|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CERTIFICAÇÃO
Manejo sustentado pode elevar aproveitamento no setor e abrir novos mercados
Brasil desperdiça madeira e deixa de abrir mercados
MARCELO LEITE
enviado especial a Manaus
Um encontro como o que foi
aberto ontem em Manaus, "Produção Sustentável de Madeira na
Amazônia: Oportunidades de Negócios", deveria ser organizado
pelo governo federal, não pelo
Banco Mundial. Pela primeira
vez, todos os setores desse ramo
estigmatizado se sentam à mesa
para combater um desperdício.
São mais de 110 pessoas, reunidas por dois dias -madeireiras,
serrarias, compradores, investidores, entidades certificadoras,
ambientalistas. Convivem até
partes opostas em ações judiciais.
O desperdício é duplo. De um
lado, apenas 32% a 40% da madeira derrubada termina sendo
beneficiada. De outro, há um
mercado internacional ainda
inexplorado pelo Brasil.
O mercado fora do país é exigente. A condição para entrar nele
é eliminar as práticas predatórias,
adotando o manejo florestal e a
certificação. Hoje, só 1 das 4.000
empresas madeireiras da Amazônia foi certificada pela entidade
mais conhecida, o FSC (Conselho
de Manejo Florestal).
Podem ser certificadas áreas de
produção de madeira ou empresas beneficiadoras. Neste caso,
certifica-se a "cadeia de custódia",
ou seja, que toda a madeira usada
provém de áreas que respeitam
planos de manejo com padrão internacional.
O Brasil é o maior produtor
mundial de madeira tropical.
Ocorre que ele é também o maior
consumidor. Segundo Adalberto
Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), só 14% da produção de florestas naturais (excluindo as plantadas) é exportada.
A produção dessas florestas saltou de 4,5 milhões de metros cúbicos, há 20 anos, para 28 milhões.
Só o Estado de São Paulo consome um quinto disso, mais que o
dobro da madeira tropical importada pela França. O grosso da madeira se destina à construção civil.
Os organizadores do encontro,
além do Banco Mundial, incluem
ONGs como o Imazon, Amigos
da Terra e WWF e até um banco
de investimento, o Axial. Eles
querem provar que manejo e certificação são alternativas econômicas e não fantasias de ambientalistas.
"Isso aqui (certificação) representa lucros para o ambiente e a
sociedade, mas também para nossos acionistas", disse John Forgách, vice-presidente do Axial.
"A certificação passou a ser um
negócio e será cada vez maior. A
classe madeireira evidentemente
tem de evoluir para essa modernidade, afirmou Ovidio Gasparetto,
representante do setor.
Duas metas concretas foram
apresentadas por ONGs no
workshop de Manaus: criar aqui o
embrião de um grupo de compradores brasileiros que exijam produtos certificados, como outros
12 existentes no mundo (sobretudo Europa), e em cinco anos chegar a 2 milhões de metros cúbicos
de madeira certificada no país.
O jornalista Marcelo Leite viajou a Manaus a
convite do Programa-Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7)
Texto Anterior: Opinião econômica - Benjamin Steinbruch: Esperança Próximo Texto: Aço: Gerdau tem nova fábrica no Nordeste Índice
|