial deve aumentar a necessidade
de financiamento externo. Isso
nos leva a esperar uma nova desvalorização do real e baixa dos títulos brasileiros", diz relatório
elaborado pela consultoria.
Em apenas dois dias, a moeda
norte-americana teve valorização
de 3,44% diante do real. No ano, o
dólar ainda acumula desvalorização de 13,4%.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar fechou a
R$ 3,29 no contrato de câmbio
com prazo em janeiro.
Dias piores
Com a forte pressão no câmbio
nos últimos dias, voltaram ao
mercado as dúvidas em relação à
forma que o Banco Central vai se
portar caso o dólar siga em alta.
Analistas avaliam que o BC não
deve intervir no mercado neste
momento para conter a alta do
dólar, pois o atual patamar da
moeda seria interessante para o
superávit da balança comercial.
O mercado acionário também
tem sofrido fortemente com o
maior pessimismo dos investidores. Ontem, o Ibovespa -índice
que acompanha o desempenho
das 54 ações mais negociadas-
fechou aos 12.938 pontos. Desde o
fim de junho o Ibovespa não fechava abaixo dos 13 mil pontos.
Nos dois pregões deste mês, a Bovespa acumulou perdas de 4,66%.
Nesse cenário ruim, as ações de
exportadoras têm encontrado espaço para subir. Ontem, as ações
ON (com direito a voto) da Embraer subiram 1,5%, e as ações
preferenciais da VCP tiveram alta
de 1%. A alta do câmbio normalmente atrai compradores para
papéis de exportadoras, pois dólar em patamares mais elevados
favorece suas vendas ao exterior.
Na semana passada, quando o
dólar voltou a preocupar, o destaque foram as ações da Vale do Rio
Doce, que subiram 6,68%.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Brasil contagia os países vizinhos Índice
|