São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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Leme defende superávit de 5%; para Scheinkman, reformas bastariam

CHICO SANTOS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade Princeton (EUA), considera que a aprovação de reformas estruturais, como a previdenciária e a tributária, é mais importante para o novo governo do que o aumento do superávit primário (receitas menos despesas, excluído o pagamento de juros).
"Todo novo governo tem uma fase de lua-de-mel, que tem de aproveitar para passar no Congresso reformas importantes", disse o economista, que participou ontem, no Rio, do seminário "Reavaliação do Risco Brasil", promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Paulo Leme, diretor-gerente da corretora Goldman Sachs & Co., disse que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva deve aumentar a meta de superávit primário em 2003 dos atuais 3,75% do PIB, previstos no acordo com o FMI, para 5%. Na avaliação de Leme, o aumento do superávit precisa ser explicitado logo, na reunião com a missão do FMI que chega ao Brasil no próximo dia 11.
Leme disse que todo o superávit adicional deve ser obtido com corte de gastos, mas admitiu que a cobrança de contribuição previdenciária dos inativos do setor público, pode ser uma das alternativas para alcançar o ajuste. Para Leme, o maior superávit não é incompatível com o programa de combate à fome de Lula.
Indagado sobre qual seria o maior erro que o próximo governo poderia cometer no início da gestão, Leme disse que "seria tentar compensar um crescimento menor com a presença do Estado [na economia]".
Embora não tenha havido debate entre os participantes do seminário, Scheinkman deixou claro, em sua palestra, que não considera o aumento do superávit prioritário. "Esse novo governo está comprometido com um superávit de 3,75%, o que é muito importante. Mas mais importante são as reformas", disse.
Em sua opinião, mudanças no sistema de impostos e na Previdência serão capazes de reduzir a informalidade e aumentar a produtividade, o que levaria a um ciclo de crescimento.
Scheinkman advertiu que o novo governo não pode abandonar as metas de disciplina fiscal nem renegociar a dívida dos Estados. "É o mais perigoso que o governo poderia fazer no momento. Começou, acabou."
Em oposição à maioria dos analistas, Scheinkman colocou em segundo plano a escolha dos nomes da equipe econômica: "Mais importante do que a equipe é a definição das políticas econômicas que vão ser o foco do governo".
O economista de Princeton avaliou que a equipe de transição de Lula ainda não deu muitos sinais sobre a política econômica que adotará. Disse, porém, ter gostado do programa contra a fome.
Scheinkman, que colaborou com o candidato derrotado Ciro Gomes (PPS), disse não ter sido convidado para integrar o governo Lula e considerou a possibilidade "bastante longínqua".
A presença do economista Guido Mantega, assessor de Lula, estava prevista no seminário, mas ele não compareceu. Não havia representantes do PT.


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