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Cúpula retomará acordo UE-Mercosul
Encontro amanhã na Suécia dará impulso político necessário para retomada das negociações para acordo de livre comércio
Entendimento ganha força com o fracasso da Rodada Doha e um novo mandato de Durão Barroso à frente
do "braço executivo" da UE
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO
A cúpula União Europeia-Brasil, a realizar-se amanhã em
Estocolmo, dará o impulso político necessário para a retomada das negociações entre o conglomerado europeu e o Mercosul, com vistas ao estabelecimento do que seria a maior zona de livre comércio do planeta,
envolvendo os dois blocos.
Essa é, pelo menos, a expectativa tanto da diplomacia brasileira como do presidente da
Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso. O esboço do comunicado
final elaborado pelos europeus
diz, literalmente:
"Os dois lados concordam
em intensificar o trabalho rumo a uma possível retomada
das negociações com vistas a
concluir um ambicioso e equilibrado acordo de associação
União Europeia/Mercosul".
O impulso político, se tudo
der certo, permitiria relançar
as negociações numa cúpula
mais ampla, entre União Europeia e América Latina-Caribe, a
realizar-se no primeiro semestre do ano que vem, pondo fim a
um estancamento que já dura
cinco anos.
Para que seja possível reiniciar a discussão, diplomatas de
ambas as partes trabalham com
a ideia de que os números das
respectivas concessões comerciais -que é o ponto em que a
negociação bate no muro- deveriam ser deixados em segundo plano para focar o debate na
moldura mais ampla de acordo
estratégico que não é apenas
econômico-comercial mas
também político.
Há pelo menos três razões
para um relativo otimismo
quanto à hipótese de que comecem a ser superados os obstáculos que paralisaram as negociações. A saber:
1 - Durão Barroso acaba de
ser reconduzido à presidência
da Comissão Europeia, o "braço" executivo do conglomerado
de 27 países. Está, portanto,
anabolizado, e é um entusiasta
do acordo.
Foi ele quem deu o maior impulso para a parceria estratégica entre o Brasil e a UE, lançada
faz dois anos e meio.
2 - A Espanha assume, no dia
1º de janeiro, a presidência de
turno da União Europeia, com
sua tradicional vocação para
tentar servir de ponte entre europeus e latino-americanos. É
natural que pretenda transformar a cúpula UE/América Latina-Caribe, da qual será a sede,
no momento de relançamento
das negociações com o Mercosul. Ainda mais que é o ano em
que se comemora o bicentenário da independência de países
latino-americanos.
3 - O ponto principal é, no entanto, econômico-comercial: a
negociação entalou sempre na
resistência europeia a reduzir
seus subsídios agrícolas, a
maior queixa do Mercosul. Havia, de parte a parte, a sensação
de que a questão dos subsídios
só poderia ser resolvida no âmbito multilateral, ou seja, na
Rodada Doha de liberalização
comercial.
Revés de Doha
Acontece que Doha também
caiu no pântano do impasse, o
que leva a diplomacia brasileira, por exemplo, a desejar de
novo um acordo regional com
os europeus.
A cúpula de Estocolmo coincide de todo modo com uma
nova tentativa, no âmbito ministerial, de ressuscitar Doha.
Por isso, o rascunho de comunicado final condiciona o esforço para relançar as negociações
UE/Mercosul ao andamento da
rodada multilateral, sobre o
qual, no entanto, há pouco otimismo até agora em Genebra.
O contraponto para o cauteloso otimismo é o fato de que o
Mercosul está em estado semi-letárgico há algum tempo. Não
consegue nem mesmo acertar a
solução de um ponto no qual os
europeus insistem: a eliminação da dupla cobrança de tarifa
de importação.
Hoje, um produto que entre
no Brasil, por exemplo, e seja
depois reexportado, paga duas
vezes a tarifa.
Já entre os europeus e o Brasil houve, durante o ano transcorrido desde a cúpula anterior
em Brasília, alguns pequenos
avanços em diferentes áreas,
inclusive na comercial.
Exemplo: como compensação pelo ingresso de Bulgária e
Romênia na UE, o Brasil conseguiu um acordo que, na prática,
lhe dá direito a uma cota adicional de açúcar para o mercado
europeu da ordem de meio milhão de toneladas.
A cúpula de amanhã também
lançará uma iniciativa conjunta para produção de etanol na
África. O Brasil entra com sua
tecnologia para ajudar a produzir o combustível alternativo
na África, e a Europa fornece o
mercado para ele.
Além de ser um projeto pelo
qual o presidente Lula tem o
maior carinho, trata-se de um
passo adicional para a pretensão brasileira de que o etanol
ganhe o tratamento de commodity negociável internacionalmente.
Como em toda reunião entre
chefes de governo, a cúpula de
Estocolmo é uma obra em
aberto, na qual cada parte pode
introduzir o tema que quiser,
mesmo que não esteja no comunicado já negociado pelos
diplomatas.
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