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OPINIÃO ECONÔMICA
És eternamente responsável pelo voto que cativas
BENJAMIN STEINBRUCH
Ao olhar para os resultados
das urnas, ainda parciais,
puxei lá do fundo de memória a
frase famosa escrita em "O Pequeno Príncipe" por Antoine de
Saint-Exupéry: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo
que cativas".
Por mais que a disputa eleitoral
tenha se acirrado entre governo e
oposição (leia-se PSDB), é inegável que as coalizões governistas
saem das urnas com um forte
apoio popular, materializado em
vitórias expressivas principalmente em grandes cidades. Ou seja, se o resultado for comparado
com o das eleições municipais anteriores, fica claro que o PT e os
demais partidos que apóiam o governo cativaram milhões de novos eleitores pelo país afora.
A responsabilidade agora é
muito grande. Obviamente, esses
votos não vieram para os governistas por causa da estilosa barba
grisalha do presidente Lula. Vieram pela razão de sempre, a que
normalmente decide eleições
aqui, nos Estados Unidos ou em
qualquer outro país: a economia.
Lula, o PT e seus aliados estariam chorando hoje uma fragorosa derrota eleitoral se a economia
tivesse seguido em 2004 o mesmo
ritmo de 2003, quando houve recessão e desemprego. Talvez mais
por sorte do que por empenho
dos condutores da política econômica, as eleições se dão num momento de alta na ciclotímica economia brasileira.
Como vem ocorrendo sistematicamente nos últimos 20 anos,
houve uma redução da demanda
interna, fez-se um ajuste cambial
(desvalorização do real) e isso estimulou fortemente as exportações, também beneficiadas pelo
aumento dos preços das commodities agrícolas, gerando superávits suficientes para equilibrar as
contas externas. Esse processo
reativou a demanda interna, fez
crescer a produção, o emprego e a
renda.
Chegamos às eleições exatamente nesse ponto do ciclo, num
momento em que muitas empresas começam a sentir o crescimento da demanda local. Se a tendência continuar, as empresas rapidamente desviarão para o mercado interno produtos que eram
exportados anteriormente. Isso
reduzirá o superávit externo, o
que levará o governo a promover
novos ajustes para conter a demanda e com isso brecar o crescimento da produção e do emprego
-a alta de juros determinada há
duas semanas pelo Banco Central
já é o início desse processo. A economia terá então realizado o que
os economistas chamam de "vôo
de galinha".
A lição das urnas indica que não
será prudente deixar isso ocorrer.
Os milhões de votos cativados sugerem que o eleitor deseja que o
atual processo de expansão econômica desencadeie um ciclo de
desenvolvimento. Isso é perfeitamente possível e a chave da questão é o investimento. A partir de
agora, corações e mentes deveriam se fixar na tarefa de estimular os investimentos públicos e
privados para melhorar a infra-estrutura do país e para aumentar
a produção interna. O objetivo é
claro: criar condições para que o
volume de exportações seja mantido e, ao mesmo tempo, as empresas tenham condições de atender à demanda interna.
A massa de votos governistas
embute uma demonstração de
apoio e um recado. De um lado,
mostra que o eleitor entendeu o
sacrifício a que foi submetido no
ano passado, quando a economia
esteve em recessão e a renda per
capita caiu 1,5% -ou seja, aceitou o argumento de que era necessário arrumar a casa no início
de governo. De outro lado, revela
que o eleitor espera a continuidade do crescimento da produção e
do emprego. Esquecer essa lição
pode custar caro em 2006.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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