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Caso Nestlé-Garoto favorece clima conturbado e deve ser decidido hoje
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo avalia que a não-conclusão do caso Nestlé-Garoto
na última sessão do "antigo" Cade
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) favoreceu o clima conturbado que se instalou no
conselho. O caso deve ser decidido hoje.
Naquela sessão, a expectativa
era que o Cade, sob a presidência
de João Grandino Rodas, pusesse
um ponto final no controvertido
processo envolvendo a empresa
de chocolates brasileira e a multinacional suíça.
A data, 14 de julho, era decisiva
porque na semana seguinte o Cade passaria a ter outra formação.
Quatro das sete cadeiras do conselho seriam renovadas, inclusive
a do então presidente.
O julgamento, no entanto, foi
suspenso porque o conselheiro
Luiz Alberto Scaloppe pediu vistas do processo. Na prática, isso
jogou a responsabilidade de decidir o caso para o "novo" Cade.
"Falam que eu atravanquei o processo. Não é verdade. Os demais
conselheiros podiam ter votado.
Não votaram porque não quiseram", defende-se Scaloppe.
No dia do julgamento, antes do
início da votação, o subprocurador-geral Moacir Guimarães solicitou ao plenário do Cade que se
manifestasse sobre quem seria o
decano na autarquia. A solicitação foi feita a pedido de Scaloppe.
O decano é uma espécie de vice-presidente que, em situações de
impedimento do presidente, comanda as votações e detém o voto
de minerva.
Diante da questão inusitada
apresentada pelo subprocurador-geral, os então conselheiros votaram em Scaloppe para o ocupar a
vaga de decano. Uma vez vice-presidente e pedindo vistas do
processo, o conselheiro comandaria o julgamento da Nestlé e, se
houvesse empate, poderia decidir
o futuro da Garoto.
A nova presidente Elizabeth Farina está impedida de atuar nesse
processo porque foi contratada
pela multinacional suíça, quando
não presidia o Cade, para emitir
um parecer técnico sobre a fusão.
Desde a última sessão do "antigo" Cade, a temperatura na autarquia tem registrado constantes
elevações. A questão da antigüidade foi parar na Justiça.
Embora o conselho tenha decidido garantir a Scaloppe o decanato, na gestão Farina, o plenário
voltou a debater o assunto, retirando-lhe do posto.
O Ministério Público Federal,
representado por Guimarães, recorreu ao STJ (Superior Tribunal
de Justiça) e obteve uma liminar
favorável a Scaloppe. O TRF (Tribunal Regional Federal) 1ª Região
suspendeu os efeitos da liminar.
A decisão foi tomada depois de
uma reunião entre seu presidente,
Aloisio Palmeira, a presidente Farina e a procuradora-geral do Cade, Maria Paula Dallari.
"Essa reunião não é um procedimento comum. Houve pressão", acusa Guimarães.
Farina afirma que o procedimento é regular. Tinha o objetivo
de explicar ao presidente do TRF
um problema administrativo do
Cade.
"O conselho não tem tradição
longa. É preciso explicar as coisas
e fazer uma aproximação com outras instituições", declara.
Com a suspensão da liminar, o
atual decano é o conselheiro Roberto Pfeiffer. Mas o Ministério
Público já entrou com recurso no
STJ contra a decisão.
A Nestlé comprou a Garoto em
2002. Em fevereiro deste ano, o
Cade determinou que a multinacional vendesse a empresa brasileira por causa da alta concentração de mercado. Juntas, Nestlé e
Garoto detêm mais da metade do
mercado total de chocolates, segundo dados fornecidos pelos fabricantes à Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico),
referentes a 2001.
A empresa entrou com recurso,
oferecendo a venda de 10% do
mercado que as duas mantêm
conjuntamente.
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