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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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ENERGIA

Xerife do mercado de capitais quer saber por que não recebeu informações sobre a reavaliação das reservas da estatal

CVM cobra da Petrobras explicação sobre gás

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) enviou ontem ofício à Petrobras no qual pede que a estatal dê explicações ao mercado sobre a triplicação de suas reservas potenciais de gás natural, com o acréscimo de um campo de mais de 400 bilhões de m3, na bacia de Santos (SP).
A informação sobre o tamanho do campo de Santos, que havia sido descoberto em abril, foi dada por dirigentes da Petrobras a investidores na sexta-feira passada, em uma conferência via internet, mas não teve divulgação ampla, como é praxe em descobertas relevantes da estatal. Ela só ganhou destaque ontem, no noticiário de jornais e de veículos on-line, e provocou uma alta de 3,47% nas ações preferenciais da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo.
"Espero a resposta da empresa amanhã. Em seguida, vamos analisar o caso. Se as explicações não forem convincentes, o extremo pode ser a abertura de um inquérito administrativo", afirmou ontem à noite Luiz Leonardo Cantidiano, presidente da CVM.
Segundo a CVM, o órgão regulador do mercado de ações determinou à Petrobras a publicação de um "fato relevante", que é a forma legal com que as empresas de capital aberto transmitem informações ao mercado. A Petrobras não havia informado nem a CVM nem a Bovespa sobre a reavaliação da reserva do campo. A Bovespa não comentou o assunto.
Na época da descoberta na bacia de Santos, a estatal anunciou que a reserva estimada do campo era de 70 bilhões de m3 de gás. A reavaliação praticamente triplica as reservas brasileiras de gás, atualmente de 231 bilhões de m3.
Ontem à tarde, em entrevista, os diretores da Petrobras que participaram da conferência na sexta, José Sérgio Gabrielli (Financeiro) e Guilherme Estrella (Exploração e Produção), argumentaram que a Bolsa já havia sido informada anteriormente da descoberta e que os números decorrentes da reavaliação ainda não constituíam tecnicamente uma reserva.
"Nós comunicamos [aos participantes da conferência] na sexta-feira porque, na verdade, nós tivemos a dimensão completa disso no dia 6 de agosto. Como ainda são recursos não-provados como reservas, não se constituem ainda em fatos financeiros relevantes. Essa foi a razão [de não ter sido feito o comunicado à CVM e à Bovespa]", disse Gabrielli.
Ele afirmou que descobertas de gás só podem ser consideradas formalmente como reservas quando têm a "comercialidade assegurada", ou seja, quando há um contrato "firme" de fornecimento. Antes disso, a descoberta é classificada como "estimativa de recursos". O processo de transformação dos recursos em reservas leva até quatro anos.
Ao mesmo tempo, porém, os diretores da Petrobras disseram que a empresa já está trabalhando com o novo número como componente das suas reservas.

Investigações
A CVM informou ontem à tarde que, apesar da ter cobrado informações à Petrobras, não detectou nas cotações das ações da estatal entre sexta-feira e ontem oscilações que justifiquem a abertura de uma investigação sobre o possível uso de informações privilegiadas para a compra e venda dos papéis.
Segundo a CVM, ontem mesmo a sua Superintendência de Acompanhamento de Mercado, que funciona em São Paulo (a sede da CVM é no Rio), fez um levantamento das cotações e não encontrou movimentos que possam ser considerados anormais.
Da conferência realizada na sexta, em inglês, participaram investidores nacionais e estrangeiros e jornalistas. A empresa avalia que houve a participação de pelo menos 50 pessoas. A convocação e as inscrições foram feitas pelo site da estatal na internet. O diretor Gabrielli disse não ser possível precisar o número nem os nomes das pessoas participantes porque o acesso era livre.


Colaborou Sérgio Ripardo, da Folha Online

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