São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Folhainvest

Cresce procura por título de longo prazo

Papéis do Tesouro Direto com prazo acima de 5 anos já respondem por 35,1% do total negociado, ante 18% em 2005

Mercado projeta juro acima de 10% no começo de 2011; retomada do aquecimento e risco de inflação elevam chances de aumento da taxa

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Neste semestre tem se intensificado o aumento da participação dos títulos públicos com prazos de negociação mais longos nas operação feitas no Tesouro Direto. Em um momento em que os juros básicos estão em seu piso histórico e a expectativa é a de aumento das taxas em um futuro não muito distante, muitos investidores têm aceitado comprar títulos que demorem mais para vencer, mas que ofereçam retornos mais substanciais.
A participação dos papéis do governo com prazo de resgate acima de cinco anos subiu de 18% do total em 2005 para 35,1% neste ano. Em 2008, representavam 30,6%. No mês de agosto, os títulos com vencimento acima de cinco anos foram responsáveis por 46,8% das vendas do Tesouro Direto.
A taxa básica Selic está em 8,75% anuais, o menor nível desde a criação do Copom (Comitê de Política Monetária) em 1996. Até há analistas que contam com mais uma redução, de 0,25 ponto, na taxa até o fim deste ano. Mas, com os sinais crescentes de recuperação da economia e o consequente risco de pressão inflacionária, o mercado projeta juros maiores a partir de 2010.
Em tese, se alguém comprasse um título prefixado do governo agora, com vencimento em 12 meses, receberia a atual Selic, ou seja, uma taxa de 8,75% ao ano. Se uma pessoa se dispusesse a comprar um título com prazos de vencimento maiores, teria a chance de conseguir juros mais interessantes.
O contratempo é que, para a pessoa obter a taxa oferecida pelo título, terá de ficar com ele até o seu vencimento. Se vender antes, acabará por perder parte da rentabilidade.
Quem comprasse na semana passada uma LTN (Letra do Tesouro Nacional, titulo prefixado) com vencimento em julho de 2010 receberia taxa de 9,22% ao ano. Já quem se dispusesse a adquirir uma LTN com prazo de vencimento em janeiro de 2012 conseguiria taxa de 11,46% ao ano.

Ressalva
Mas o investidor que aceita comprar um título com prazos de resgates mais longos deve saber que mudanças bruscas no cenário econômico, que tragam surpresas nas decisões do Copom sobre os juros e alterem as projeções para as taxas no mercado futuro, podem trazer ajustes aos retornos oferecidos pelos títulos públicos.
No pregão da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), os contratos que mostram as projeções para as taxas apontam elevação dos juros nos próximos semestres, além de pouca chance de a Selic baixar mais.
No contrato futuro que vence na virada do ano, a taxa projetada está em 8,68%, muito próxima da Selic vigente. O contrato com resgate em julho de 2010 aponta taxa de 9,25%. E, para julho de 2011, os juros projetados estão em 11,13%.
"As taxas estão dadas. O mercado já opera com um nível mais elevado da Selic no ano que vem. Há a expectativa em relação ao aquecimento econômico e os riscos de alta da inflação, que devem levar a Selic a aumentar no futuro", afirma Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper.
O Copom elevou a taxa básica pela última vez em setembro de 2008. Neste ano, a taxa saiu de 13,75% em janeiro para os atuais 8,75% ao ano.
A última pesquisa Focus, realizada pelo BC com cem instituições financeiras, mostrou que a previsão dos analistas é que a Selic esteja em 9,50% no fim de 2010.
Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, com a economia voltando a crescer, "é natural um aumento dos juros". "Vamos ter necessidade de juros maiores que os praticados hoje, mas não acredito que vejamos uma elevação considerável da taxa. Não penso que elas voltem aos níveis praticados um ano atrás."
Com a esperada alta dos juros, os fundos de renda fixa devem aos poucos recuperar atratividade em relação à poupança. A queda da Selic fez a poupança passar a ter retorno maior que o de muitos fundos.


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