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ENERGIA
Xerife do mercado de capitais quer saber por que não recebeu informações sobre a reavaliação das reservas da estatal
CVM cobra da Petrobras explicação sobre gás
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) enviou ontem ofício
à Petrobras no qual pede que a estatal dê explicações ao mercado
sobre a triplicação de suas reservas potenciais de gás natural, com
o acréscimo de um campo de
mais de 400 bilhões de m3, na bacia de Santos (SP).
A informação sobre o tamanho
do campo de Santos, que havia sido descoberto em abril, foi dada
por dirigentes da Petrobras a investidores na sexta-feira passada,
em uma conferência via internet,
mas não teve divulgação ampla,
como é praxe em descobertas relevantes da estatal. Ela só ganhou
destaque ontem, no noticiário de
jornais e de veículos on-line, e
provocou uma alta de 3,47% nas
ações preferenciais da Petrobras
na Bolsa de Valores de São Paulo.
"Espero a resposta da empresa
amanhã. Em seguida, vamos analisar o caso. Se as explicações não
forem convincentes, o extremo
pode ser a abertura de um inquérito administrativo", afirmou ontem à noite Luiz Leonardo Cantidiano, presidente da CVM.
Segundo a CVM, o órgão regulador do mercado de ações determinou à Petrobras a publicação
de um "fato relevante", que é a
forma legal com que as empresas
de capital aberto transmitem informações ao mercado. A Petrobras não havia informado nem a
CVM nem a Bovespa sobre a reavaliação da reserva do campo. A
Bovespa não comentou o assunto.
Na época da descoberta na bacia
de Santos, a estatal anunciou que
a reserva estimada do campo era
de 70 bilhões de m3 de gás. A reavaliação praticamente triplica as
reservas brasileiras de gás, atualmente de 231 bilhões de m3.
Ontem à tarde, em entrevista, os
diretores da Petrobras que participaram da conferência na sexta,
José Sérgio Gabrielli (Financeiro)
e Guilherme Estrella (Exploração
e Produção), argumentaram que
a Bolsa já havia sido informada
anteriormente da descoberta e
que os números decorrentes da
reavaliação ainda não constituíam tecnicamente uma reserva.
"Nós comunicamos [aos participantes da conferência] na sexta-feira porque, na verdade, nós tivemos a dimensão completa disso
no dia 6 de agosto. Como ainda
são recursos não-provados como
reservas, não se constituem ainda
em fatos financeiros relevantes.
Essa foi a razão [de não ter sido
feito o comunicado à CVM e à Bovespa]", disse Gabrielli.
Ele afirmou que descobertas de
gás só podem ser consideradas
formalmente como reservas
quando têm a "comercialidade
assegurada", ou seja, quando há
um contrato "firme" de fornecimento. Antes disso, a descoberta
é classificada como "estimativa de
recursos". O processo de transformação dos recursos em reservas
leva até quatro anos.
Ao mesmo tempo, porém, os
diretores da Petrobras disseram
que a empresa já está trabalhando
com o novo número como componente das suas reservas.
Investigações
A CVM informou ontem à tarde
que, apesar da ter cobrado informações à Petrobras, não detectou
nas cotações das ações da estatal
entre sexta-feira e ontem oscilações que justifiquem a abertura de
uma investigação sobre o possível
uso de informações privilegiadas
para a compra e venda dos papéis.
Segundo a CVM, ontem mesmo
a sua Superintendência de Acompanhamento de Mercado, que
funciona em São Paulo (a sede da
CVM é no Rio), fez um levantamento das cotações e não encontrou movimentos que possam ser
considerados anormais.
Da conferência realizada na sexta, em inglês, participaram investidores nacionais e estrangeiros e
jornalistas. A empresa avalia que
houve a participação de pelo menos 50 pessoas. A convocação e as
inscrições foram feitas pelo site da
estatal na internet. O diretor Gabrielli disse não ser possível precisar o número nem os nomes das
pessoas participantes porque o
acesso era livre.
Colaborou Sérgio Ripardo,
da Folha Online
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