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OPINIÃO ECONÔMICA
Reforma das instituições monetárias
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Está meio fora de foco a controvérsia sobre a permanência ou não do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles. As
denúncias devem ser investigadas,
é claro. Meirelles deve comparecer
ao Congresso para apresentar as
suas explicações. Mas de que
adiantará substituí-lo por uma
pessoa de perfil equivalente, como
ocorreu com Luiz Candiota? Troca-se seis por meia dúzia, e tudo
continua como está.
O fundamental é tratar da reforma das instituições monetárias e
quebrar a dependência do Banco
Central e da política monetária
em relação a interesses financeiros
privados. Como comentei no artigo da semana passada, existem
dois problemas principais. Primeiro, a estrutura do CMN (Conselho
Monetário Nacional), que é controlado pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central. Segundo,
a composição da diretoria do próprio Banco Central, que inclui alguns funcionários de carreira do
BC, mas é dominada por profissionais oriundos do sistema financeiro e que voltam a ele ao sair.
Comecemos pelo CMN, que fixa
as metas de inflação e outras variáveis importantes, como a TJLP
(Taxa de Juro de Longo Prazo).
Esse conselho tem atualmente
apenas três membros: o ministro
da Fazenda (que o preside), o ministro do Planejamento e o presidente do Banco Central. Por que
não ampliá-lo para incluir "ex officio" outros integrantes do governo diretamente ligados à produção, ao comércio exterior e ao emprego? Por exemplo: o ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o ministro da Agricultura,
o ministro do Trabalho e os presidentes de bancos públicos como o
BNDES e o Banco do Brasil. Isso
evitaria que decisões cruciais ficassem inteiramente nas mãos da
área econômica do governo.
Outra possibilidade seria incluir
também algumas pessoas representativas dos empresários e trabalhadores dos principais setores
da economia (comércio, indústria, agricultura e sistema financeiro). Isso tornaria o CMN ainda
mais sensível às percepções e prioridades da economia real. As metas de inflação não mais seriam fixadas apenas por meia dúzia de
macroeconomistas, muitos dos
quais com limitada vivência fora
das áreas acadêmica ou financeira.
Haveria acesso a informações
privilegiadas para agentes privados? Não necessariamente. A condução das políticas financeiras no
dia-a-dia (taxas básicas de juro,
operações de mercado aberto, depósitos compulsórios, política
cambial etc.) continuaria sendo
da responsabilidade do Banco
Central. As reuniões do CMN são
menos freqüentes e têm caráter estratégico. De qualquer maneira,
conviria torná-las transparentes.
Uma forma de fazê-lo seria divulgar a íntegra das notas taquigráficas dessas reuniões. Outra, seria
transmiti-las ao vivo por canais de
televisão. Por exemplo: a TV Câmara ou a TV Senado, como sugeriu o senador Eduardo Suplicy, o
que seria coerente com a função
fiscalizadora do Poder Legislativo.
Quanto à diretoria do Banco
Central, o essencial é torná-la
mais eclética. É recomendável que
dela façam parte funcionários de
carreira do BC e pessoas com experiência no mercado financeiro.
Mas os seus integrantes devem ter
origens mais variadas. Profissionais com vivência na indústria, no
comércio ou na agricultura seriam bem-vindos, assim como
economistas mais independentes
da ortodoxia ensinada em universidades norte-americanas ou instituições multilaterais como o
FMI.
Outro aspecto importante: estabelecer quarentena rigorosa na
saída dos diretores do Banco Central. A passagem pelo BC proporciona informações valiosas sobre
as instituições financeiras. O poder dessas informações privilegiadas diminui com o tempo. Seria
importante aprovar uma lei que
estabelecesse um período de, digamos, três anos, durante o qual um
ex-diretor do BC ficaria proibido
de exercer funções executivas, de
assessoramento ou de consultoria
em qualquer instituição financeira. Ficaríamos, assim, automaticamente livres dos yuppies oportunistas que vêem a passagem pelo BC como mero trampolim para
carreiras milionárias no sistema
financeiro.
Só assim se poderia começar a
pensar seriamente em dar autonomia formal ao Banco Central e
mandato fixo para seus diretores.
Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
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