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Sob Lula, inflação sobe menos para pobres
Custo de bens e serviços para famílias que ganham menos subiu cerca de 24% desde 2003, contra 29% para as que têm rendimento maior
Apreciação do real a partir de 2004 conteve preço dos alimentos, que consomem quase 30% do salário da população de baixa renda
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante o primeiro mandato
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, a inflação enfrentada
pelas famílias de baixa renda
foi menor do que a inflação dos
mais ricos. Os bens e serviços
que pesam mais no orçamento
das famílias que ganham até
R$ 600 subiram cerca de 24%
de 2003 até setembro de 2006.
No mesmo período, a cesta de
consumo dos que ganham mais
de R$ 6.000 subiu 29%.
A inflação sob controle e o
seu impacto no bem-estar das
famílias mais pobres -que não
têm como se defender da alta
de preços por meio de produtos
financeiros- são sempre lembrados pelos membros do Banco Central quando defendem a
política monetária. Algo que
Henrique Meirelles, presidente
do banco, não se cansa de repetir e que deve ser a arma usada
por ele na defesa da manutenção da política econômica no
segundo mandato de Lula.
O desempenho da inflação
nos últimos quatro anos diverge daquele verificado no segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em
2001, a inflação para uma família com renda de até R$ 600
mensais foi de 8,25%. Para os
que ganham mais de R$ 6.000,
a taxa ficou um pouco menor,
em 7,88%. A discrepância aumenta em 2002: 14,3% para o
estrato de renda mais baixo e
11,9% para o mais alto.
O câmbio explica boa parte
da diferença entre os últimos
anos de FHC e o primeiro mandato de Lula. O período de valorização cambial a partir de
2004 ajudou a conter e reduzir
os preços de boa parte dos alimentos que pesam nos gastos
das famílias mais pobres.
Quem ganha até R$ 600 gasta
28% da renda com alimentação, enquanto apenas 11% do
rendimento dos mais ricos é
comprometido com esse gasto.
Entre 2002 e setembro de
2006, os alimentos subiram em
média 7,15%, contra alta de 51%
nos quatro anos do segundo
mandato de FHC.
Desde 2004, ajudou o câmbio
e, lembra Zeina Latif, economista do Unibanco, também o
fato de o país não ter enfrentado crise grave de oferta na agricultura. "A apreciação cambial
ajudou, mas os preços dos produtos não-comercializáveis
[que não podem ser exportados
ou importados] também."
O quadro nos últimos oito
anos, a despeito da aceleração
da inflação no último ano de
FHC, é o mesmo: a inflação para as famílias de mais baixa renda ficou em 74%, enquanto a taxa para os mais ricos fica em
torno de 82%. Vale lembrar
que, do ponto de vista dos tucanos, a inflação de 2002, quando
a alta de preços foi de 12,53%,
foi em parte causada pelo então
futuro presidente Lula, que assustava os mercados, gerava fuga de divisas e causava desvalorização da moeda, alimentando
a inflação. Vale também lembrar o contra-argumento dos
petistas: caso a economia não
estivesse vulnerável do ponto
de vista externo, não haveria
crise de confiança.
Inflação maior
Debate político à parte, o fato
é que as famílias mais pobres
puderam manter o poder de
compra de seus salários, tendência que deve continuar em
2007, com a inflação de ricos e
pobres convergindo para níveis
similares. "A inflação vai ser
um pouco maior no próximo
ano, com o câmbio agora estável, mas nada preocupante", diz
Marcela Prada, da Tendências.
Zeina, do Unibanco, lembra
que, se por um lado o câmbio
não vai mais contribuir para
conter ou baixar os preços dos
alimentos, por outro não há nenhuma grande pressão à vista.
Ela prevê certa estabilidade da
taxa de câmbio em 2007. Cerca
de metade dos alimentos, diz a
economista do Unibanco, não
depende do câmbio, mas das
condições da agricultura interna, o que torna difícil prever o
comportamento dos preços.
Ainda assim, a inflação projetada por ela, de 4% em 2007, seria
benigna do ponto de vista de
manutenção poder de compra.
"Temos uma perspectiva de inflação baixa. O efeito geral é de
preservação do salário real."
"A inflação tem agora uma
variância menor, os preços relativos se distorcem menos.
Hoje o BC tem credibilidade, o
erro de precificação é menor",
diz Tomas Málaga, economista
do Itaú. Quando a taxa de inflação é previsível, fica mais difícil
errar na hora de o trabalhador
tentar recompor o salário.
As taxas de inflação para diferentes classes de renda foram
calculadas pela Folha com base no IPCA e nos gastos de consumo das famílias brasileiras
estimados pela POF (Pesquisa
de Orçamentos Familiares),
ambos publicados pelo IBGE.
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