São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recuo de Petrobras e Vale arrasta outras ações

Para seguir regra de composição de carteira, fundo vende papéis de melhor desempenho

Além do recuo no valor das commodities, ação da Vale cai devido a possível aquisição; Petrobras reflete incertezas sobre nova estatal do pré-sal

DA REPORTAGEM LOCAL

A recente desvalorização das ações da Vale e da Petrobras está forçando os fundos de investimento em ações -especialmente os referenciados no Ibovespa, um dos mais populares- a venderem também papéis de outros setores que não têm nada a ver com a queda mundial no preço das commodities e que poderiam até ajudar a conter as perdas dos investidores neste momento.
Isso porque, sozinhas, as ações de Vale e Petrobras representam 33% do Ibovespa. Como esses papéis "derreteram" mais rapidamente do que o restante das ações, a proporção deles nos fundos também desabou. Há informações de que alguns fundos Ibovespa chegaram a ter por volta de 28% de seus recursos nessas ações. Como têm de refletir exatamente o Ibovespa, esses fundos são obrigados a vender ações PN da Cemig, da Transmissão Paulista e da CPFL, que ainda têm alta de 22,13%, 49,64% e 10,65%, respectivamente, no ano, para poder comprar mais Vale e Petrobras.
Resultado: também derrubam o preço de ações com boas perspectivas e não conseguem recuperar o valor das duas mais importantes empresas da Bolsa, que são prejudicadas pela saída de estrangeiros. Ontem, as ações ON da Vale recuaram 7,21%, e as da Petrobras, 5,13%; em 30 dias, as perdas somam 20% e 23,7% respectivamente.
Nas últimas semanas, Vale e Petrobras vêem suas ações derreterem na Bolsa por conta de motivos globais: o consumo de petróleo e minerais deve cair com a desaceleração mundial.
Só que a isso se somam fatores internos, como o risco regulatório. A Vale poderá enfrentar um possível aumento nos impostos de exploração de minerais. Já a Petrobras poderá perder espaço na exploração, caso o governo crie uma estatal para administrar as reservas gigantes do pré-sal.
No caso da Vale, há um terceiro risco embutido: o de fazer um mau negócio com aquisições. A empresa acaba de levantar US$ 11,5 bilhões no mercado, o que a impele a disputar a compra de empresas de porte.
"O mercado brasileiro está caindo muito mais por razões específicas da Petrobras e da Vale, que não refletem o restante da economia. Há dúvidas de que a Vale possa ser bem-sucedida numa aquisição devido à dificuldade na negociação. Além da queda nas commodities, isso potencializa o risco da Vale", disse Ricardo Almeida, professor do Ibmec-SP.
Para Daniel Doll, economista da Socopa, dificilmente a Bovespa voltará a subir se o preço das commodities não se recuperar. "Esse foco em commodity, que fez a Bolsa subir, agora está fazendo cair. Você vê lá fora as Bolsas no zero a zero o dia inteiro, só que aqui a queda foi bem pesada devido a essa concentração em commodity."
(TONI SCIARRETTA)


Texto Anterior: Bolsa cai a menor patamar desde janeiro
Próximo Texto: Queda da Bovespa divide analistas e gestores mundiais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.