|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUNDO DO POÇO
Para instituto, recuperação deverá ser lenta; projeção de crescimento para 2004, porém, é elevada
Ipea reduz previsão do PIB neste ano para apenas 0,5%
JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil está voltando do fundo
do poço, mas a emersão, desta
vez, deve ser mais lenta do que em
outras crises. A avaliação é do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O órgão, ligado ao Ministério do
Planejamento, reviu ontem de
1,6% para 0,5% a estimativa de
crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas em um ano)
para este ano, em seu boletim de
conjuntura trimestral. Em contrapartida, aumentou de 3% para
3,5% a projeção do PIB para o ano
que vem.
"O estímulo para a retomada do
crescimento virá da queda das taxas de juros e do aumento do consumo, fundamentalmente por
meio da maior oferta de crédito. É
isso que vai colocar a economia
em marcha novamente", acredita
o coordenador do Grupo de
Acompanhamento Conjuntural
do Ipea, Paulo Levy.
O Ipea também reviu a expectativa de crescimento do consumo
das famílias, de 0,2%, no boletim
divulgado em junho, para -2,1%
neste ano. Para 2004, a estimativa
passou de 3,8% para 3,9%.
A revisão teve como base a forte
queda no ganho médio do trabalhador, que despencou cerca de
15% até julho. Levy lembra que
esse recuo nunca foi tão alto, nem
mesmo em outras crises pelas
quais o Brasil passou. Portanto,
estima, a recuperação do país desta vez se dará de forma gradual.
Entre o início de 1999 e o final de
2000, período da desvalorização
cambial, por exemplo, não houve
perdas nos rendimentos dos trabalhadores, e a produção industrial aumentou um ponto percentual ao mês.
Já no ano do racionamento de
energia, quando a produção industrial caiu 9% de dezembro de
2000 a outubro de 2001, os salários ficaram 5% mais baixos.
Produção industrial
Para este ano, a previsão do Ipea
é que a produção industrial caia
0,7%, mesmo com a expectativa
de que cresça 0,2% de julho a setembro e 2% de outubro a dezembro na comparação com os trimestres anteriores.
"A renda real deve parar de cair
neste mês ou no próximo e começar a se recuperar porque ela está
muito ligada à inflação. Com os
preços mais baixos, a demanda
aumenta", diz Levy.
Ele diz que alguns indicadores já
apontam para a recuperação da
atividade industrial, como o aumento das encomendas de papelão e a alta de 5% nas vendas reais
registradas pela Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo) em julho na comparação
com junho.
Cuidados
No limite do otimismo, Levy
alerta até para o risco de a demanda exceder a oferta, caso haja uma
queda dos juros excessivamente
rápida.
"Será preciso muito cuidado para impedir que a demanda doméstica cresça a um ritmo muito
rápido e que não possa ser acompanhada pela expansão da capacidade produtiva", observa.
Ele lembra que, à exceção de
2000, os investimentos feitos no
país se mantiveram estáveis ou recuaram de um ano para o outro.
O Ipea também reviu a estimativa
de investimentos no país de uma
alta de 0,7% para queda de 4,6%
neste ano. Para 2004, a expectativa é um aumento de 4,1% no indicador.
Nos cálculos do instituto, a taxa
de juros da economia poderá chegar a 18% em dezembro (está em
22%), ficando numa média de
20% no ano. Para 2004, a estimativa é que os juros cheguem a 14%
em dezembro, atingindo a média
anual de 15%. Já a previsão de inflação foi revista de 11,5% para
9,2% neste ano e de 7,4% para
6,3% em 2004.
Texto Anterior: Luís Nassif: Vinculação e progresso Próximo Texto: Frase Índice
|