São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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ENERGIA

Para Cerqueira Leite, sistema ainda é o mais barato e de maior disponibilidade

Físico quer retomada de hidrelétricas

DA REDAÇÃO

Retomar a opção hidrelétrica como base do sistema de geração de eletricidade no Brasil, elaborar normas que induzam à prática de conservação de energia, fixar um limite menor de usinas termelétricas que o governo pretende construir e a volta organizada do Proálcool.
São essas algumas das recomendações expostas pelo físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Editorial da Folha, em debate no auditório do jornal no lançamento do livro "Energia para o Brasil - um modelo de sobrevivência", na semana passada. O livro foi escrito por Cerqueira Leite, em parceria com Cylon Gonçalves da Silva, também professor emérito da Unicamp e ex-diretor do Laboratório Nacional de Luz Sincrotron.
Em sua apresentação, Cerqueira Leite argumentou que há dois parâmetros financeiros a serem analisados para definir um modelo energético: o custo da energia e o investimento inicial. "Isso teve grande influência nas decisões recentes do governo. Preferiu o gás natural, cuja energia tem um custo mais elevado, mas os custos de investimentos iniciais são mais baixos."
O físico ponderou também que um terceiro parâmetro na escolha do modelo energético é a disponibilidade de reservas. "Há muita gente que faz uma escolha, e isso foi tradicional no Brasil, sem olhar quais eram as reservas."
Seria esse, segundo ele, seu principal argumento a favor da recomendação da retomada do programa baseado na energia hidrelétrica. "Não só porque temos disponibilidade grande. Mas também porque ainda é a mais barata forma de produção de energia."
A disponibilidade foi um dos entraves evocados pelo físico ao defender que o governo diminua o número de usinas térmicas a gás que pretende construir. "Se não houver outra saída às térmicas a gás, que se estabeleça um limite inferior àquele das famosas 49, 50 usinas, porque não há gás suficiente na Bolívia", afirmou.
O físico defendeu ainda a retomada, "organizada", do Proálcool, investimentos no biodiesel e em energia eólica e biomassa.
Outro dos debatedores, João Guilherme Ometo, presidente do Sindicato dos Fabricantes de Álcool de São Paulo, lembrou que, segundo os autores do livro, na última década, os países em desenvolvimento respondiam por 25% do consumo mundial de energia. Em 20 anos, esse percentual irá a 50%. "Para política energética, há anos que não fazemos um planejamento", comentou Ometo.
O físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirmou ser corajosa a postura do professor da Unicamp acerca do uso do gás natural.
"O gás natural virou um tabu, como foi a energia nuclear na década de 70. Ser contra a energia nuclear era ser reacionário. O gás natural foi na década de 90 uma espécie de remédio de camelô, que cura dor de dente, faz nascer cabelo, remove calo. Nós sabemos que o gás natural é interessante, mas limitado também."


Energia para o Brasil - um modelo de sobrevivência
Autores: Rogério Cezar de Cerqueira Leite e Cylon Gonçalves da Silva
Editora: Expressão e Cultura
Quanto: R$ 20




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