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Segundo relatório do BC, mercado
espera inflação em alta em 2003
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A primeira pesquisa do BC sobre expectativas de mercado após
a eleição de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) ainda aponta um 2003
muito semelhante a este ano e ao
ano passado: economia perto da
estagnação, inflação em alta e elevação forçada do saldo comercial.
O levantamento semanal, concluído na sexta-feira passada,
mostra um aprofundamento dessas tendências. As previsões dos
bancos não chegaram a captar a
melhora de humor verificada desde a semana passada.
No ponto médio das apostas do
mercado, o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) esperado no primeiro ano do mandato
de Lula caiu de 2,1% para 2%. No
Orçamento de 2003 e no acordo
com o Fundo Monetário Internacional, trabalha-se com uma taxa
de 3% que, frustrada, torna mais
difícil o cumprimento das metas
fiscais do novo governo.
Sem a expansão esperada na atividade, a arrecadação de impostos e contribuições tende a ficar
abaixo do previsto. De outro lado,
a proporção da dívida pública em
relação ao PIB, principal indicador da solvência, tende a crescer.
Esses riscos têm sido mencionados tanto pelo atual como pelo futuro governo como argumentos
para desaconselhar um aperto
adicional nas contas públicas como, imagina-se, o FMI deverá cobrar. Por esse raciocínio, cortes de
gastos e/ou aumento de impostos
só deprimiriam ainda mais a economia, agravando, em vez de reduzir, o déficit orçamentário.
Não por acaso, o mercado reforça a aposta num ajuste dos menos
ortodoxos -pela inflação. As
previsões para o IPCA passaram
de 7,1% para 8,2% em 2003, apesar de a meta do BC, oficialmente,
ser uma taxa de 4% e, extra-oficialmente, de 6%.
A inflação maior pode cumprir
o objetivo de elevar o valor em
reais da receita tributária e do PIB,
o que ajudaria o governo a fechar
suas contas sem sacrifícios adicionais.
Aparentemente, não se acredita
num endurecimento da política
monetária destinado a segurar a
alta de preços nos limites estabelecidos. Além do efeito recessivo,
tal política poderia levar a dívida
pública para perto do impagável.
Manteve-se inalterada, na semana passada, a expectativa para
os juros do BC ao final do próximo ano: 17% anuais, uma taxa
ainda entre as mais altas do mundo, mas abaixo dos atuais 21%.
Aliada à alta do dólar, a retração
da economia, do consumo, dos
investimentos e, consequentemente, das importações deve produzir mais um expressivo superávit comercial em 2003, cuja projeção passou de US$ 13 bilhões para
US$ 15 bilhões.
Assim como os US$ 11,3 bilhões
esperados para este ano, porém, o
saldo não será resultado de uma
política econômica voltada para o
crescimento das exportações e a
redução da dependência do país
em relação ao capital externo.
Trata-se, muito mais, de um
ajuste forçado pelo mercado em
razão da escassez de investimentos estrangeiros causada pela crise
global. A recente onda de otimismo pós-eleições, se persistir, deve
produzir previsões mais favoráveis, mas os limites continuarão
sendo dados pela situação econômica internacional.
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