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LUÍS NASSIF
O novo planejamento
É interessante acompanhar os primeiros ensaios
no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, especialmente a metodologia
de planejamento que está sendo
desenvolvida pelo coronel Oliva
e que consta no documento "A
Metodologia da Gestão Estratégica do NAE".
Antes dele, recorreu-se ao setor
privado, à indefectível Booz
Allen -que já havia registrado
rotundo fracasso quando contratada para tocar parte do projeto "Brasil em Ação", no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, e a reorganização
do Departamento de Promoção
Comercial do Itamaraty. O conhecimento interno no país, na
atualidade, está muito à frente
desse tipo de consultoria fast
food, que se limita a trazer manuais desenvolvidos para situações e circunstâncias diferentes,
sem capacidade de adaptá-los a
novas situações. Vendem (e caro) grife, não resultados.
A metodologia desenvolvida
pelo coronel Oliva está em linha
com tentativas de ponta desenvolvidas em poucas empresas
mundiais: a substituição do planejamento estático, que trabalha com a visão de "projeto" e de
orçamento com metas rígidas,
pela noção de processo. No modelo estático, não são levados
em conta a instabilidade do ambiente e o dinamismo da construção do futuro.
O caminho consiste em substituir o conceito de projeto pelo de
processo, e o de planejamento,
pelo de gestão. A partir daí,
emergem novos valores: a visão
global; a pró-atividade e o foco
participativo; o incentivo à criatividade; o permanente controle
do processo; o foco organizacional; a ênfase em alianças; a responsabilidade social; e a aprendizagem contínua.
A partir desses fundamentos,
está se desenhando a nova metodologia, que consiste em:
a) identificação da realidade
presente;
b) conhecimento dos fatores
históricos (ações e agentes), com
a finalidade de compreender a
dinâmica do passado, que conduziu a sua conformação na
atualidade;
c) antevisão dos possíveis cenários futuros e suas implicações na definição e na conquista
dos objetivos estratégicos identificados;
d) elaboração de todas as soluções estratégicas possíveis de
conquistar os objetivos identificados nos cenários prospectivos;
e) utilização dos fundamentos
da estratégia para selecionar a
solução estratégica mais adequada para a conquista desses
objetivos;
f) construção das "curvas de
futuro", que apontam todos os
parâmetros necessários à conquista dos objetivos estratégicos;
g) permanente interação corretiva entre o plano teórico e a
realidade, para adaptar a construção das curvas de futuro à
realidade, sem perder o foco no
objetivo;
h) aplicação do poder disponível (vontade e meios), no local,
na forma e no momento certo,
para contribuir, no presente,
com a construção do futuro e garantir a conquista dos objetivos
estratégicos pretendidos.
Por enquanto, o NAE é um ensaio, que poderá ou não trazer
resultados se conseguir fugir da
sina de dispersão que tem caracterizado as tentativas de implantação de ferramentas de gestão
do atual governo. Mas os conceitos em jogo merecem ser analisados.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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