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OPINIÃO ECONÔMICA
Reforma tributária: o projeto Mussa é melhor
MAILSON DA NÓBREGA
Há muitas semelhanças entre o
projeto de reforma tributária defendido pelo secretário da Receita
Federal, Everardo Maciel, e o
apresentado pelo deputado Mussa Demes.
Ambos propõem um novo Imposto sobre o Valor Agregado,
IVA, para substituir as atuais incidências sobre o consumo: IPI,
ICMS, ISS, Cofins e Pis, as duas
últimas em cascata.
Ambos sugerem a tributação no
destino, o que facilitaria a desoneração do IVA nas exportações,
aumentando a competitividade
das empresas brasileiras.
Ambos propõem um Imposto
sobre Vendas a Varejo cobrado
pelos municípios.
Em suma, ambos desejam um
sistema tributário moderno, já
que o atual se tornou inviável. O
ICMS virou um tributo nocivo à
economia, com 27 regimes distintos, que geram custos desnecessários e estimulam a sonegação e a
corrupção.
O problema está nas diferenças.
O projeto Everardo prevê um IVA
único, arrecadado pela União e
repartido automaticamente com
os Estados e municípios.
O projeto Mussa prevê a partilha da base do IVA entre a União
e os Estados. Os Estados arrecadariam nas transações dentro de
seu território e a União nas transações interestaduais.
O projeto Everardo prevê impostos seletivos cobrados pelos Estados sobre telecomunicações,
energia elétrica, automóveis, fumo e bebidas. O projeto Mussa
propõe alíquotas diferenciadas
do IVA para esses mesmos casos.
Quando o projeto Everardo foi
apresentado no final de 1996, o
defendi mais de uma vez nesta coluna. O debate veio mostrar, todavia, que, embora tecnicamente
competente, o projeto não passou
no teste da negociação no eixo federativo. Além disso, seria inconveniente atribuir aos Estados impostos seletivos sobre serviços essenciais como telecomunicações e
energia elétrica.
O então secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Pedro
Parente, que negociou o projeto
com os Estados, aceitou que o
IVA fosse arrecadado na esfera
estadual e repartido com a União
e os municípios. O imposto seletivo seria cobrado pela União e distribuído aos Estados.
O projeto Everardo voltou à estaca zero e piorou. Incluiu a
transformação da CPMF em imposto permanente, IMF, uma
maluquice que público mal informado aceita porque acha que o
tributo é justo, uma vez que todos
pagariam, incluindo os atuais sonegadores.
A Receita diz que o IMF seria
devolvido, pois deseja apenas obter informações dos sonegadores.
Parlamentares influentes se entusiasmaram com a explicação. Para surpresa de muitos, o ministro
da Fazenda, conhecido por seu
robusto conhecimento de macroeconomia e do sistema financeiro, passou também a defender
o monstrengo.
Os partidários do IMF não se
dão conta de que, mesmo sendo
devolvido, o estrupício terá um
efeito devastador sobre o mercado de capitais, inibindo uma das
maiores revoluções em curso no
país, que poderá criar formas
mais amplas e baratas de financiamento da economia.
Mussa não acolheu a esdrúxula
idéia, apesar das pressões que recebeu de seu próprio partido, o
PFL, cujos caciques acham o IMF
uma maravilha (por sinal a mesma sigla, em inglês, do Fundo
Monetário Internacional).
Somente por essa atitude, o projeto Mussa merece ser considerado melhor. Seu ponto alto é, todavia, a partilha da base de cálculo
do IVA entre a União e os Estados. É o que se adapta melhor ao
federalismo brasileiro e assim tem
maiores chances políticas.
Cabe lembrar, a propósito, que
o atual ICMS pertence aos Estados e representa mais de 90% de
sua receita própria. Transferir
sua competência para o governo
federal, nos moldes de federações
como a alemã, pode fazer lógica
técnica, mas tem pouco sentido
político e nenhuma aderência à
nossa realidade.
O projeto Mussa, tal qual o de
Everardo, assegura a uniformidade do IVA. Suas normas básicas e
alíquotas seriam fixadas em nível
federal, eliminando os 27 regimes
do ICMS. A existência de alíquotas da União e dos Estados não seria o complicador que alguns
pensam.
O projeto Mussa preserva certo
grau de autonomia estadual.
Mantém a parcela dos Estados
sob sua administração e permite
variações de até 20% da alíquota
nas operações realizadas no seu
território. O projeto Everardo é
mais centralista.
Apesar de melhor, o projeto tem
pontos que precisam ser debatidos, tais como a imunidade nas
passagens aéreas, a ampliação
dos incentivos fiscais da Zona
Franca de Manaus, a vinculação
de recursos para obras rodoviárias, a reinstituição do imposto
único sobre combustíveis (um retrocesso) e a inexplicável partilha
de 15% do imposto de importação
em favor dos Estados e municípios.
Mais e mais fica claro que a reforma não sairá se o governo federal, por meio do presidente ou
do ministro da Fazenda, não assumir a liderança na sua condução.
Mailson da Nóbrega, 57, ex-ministro da Fazenda (governo José Sarney), sócio da Tendências Consultoria Integrada, escreve às
sextas-feiras nesta coluna.
E-mail: mailson@palavra.inf.br
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