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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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FUNDO DO POÇO

Para instituto, recuperação deverá ser lenta; projeção de crescimento para 2004, porém, é elevada

Ipea reduz previsão do PIB neste ano para apenas 0,5%

JULIANA RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil está voltando do fundo do poço, mas a emersão, desta vez, deve ser mais lenta do que em outras crises. A avaliação é do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O órgão, ligado ao Ministério do Planejamento, reviu ontem de 1,6% para 0,5% a estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas em um ano) para este ano, em seu boletim de conjuntura trimestral. Em contrapartida, aumentou de 3% para 3,5% a projeção do PIB para o ano que vem.
"O estímulo para a retomada do crescimento virá da queda das taxas de juros e do aumento do consumo, fundamentalmente por meio da maior oferta de crédito. É isso que vai colocar a economia em marcha novamente", acredita o coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, Paulo Levy.
O Ipea também reviu a expectativa de crescimento do consumo das famílias, de 0,2%, no boletim divulgado em junho, para -2,1% neste ano. Para 2004, a estimativa passou de 3,8% para 3,9%.
A revisão teve como base a forte queda no ganho médio do trabalhador, que despencou cerca de 15% até julho. Levy lembra que esse recuo nunca foi tão alto, nem mesmo em outras crises pelas quais o Brasil passou. Portanto, estima, a recuperação do país desta vez se dará de forma gradual.
Entre o início de 1999 e o final de 2000, período da desvalorização cambial, por exemplo, não houve perdas nos rendimentos dos trabalhadores, e a produção industrial aumentou um ponto percentual ao mês.
Já no ano do racionamento de energia, quando a produção industrial caiu 9% de dezembro de 2000 a outubro de 2001, os salários ficaram 5% mais baixos.

Produção industrial
Para este ano, a previsão do Ipea é que a produção industrial caia 0,7%, mesmo com a expectativa de que cresça 0,2% de julho a setembro e 2% de outubro a dezembro na comparação com os trimestres anteriores.
"A renda real deve parar de cair neste mês ou no próximo e começar a se recuperar porque ela está muito ligada à inflação. Com os preços mais baixos, a demanda aumenta", diz Levy.
Ele diz que alguns indicadores já apontam para a recuperação da atividade industrial, como o aumento das encomendas de papelão e a alta de 5% nas vendas reais registradas pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em julho na comparação com junho.

Cuidados
No limite do otimismo, Levy alerta até para o risco de a demanda exceder a oferta, caso haja uma queda dos juros excessivamente rápida.
"Será preciso muito cuidado para impedir que a demanda doméstica cresça a um ritmo muito rápido e que não possa ser acompanhada pela expansão da capacidade produtiva", observa.
Ele lembra que, à exceção de 2000, os investimentos feitos no país se mantiveram estáveis ou recuaram de um ano para o outro. O Ipea também reviu a estimativa de investimentos no país de uma alta de 0,7% para queda de 4,6% neste ano. Para 2004, a expectativa é um aumento de 4,1% no indicador.
Nos cálculos do instituto, a taxa de juros da economia poderá chegar a 18% em dezembro (está em 22%), ficando numa média de 20% no ano. Para 2004, a estimativa é que os juros cheguem a 14% em dezembro, atingindo a média anual de 15%. Já a previsão de inflação foi revista de 11,5% para 9,2% neste ano e de 7,4% para 6,3% em 2004.


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