|
Texto Anterior | Índice
EMPRESAS
Sexto homem mais rico do mundo investe no Brasil e afirma que apoio governamental é importante
Michael Dell defende incentivo fiscal
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
Os incentivos fiscais oferecidos
pelo governo do Rio Grande do
Sul foram um dos fatores que
atraíram a Dell, maior empresa
do mundo de venda direta de
computadores, para investir no
Brasil. Foi o que disse ontem o
empresário Michael Dell, presidente da empresa, em entrevista
exclusiva à Folha.
Dell, 34, casado, pai de quatro filhos, é o sexto homem mais rico
do mundo, segundo a revista
"Forbes", com uma fortuna pessoal de US$ 16,5 bilhões. Na quarta-feira, ele participou da inauguração da fábrica da Dell em Eldorado do Sul (na Grande Porto Alegre). Leia a seguir os principais
trechos da entrevista concedida
ontem em São Paulo.
Folha - O fato de a Dell chegar
ao mercado brasileiro depois de
seus principais concorrentes pode prejudicar seus negócios?
Michael Dell - O mercado de
PCs ainda está em seus primeiros
estágios de desenvolvimento
aqui. O mercado é razoavelmente
grande, está crescendo rapidamente e vai crescer nos próximos
15 a 20 anos. Temos tido um crescimento gradual. Tentamos chegar na hora certa.
Folha - Qual a importância dos
incentivos governamentais para
a sua decisão?
Dell - Claro, é um fator em nosso processo de decisão. Queremos
ter um ambiente que nos apóie
em termos de negócios, infra-estrutura, pessoal. Encontramos
um ambiente muito forte em Porto Alegre para apoiar nossas necessidades. Foi tudo muito bem.
Folha - O que os incentivos representam em relação ao total
do investimento previsto?
Dell - Não divulgamos números
(o Estado do Rio Grande do Sul
deve apoiar a empresa com R$ 20
milhões, originados de um fundo
de incentivo ao desenvolvimento
tecnológico).
Folha - E quais são suas expectativas em relação ao desempenho da Dell no Brasil?
Dell - Nós somos a número 5 do
mercado latino-americano hoje e
acho que temos a oportunidade
de ganhar uma fatia significativa
do mercado.
Folha - O sistema de venda direta de PCs não é ainda muito
usado no Brasil. A Dell pretende
modificar sua estratégia para
atrair os usuários domésticos?
Dell - Se você analisar o mercado norte-americano, nós somos o
número 1 no mercado corporativo, mas no mercado doméstico
somos o número 4. Éramos o sétimo no ano passado. Não pensamos que seja necessário ter um
modelo diferente para atrair o
consumidor doméstico.
Folha - Os seus preços também mostram que a empresa
não tenta atingir, pelo menos
já, o usuário doméstico.
Dell - Se você examinar uma faixa de preço específico, a Dell vai
estar oferecendo mais performance e mais recursos pelo mesmo preço. Nós não pretendemos
ter o preço mais baixo, pretendemos oferecer o maior valor.
Folha - Nesse momento, duas
grandes empresas norte-americanas, MCI e AES, estão em contencioso com as autoridades no
Brasil. Esta seria uma má hora
para as empresas americanas?
Dell - Não parece ser uma época
ruim para nós. Tive a oportunidade de conversar com o presidente
Fernando Henrique Cardoso há
uns dois anos e meio, na Suíça, e
nós encontramos forte apoio do
governo para empresas como a
nossa. Particularmente, em Porto
Alegre, há um entendimento na
comunidade de que isso é um
passo positivo em termos de trabalho, oportunidades. Quando as
pessoas da comunidade querem,
os políticos geralmente apóiam.
Folha - O fato de o Rio Grande
do Sul ser hoje governado pela
oposição não interfere?
Dell - Eu me encontrei com o
governador do Estado (Olívio
Dutra, do PT), ontem (anteontem), e tudo está indo muito bem.
Temos tido um bom apoio, apesar dessa mudança no governo local (o acordo com a Dell foi negociado durante o governo de Antonio Britto, do PMDB).
Folha - Outro fator importante
para sua instalação no Brasil foi
o interesse em atuar no Mercosul. Há dois anos, parecia ser
realmente uma opção interessante, mas hoje está praticamente inviabilizado...
Dell - Nós estamos em um setor
que muda muito rapidamente.
Portanto, mudanças não são algo
que nos surpreenda, nós trabalhamos com mudanças todo o
tempo. O Brasil é claramente o
principal mercado na região, e
nossa intenção é usar o país como
base para exportar para os outros
mercados. Sempre que há movimentos atrasados, no sentido de
aumentar as dificuldades de comércio entre os países, nós não
gostamos disso, nós achamos que
é ruim para nosso negócio. Não
pretendo passar uma mensagem
política, mas o que acredito é que
o livre comércio é uma boa coisa.
Folha - Passando para a área
tecnológica, qual a sua visão da
Internet?
Dell - O que temos hoje é cerca
de 5% do que teremos em cinco
anos. A digitalização da informação e a colaboração entre as empresas possibilitada pela Internet
é sensacional para os negócios.
Folha - Quais são os fatores
mais importantes para iniciar
uma empresa na Internet?
Dell - Alguém poderia dizer:
"Basta colocar o .com e ter ações
em Bolsa", mas acho que é preciso
mais. Ter algo na Internet não significa necessariamente que você
tem um bom negócio. Você pode
ter uma empresa que avance, melhore, se desenvolva com o uso da
Internet. O objetivo não deve ser
apenas duplicar outras empresas,
mas, sim, tentar fazer algo novo.
Folha - O senhor, como Bill Gates, não terminou a faculdade.
Seria esse um requisito para ter
sucesso?
Dell - Não (risos). Larry Ellison
(presidente da Oracle) não completou a faculdade, mas Charles
Manson (líder do grupo que matou a atriz Sharon Tate) também
não. Esse não necessariamente é o
caminho do sucesso... Mas, veja
bem, quando alguém inicia um
negócio, realmente não importa
qual é sua formação, o que importa é o que ele pode fazer, o que ele
pode conseguir. Nosso sistema é
uma meritocracia, em que as pessoas são avaliadas em função de
suas habilidades, não da idade ou
da escola que cursaram. Tudo depende da capacidade de cada um.
Texto Anterior: Mercado financeiro: Volume da Bovespa ultrapassa R$ 1 bilhão Índice
|