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OPINIÃO ECONÔMICA
Esperança
BENJAMIN STEINBRUCH
Hoje em Brasília o presidente
Fernando Henrique Cardoso estará sancionando a lei que se
constitui em resposta concreta
aos anseios de empresários e trabalhadores das micro e pequenas empresas.
Devemos, realmente, comemorar. Todo mundo concorda
que para a economia brasileira é
importante que haja estímulos à
criação e operação das micro e
pequenas empresas. Elas são, no
conjunto, certamente a maior
fonte empregadora do país. São
também o grande celeiro de executivos e de empreendedores,
gente que se dispõe, muitas vezes, a arriscar suas carreiras, a
mudar de profissão, a abrir mão
de empregos seguros e até a pedir demissão do serviço público
só para ousar, para apostar, para acreditar que vale a pena partir para o que antes se chamava
"trabalhar por conta própria".
A verdade é que o pequeno
empreendedor poderá agora,
com a nova lei, livrar-se de uma
série de garrotes burocráticos e
trabalhistas que praticamente o
empurraram na direção da economia submersa. Só quem já
tentou "abrir uma firma" tem
idéia do inferno que é. Sabe o
que se exige de tempo e dinheiro
como punição pela ousadia de
inventar novos negócios e criar
novos empregos.
Nos últimos anos o Sebrae passou a atacar o problema de maneira mais forte e decidida. Conseguiu alguns avanços e certamente deu uma importante contribuição ao Congresso para que
a legislação simplificadora (e estimuladora) se concretizasse. E
pudesse ser sancionada, como
está ocorrendo hoje.
Na cerimônia do Palácio do
Planalto, o presidente da República terá a seu lado parlamentares e ministros que são responsáveis pelo pacote de medidas
que, em paralelo com a nova lei,
serão hoje anunciados. Essas
providências resultam de sugestões advindas de várias frentes
governamentais. É justo, no entanto, valorizar o esforço realizado pelos ministérios do Trabalho e da Previdência e Assistência Social para desatar o nó
da relação empregado/empregador nas micro e pequenas empresas. E a coordenação que o
Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior já
realizou para materializar medidas de estímulo a esse importante segmento. Uma coordenação que, a partir de hoje, está
oficializada pelo presidente da
República e que é, certamente,
um atestado do novo entendimento que o governo está adotando para estimular o crescimento da produção e que tem sido repetidamente explicado pelo
ministro Alcides Tápias em entrevistas que deu na sequência
de seu discurso de posse.
Todos esperamos que as medidas que hoje serão formalizadas
sejam, apenas, o ponto de partida para a compreensão do papel
que as micro e as pequenas empresas podem e devem representar na nova economia brasileira. Um papel preponderante como geradoras de riqueza, promotoras de emprego e estimuladoras da luta pelo crescimento
sustentado.
Essa é uma boa hora, também,
para um olhar mais largo para o
papel das empresas e dos empresários brasileiros no seu total,
um grande arco que começa na
micro empresa e, passando pelas
médias e grandes, vai até os
maiores grupos brasileiros, as
nossas megacorporações.
O governo, em seus programas
e nas declarações de seus delegados, demonstra compreender o
papel que precisa ser desempenhado pelo empresariado nacional nos desdobramentos futuros
da nossa economia.
A abertura econômica e os
avanços da globalização puseram à prova essas empresas.
Muitas estavam despreparadas
para os novos ventos da competição. Outras estavam acostumadas a resolver seus problemas
pelos processos antigos que somavam incentivos, isenções, reservas de mercado e todo um
elenco de medidas protecionistas que não tinham mais como
se sustentar no mundo de hoje.
O choque foi grande. De repente chegou a hora da verdade, representada pela concorrência
internacional que, de forma decidida, às vezes até de maneira
desleal, veio para ofertar produtos e serviços com custo compatível com as demandas do mercado.
Na outra ponta chegaram os
investidores internacionais buscando adquirir empresas locais
ou criar parcerias que lhes permitissem um pé firme em um
mercado de dezenas de milhões
de consumidores ativos e exigentes.
Em paralelo, assistimos a um
verdadeiro renascimento de empresas e empresários nacionais
que partiram para a luta e prepararam suas indústrias e seus
negócios para competir de igual
para igual com os concorrentes
estrangeiros não só no mercado
doméstico mas também nos
mercados externos onde começamos a descobrir a grande avenida das exportações.
Os problemas são muitos. Para
resolvê-los, o Brasil conta hoje
com o talento de seus executivos
-esse capital intangível de inteligência e experiência-que está
transformando as nossas empresas em celeiros para dirigentes
que já são chamados para tocar
e gerir negócios nos cinco continentes.
Temos também segmentos
econômicos que se mostram resistentes às investidas dos capitais externos que, em muitos setores, promoveram uma profunda desnacionalização de empresas de todos os portes, muitas delas vitoriosas e detentoras de histórias de décadas de sucesso.
Na Espanha e em Portugal,
por exemplo, as autoridades caminharam para a abertura e a
globalização sem esquecer que
era necessário estimular, de todas as formas, a criação de grandes grupos empresariais locais, a
partir dos núcleos já existentes.
Assim foi feito e o sucesso dessa
política explica porque no Brasil
os investidores da Península Ibérica vieram para disputar, com
grande êxito, o controle de inúmeras estatais de grande porte
que foram privatizadas.
O governo sabe que os nossos
megagrupos só são grandes no
cenário doméstico. E é por isso
que já divulga suas preocupações e seus estudos para fusões e
associações que permitam à nossa economia, por meio de empresas privadas nacionais, colocar-se em condições de enfrentar
as gigantes internacionais e,
mais do que isso, tirar partido
das oportunidades que só as
maiores têm condições de disputar.
Está na hora de avançar com
as micro, pequenas e médias
empresas. Mas o momento não
pode ser perdido pelo governo,
com o apoio da sociedade, no
sentido de estabelecer diretrizes
e definir parâmetros que fortaleçam o empresariado nacional
de médio e grande porte nas
suas lutas, permitindo que, em
todo o país, essas empresas possam ampliar negócios, criar empregos, gerar tributos e produzir
os lucros (econômicos e sociais)
que são essenciais para movimentar, com segurança, a roda
da economia e da esperança.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário,
graduado em administração de empresas e
marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos
de administração da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio
Doce. E-mail: bvictoria@psi.com.br
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