São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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PESQUISA

Segundo o Datafolha, 62% dos ouvidos nos aeroportos do Rio e de SP temem efeito sobre preço e qualidade

Passageiro rejeita idéia de fusão aérea

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Para cada grupo de quatro passageiros com opinião formada, três condenam a idéia de uma eventual fusão entre companhias aéreas brasileiras. Ouvidos pelo Datafolha, dizem temer que, com uma maior concentração no setor, suba o preço das passagens e caia a qualidade dos serviços.
A pesquisa, feita nos aeroportos do Rio e de São Paulo, também revela que 63% dos entrevistados estariam de acordo com a entrada de companhias aéreas estrangeiras no mercado doméstico.
De um modo geral, os passageiros não estão descontentes com as companhias que hoje utilizam em rotas internas. Elas são ótimas ou boas em 72% das respostas, contra ruins ou péssimas em somente 3% de outras.
Mas, ao mesmo tempo, 79% acreditam que as passagens são caras. Apenas 18% acham que elas têm um preço "adequado", enquanto são estatisticamente irrelevantes -próximos a zero- os que as consideram baratas.
O Datafolha ouviu 528 passageiros, entre sexta e sábado da semana passada, nos aeroportos de Congonhas, Cumbica, Galeão e Santos Dumont. A margem de erro da pesquisa é de 6 pontos para mais ou para menos.
É uma margem incomparavelmente menor que a diferença registrada entre os que se opõe à fusão de companhias (62%) e aqueles, menos numerosos, que se declararam favoráveis a essa fórmula de reestruturação (21%) no setor de transporte aéreo.
Para 46% dos entrevistados a fusão só traria desvantagens, contra 6% dos que acreditam que a idéia só teria consequências positivas e vantajosas.
As respostas dos adversários de uma possível fusão trazem como pano de fundo a defesa de uma maior concorrência para assegurar serviços mais baratos e melhores. Citam como desvantagens, por ordem decrescente, o aumento das passagens (22%), uma falta de opções tarifárias (21%), a concentração do poder empresarial (15%) e um número menor de empresas para viajar.
Só 6% dos passageiros acreditam que uma única empresa deveria operar no Brasil as linhas domésticas. São 23% os que acreditam que elas deveriam ser duas. As opções seguintes -três, quatro ou cinco companhias- totalizam 40%, embora registrem, cada uma, porcentagens individualmente menores.
O contingente de adversários de uma fusão cresce entre passageiros que viajam de avião com maior frequência. Eles são 69% quando fazem vôos domésticos ao menos uma vez por mês, mas 60% quando o fazem ao menos só uma vez por ano.

Desregulamentação
Outro dado curioso: passageiros entrevistados no Rio e em São Paulo apresentam exatamente o mesmo resultado, com 62% se opondo à fusão de companhias aéreas. Essa opinião não sofre oscilações significativas quando se leva em conta o sexo, a escolaridade ou a renda familiar mensal do entrevistado pelo Datafolha.
A pesquisa também procurou medir a reação dos passageiros à liberação das tarifas aéreas, sem que elas dependam de autorização oficial do DAC (Departamento de Aviação Civil). São 60% os que apoiam a idéia, e 33% os que a condenam. Prevalece a sensação (82%) de que a concorrência forçaria uma queda das tarifas.
É com base nessa mesma lógica concorrencial que uma maioria de passageiros disse concordar com a autorização para que companhias estrangeiras operem no mercado aéreo nacional. São 29% os que se opõem a essa abertura.

Empresas estrangeiras
A correlação entre concorrência estrangeira e tarifas menores é apontada como consequência mais vantajosa por 48% dos entrevistados, seguidos de 14% que vêem, como maior vantagem, a melhoria na qualidade dos serviços e de 11% que acreditam que teriam maiores opções de rotas e vôos entre aeroportos nacionais.
Entre os que se opõem à abertura do mercado, a consequência negativa mais apontada seria a quebra das companhias que hoje atuam no setor (14%), seguida, em empate técnico, da menção ao aumento do desemprego, à desigualdade entre concorrentes nacionais e estrangeiros, aos lucros que as estrangeiras repatriariam e à necessidade de valorizar companhias nacionais.


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