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CVM admite que tem dificuldade de fiscalizar mercado
Volume de negócios na Bolsa aumenta 217% desde 2005, e o quadro de funcionários da autarquia federal, só 26%
Órgão ligado à Fazenda também sofre cortes de verba e precisa de
autorização para realizar concurso e contratar
FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Podem faltar fiscais no mercado de capitais. O alerta é da
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), órgão que regula
o setor no Brasil. A luz amarela
acendeu em meio ao boom nos
últimos anos da Bolsa de Valores de São Paulo. Desde 2005, o
volume de negócios aumentou
217% no pregão. Na CVM, o
quadro de funcionários cresceu
só 26%, apesar da realização de
dois concursos públicos.
Para tentar diminuir essa diferença, o órgão pede mais verbas federais e autorização para
reforçar o quadro de funcionários em mais de cem pessoas.
Atualmente, ele tem cerca de
450 funcionários na ativa para
analisar documentos e dados e
fiscalizar empresas e negócios.
"Há clara preocupação porque a CVM começa a perder
terreno diante da evolução do
mercado", afirmou o superintendente de planejamento do
órgão, Roberto Dias.
Na última sexta, a CVM disse
estar apurando se houve vazamento de informação privilegiada na venda anunciada da
Suzano Petroquímica para a
Petrobras, por R$ 2,7 bilhões.
Ela também está investigando
outro negócio envolvendo a estatal: a aquisição, em março, do
grupo Ipiranga por Petrobras,
Braskem e Grupo Ultra. Pelo
menos 26 pessoas já foram investigadas nesse caso.
O principal obstáculo para as
contratações é a dinâmica do
poder público. Como órgão ligado ao Ministério da Fazenda,
a CVM precisa de autorização
federal para realizar concurso e
contratar novas pessoas. Para
analistas e inspetores, essa burocracia é uma realidade exatamente oposta à vista no mercado financeiro, que tem a agilidade como característica mais
evidente. Isso deixaria o trabalho defasado rapidamente.
A intenção de reforçar o quadro de funcionários é antiga.
No início do ano, a CVM entregou aos ministérios da Fazenda
e do Planejamento pedido de
autorização para realizar novo
concurso -propôs contratar
110 novos funcionários.
Procurado, o Ministério do
Planejamento disse desconhecer o pedido de novo concurso.
Na Fazenda, o pedido de informação não foi respondido pela
assessoria de imprensa durante
toda a sexta-feira.
Mercado atento
No mercado, a necessidade
de reforço na CVM é tema antigo. Essa preocupação, no entanto, ficou reduzida nos últimos meses com o noticiário positivo sobre o renascimento da
Bolsa de Valores.
"O mercado cresceu muito,
mas os quadros da CVM evoluíram muito pouco, quase nada",
diz o presidente da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais do Mercado de Capitais), Álvaro Bandeira. O temor
dos analistas é que, se o xerife
do mercado não conseguir se
reequipar, a confiança na seriedade dos negócios pode cair.
José Marcos Treiger, membro do conselho do Ibri (Instituto Brasileiro de Relações com
Investidores), diz que é difícil
fazer prognósticos sobre um
eventual cenário com a CVM
enfraquecida, mas que em casos de crise é comum que o
"grande público pague a conta".
"Seja por um nível inadequado de transparência, informações não corretas, lançamento
de ações não devidamente embasadas. Os riscos podem ser de
toda sorte", afirma Treiger.
Ele observa, porém, que o
trabalho recente tem atendido
às expectativas de companhias
abertas e de investidores.
Outro obstáculo para que a
CVM mantenha esse padrão de
atendimento destacado por
Treiger é o Orçamento. Como
órgão do governo, todas as receitas obtidas caem na conta
única do Tesouro Nacional, que
repassa as verbas de volta conforme a programação anual.
O problema é que a CVM
-como todo o restante do governo- também sofre cortes de
verba. Isso pode fazer com que
as receitas recordes obtidas em
2007 não voltem na forma de
novos recursos para o orçamento do órgão em 2008. Essa
preocupação tem crescido na
direção do órgão e o recado deve ser encaminhado pela nova
presidente da CVM, Maria Helena Santana, aos ministros da
Fazenda e do Planejamento.
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