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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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MERCADO TENSO

Decisão da Merrill Lynch e especulação de queda de Palocci, rechaçada pelo governo, levam dólar a R$ 3,071

Boato e rebaixamento elevam risco e dólar

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Num dia recheado de boatos e marcado pelo rebaixamento dos títulos do país pela corretora americana Merrill Lynch, o dólar enfrentou forte volatilidade e fechou com valorização de 1,19%, a R$ 3,071, o maior preço desde 16 de abril. A Bovespa caiu 1,45%.
O rebaixamento feito pela Merrill Lynch acentuou a percepção negativa com relação ao Brasil que já havia se instalado nos mercados internacionais na sexta-feira. Ontem, o risco-país teve alta de 4,92%, para fechar em 895 pontos, maior nível desde abril. Os títulos da dívida de maior negociação, os C-Bonds, recuaram 2,13%, a US$ 0,8325.
Pela manhã, enquanto o dólar alcançava os R$ 3,113 (alta de 2,6%), circulava, pelas mesas de operações de bancos no Brasil e nos EUA, o boato de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, sairia do governo.
Além desse boato, rechaçado pelo Palácio do Planalto, outros fatores agravavam o nervosismo do mercado. Entre eles, a lentidão no andamento das reformas da Previdência e tributária e o acirramento das reivindicações dos sem-terra e dos sem-teto.
Além desses temores, o cenário para este semestre é menos favorável, com a expectativa de menor volume de captações no exterior e superávits comerciais menos robustos, o que sinaliza menos dólares disponíveis no mercado. Esse cenário tem começado a levar mais empresas e bancos a comprarem dólares no mercado à vista e futuro em busca de hedge (proteção contra o sobe-e-desce da moeda).
"Nós nos aproximamos de um momento decisivo no que diz respeito às reformas. É natural que surjam apreensão e nervosismo num período desses", diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Investment Bank.
Bassoli diz não acreditar que o câmbio saia fora de controle, como no segundo semestre do ano passado, quando o dólar encostou nos R$ 4,00. Para o fim do ano, o economista projeta que o dólar estará em torno dos R$ 3,20.
No entanto, para a consultoria Global Invest, o rebaixamento feito pela Merrill Lynch ontem lembra a situação vivida pelo país em maio do ano passado. Naquele período, o Morgan Stanley rebaixou a recomendação dos papéis brasileiros, o que deu início "à saída de capitais do país".
"A decisão da Merrill Lynch deve ser seguida por outros grandes bancos, tendo como principal consequência a saída de capitais do país, no mesmo momento em que a queda no superávit comercial deve aumentar a necessidade de financiamento externo. Isso nos leva a esperar uma nova desvalorização do real e baixa dos títulos brasileiros", diz relatório elaborado pela consultoria.
Em apenas dois dias, a moeda norte-americana teve valorização de 3,44% diante do real. No ano, o dólar ainda acumula desvalorização de 13,4%.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar fechou a R$ 3,29 no contrato de câmbio com prazo em janeiro.

Dias piores
Com a forte pressão no câmbio nos últimos dias, voltaram ao mercado as dúvidas em relação à forma que o Banco Central vai se portar caso o dólar siga em alta. Analistas avaliam que o BC não deve intervir no mercado neste momento para conter a alta do dólar, pois o atual patamar da moeda seria interessante para o superávit da balança comercial.
O mercado acionário também tem sofrido fortemente com o maior pessimismo dos investidores. Ontem, o Ibovespa -índice que acompanha o desempenho das 54 ações mais negociadas- fechou aos 12.938 pontos. Desde o fim de junho o Ibovespa não fechava abaixo dos 13 mil pontos. Nos dois pregões deste mês, a Bovespa acumulou perdas de 4,66%.
Nesse cenário ruim, as ações de exportadoras têm encontrado espaço para subir. Ontem, as ações ON (com direito a voto) da Embraer subiram 1,5%, e as ações preferenciais da VCP tiveram alta de 1%. A alta do câmbio normalmente atrai compradores para papéis de exportadoras, pois dólar em patamares mais elevados favorece suas vendas ao exterior. Na semana passada, quando o dólar voltou a preocupar, o destaque foram as ações da Vale do Rio Doce, que subiram 6,68%.


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