São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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CERTIFICAÇÃO
Manejo sustentado pode elevar aproveitamento no setor e abrir novos mercados
Brasil desperdiça madeira e deixa de abrir mercados

MARCELO LEITE
enviado especial a Manaus

Um encontro como o que foi aberto ontem em Manaus, "Produção Sustentável de Madeira na Amazônia: Oportunidades de Negócios", deveria ser organizado pelo governo federal, não pelo Banco Mundial. Pela primeira vez, todos os setores desse ramo estigmatizado se sentam à mesa para combater um desperdício.
São mais de 110 pessoas, reunidas por dois dias -madeireiras, serrarias, compradores, investidores, entidades certificadoras, ambientalistas. Convivem até partes opostas em ações judiciais.
O desperdício é duplo. De um lado, apenas 32% a 40% da madeira derrubada termina sendo beneficiada. De outro, há um mercado internacional ainda inexplorado pelo Brasil.
O mercado fora do país é exigente. A condição para entrar nele é eliminar as práticas predatórias, adotando o manejo florestal e a certificação. Hoje, só 1 das 4.000 empresas madeireiras da Amazônia foi certificada pela entidade mais conhecida, o FSC (Conselho de Manejo Florestal).
Podem ser certificadas áreas de produção de madeira ou empresas beneficiadoras. Neste caso, certifica-se a "cadeia de custódia", ou seja, que toda a madeira usada provém de áreas que respeitam planos de manejo com padrão internacional.
O Brasil é o maior produtor mundial de madeira tropical. Ocorre que ele é também o maior consumidor. Segundo Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), só 14% da produção de florestas naturais (excluindo as plantadas) é exportada.
A produção dessas florestas saltou de 4,5 milhões de metros cúbicos, há 20 anos, para 28 milhões. Só o Estado de São Paulo consome um quinto disso, mais que o dobro da madeira tropical importada pela França. O grosso da madeira se destina à construção civil.
Os organizadores do encontro, além do Banco Mundial, incluem ONGs como o Imazon, Amigos da Terra e WWF e até um banco de investimento, o Axial. Eles querem provar que manejo e certificação são alternativas econômicas e não fantasias de ambientalistas.
"Isso aqui (certificação) representa lucros para o ambiente e a sociedade, mas também para nossos acionistas", disse John Forgách, vice-presidente do Axial.
"A certificação passou a ser um negócio e será cada vez maior. A classe madeireira evidentemente tem de evoluir para essa modernidade, afirmou Ovidio Gasparetto, representante do setor.
Duas metas concretas foram apresentadas por ONGs no workshop de Manaus: criar aqui o embrião de um grupo de compradores brasileiros que exijam produtos certificados, como outros 12 existentes no mundo (sobretudo Europa), e em cinco anos chegar a 2 milhões de metros cúbicos de madeira certificada no país.


O jornalista Marcelo Leite viajou a Manaus a convite do Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7)

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