São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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Segundo relatório do BC, mercado espera inflação em alta em 2003

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A primeira pesquisa do BC sobre expectativas de mercado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda aponta um 2003 muito semelhante a este ano e ao ano passado: economia perto da estagnação, inflação em alta e elevação forçada do saldo comercial.
O levantamento semanal, concluído na sexta-feira passada, mostra um aprofundamento dessas tendências. As previsões dos bancos não chegaram a captar a melhora de humor verificada desde a semana passada.
No ponto médio das apostas do mercado, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) esperado no primeiro ano do mandato de Lula caiu de 2,1% para 2%. No Orçamento de 2003 e no acordo com o Fundo Monetário Internacional, trabalha-se com uma taxa de 3% que, frustrada, torna mais difícil o cumprimento das metas fiscais do novo governo.
Sem a expansão esperada na atividade, a arrecadação de impostos e contribuições tende a ficar abaixo do previsto. De outro lado, a proporção da dívida pública em relação ao PIB, principal indicador da solvência, tende a crescer.
Esses riscos têm sido mencionados tanto pelo atual como pelo futuro governo como argumentos para desaconselhar um aperto adicional nas contas públicas como, imagina-se, o FMI deverá cobrar. Por esse raciocínio, cortes de gastos e/ou aumento de impostos só deprimiriam ainda mais a economia, agravando, em vez de reduzir, o déficit orçamentário.
Não por acaso, o mercado reforça a aposta num ajuste dos menos ortodoxos -pela inflação. As previsões para o IPCA passaram de 7,1% para 8,2% em 2003, apesar de a meta do BC, oficialmente, ser uma taxa de 4% e, extra-oficialmente, de 6%.
A inflação maior pode cumprir o objetivo de elevar o valor em reais da receita tributária e do PIB, o que ajudaria o governo a fechar suas contas sem sacrifícios adicionais.
Aparentemente, não se acredita num endurecimento da política monetária destinado a segurar a alta de preços nos limites estabelecidos. Além do efeito recessivo, tal política poderia levar a dívida pública para perto do impagável.
Manteve-se inalterada, na semana passada, a expectativa para os juros do BC ao final do próximo ano: 17% anuais, uma taxa ainda entre as mais altas do mundo, mas abaixo dos atuais 21%.
Aliada à alta do dólar, a retração da economia, do consumo, dos investimentos e, consequentemente, das importações deve produzir mais um expressivo superávit comercial em 2003, cuja projeção passou de US$ 13 bilhões para US$ 15 bilhões.
Assim como os US$ 11,3 bilhões esperados para este ano, porém, o saldo não será resultado de uma política econômica voltada para o crescimento das exportações e a redução da dependência do país em relação ao capital externo.
Trata-se, muito mais, de um ajuste forçado pelo mercado em razão da escassez de investimentos estrangeiros causada pela crise global. A recente onda de otimismo pós-eleições, se persistir, deve produzir previsões mais favoráveis, mas os limites continuarão sendo dados pela situação econômica internacional.


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